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A "legitimação"

por João-Afonso Machado, em 30.07.14

MONUMENTO GG.JPG

Ou por distracção política ou por qualquer louvável acto de penitência, a Imprensa, admitiu, recentemente, uma verdade histórica há muito interditada pela vergonha dos cerca de dez milhares de portugueses que a sofreram no corpo. Há cem anos atrás principiava a I Grande Guerra e - já demorava! - comentou-se agora, com desassombro, a nossa intervenção em tal mortandade se deveu, sobretudo, à necessidade da República «se legitimar».

legitimação vale dizer, nessa irresponsável situação, o reconhecimento, pelas grandes potências de então, do nefando Regime, aliás nascido do sangue e do crime, com que a sorte nos quis bafejar. 

Eram anos de muita instabilidade política e militar, o povo descria e desconfiava de Afonso Costa e quejandos, sofria as perseguições à Igreja, já percebera os males da República, e a Grã-Bretanha, por exemplo, podia às vezes dar uma arzinho da sua poderosa graça...

Vai daí a escova que Bernardinos, Costas e Cª quiseram passar no lombo dos Aliados, assim como quem lhes pede indulgência, uma lágrima de compreensão.

A coisa passou. Mesmo ante a proclamada contrariedade do general Alexander Haig, a quem não sobrava tempo para armar e treinar os nossos militares, cuja intervenção não era expectável acrescentasse algo ao desfecho da vitória aliada.

Sucedeu La Lys e a heróica atitude dos militares portugueses. E a derrota, não obstante. Contas feitas, a Guerra levou-nos quaisquer dez mil homens, mais os que cá vieram morrer gazeados, os pulmões em pausada destruição.

Tudo em prol da legitimação da República! Desta República onde Soares, Alegre e toda a corja maçónica pretendem beber uma suposta «ética» de ir à caça ao domingo em viatura e com motorista do Estado. Porque não, nobres tribunos republicanos, o plebiscito em vez do Corpo Expedicionário? O que temiam e temem, afinal, V. Ex.cias?


83 comentários

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De José Menezes a 31.07.2014 às 20:36

No sentido século XIX, XX, XXI, até o Rei provavelmente era analfabeto.
A escolaridade obrigatória foi decidida no reinado de D. Maria I, antecipando muitos países europeus. Curiosamente só começou a "perder terreno" relativamente à média europeia após a implantação da república. Ao contrário do que se tem afirmado.
Em relação aos "saberes" exigíveis na época não tenho muito informação, mas peço a V Ex.cia, Sr. Anónimo, o favor de mos indicar, embora tema que, neste campo, talvez seja mais iletrado do que eu.
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De Anónimo a 01.08.2014 às 11:25

José Menezes, o rei, analfabeto ou não, idiota ou inteligente, era rei de qualquer forma. Não conta para essa estatística do analfabetismo. Pelo contrário, quem tomava decisões por ele, se o rei fosse idiota chapado, ou quem se sentava nas cortes quando estas se reuniam, teria que ter um grau de literacia que o afastava da imensa maioria da população, pelo menos a literacia suficiente para conduzir os negócios correntes ou extraordinários do reino.  
O que eu lhe estava a dizer é que o povo não era tido nem achado na escolha do regime; a sua participação nas decisões do reino era, obviamente, muita escassa, precisamente porque lhe faltavam os instrumentos para tal coisa, nem tal lhe era pedido. Use o José Meneses da ironia que quiser, puxe dos galões que quiser (não sei quem seja, nem o que faz, nem o José me conhece a mim), não há volta a dar.  Portanto, invocar as cortes para esse efeito, não tem sentido. Não use o José Meneses conceitos modernos para se referir ao que acontecia na Idade Média quanto à participação do povo nas decisões do reino e na escolha do regime
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De João das Regras a 01.08.2014 às 18:21

Então, ó Anónimo, achas que eu andei lá a fazer o quê?
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De José Menezes a 01.08.2014 às 19:08

Caro Anónimo. Não percebi. Ou o caro amigo é muito inteligente e fala numa linguagem que não alcanço. Ou está a falar claro e fluente e o meu QI é baixo.
Não percebi de facto o que disse.
Proponho uma coisa, imagine que está a falar com algum analfabeto, explique cuidadosamente, sem complicar, sem complexidades, para ver se eu entendo.
Peço desculpa pelo incómodo.


Desde já agradeço
José Menezes
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De Anónimo a 01.08.2014 às 21:18

Vou tentar, José Meneses. Aqui vai:
O Povo não escolhia o seu rei, muito menos o regime, nem decidia nada sobre a politica do reino, nem sobre as leis, porque não sabia ler nem escrever, para além de estar muito longe dos centros de decisão. Quem fazia as leis, por exemplo, era uma pequena elite letrada. O Rei, é claro, nem tinha que saber ler para ser rei. Simplificando ainda mais: as cortes não se parecem em nada com as atuais sociedades parlamentares democráticas e por isso não tem sentido absolutamente nenhum dizer-se que o povo escolheu um rei ou outro, ou um regime. 
Não sei se percebeu agora.
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De Sócrates a 01.08.2014 às 21:27

E o que é que a democracia ateniense tem a ver com a nossa?
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De José Menezes a 03.08.2014 às 13:57

Percebi Caro Anónimo. Obrigado.
Mas então fica a saber que século XXI, nas monarquias constitucionais: Espanha, Reino Unido, Holanda, Bélgica, Luxemburgo, Dinamarca, Suécia, Noruega, Canadá, Austrália, Nova-Zelândia e Japão (não sei se me escapou alguma), o Rei não é analfabeto, embora também não seja um meritocrata, o balanço faz-se entre a escolha pelo mérito ou pela independência da política e dos grupos económicos.
Nestes países a monarquia é reafirmada pelo parlamento e pela constitução que são sujeitas ao voto directo e universal. No Canadá, Austrália e Nova-Zelândia fazem-se referendos de 10 em 10 ao regime monárquico (coisa que a nossa democrática constituição proíbe pelo princípio material, artigo 288). A monarquia espanhola, embora por graça de Franco (e não por Graça de Deus), foi referendada a pedido do próprio Juan Carlos, e há mecanismos democráticos para ser referendada, aliás como todas as outras atrás mencionadas.


Mas se continua a fazer comparações entre o século XII e o século XXI, estamos conversados.


Cumprimentos meus
José Menezes.
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De João-Afonso Machado a 03.08.2014 às 16:07

Muito bem, Menezes!!!
Gabo-te a pachorra!!!
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De Anónimo a 04.08.2014 às 10:09

Não percebo porque foi buscar as monarquias constitucionais do século XXI, quando eu estava a falar das monarquias da Idade Média. Julgo que o José Meneses queria apenas mostrar que sabe como funcionam as atuais monarquias europeias. Mas talvez então já consiga perceber que não faz sentido dizer-se que na Idade Média o povo escolheu um regime ou um rei, como diz o João Afonso Machado. Nesse aspecto há um universo inteiro de diferença entre uma monarquia da Idade Média e uma monarquia moderna. Não havia referendos nenhuns nessa época. Quem transplantou conceitos modernos para a Idade Média foi o João Afonso Machado. Estamos esclarecidos. 
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De José Menezes a 04.08.2014 às 20:19

Estava a falar das monarquias da idade média? Pois estava. O problema era esse.
Quanto à afirmação do João Afonso Machado… Faça o favor de reler o post.
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De Anónimo a 05.08.2014 às 10:01

José Meneses, pois, obviamente, estava a falar da Idade Média. Em resposta a uma afirmação do João Afonso Machado de que o povo legitimou a monarquia na Idade Média. Isto não é uma questão que respeite à Holanda ou a Portugal no século XXI, que o José trouxe para aqui, pois não? 

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De João-Afonso Machado a 04.08.2014 às 21:18

O Anónimo não vai distorcer as coisas.
A verdade é que, à maneira própria da época, os portugueses escolheram e legitimaram a Monarquia. Quiseram a sua independência com Afonso Henriques. Olhe: leia Oliveira Martins.
E atente o episódio histórico de Leonor Teles e de D. João I de Castela e tenha a seriedade de aceitar que o Mestre de Aviz foi - há tantos séculos - a opção popular portuguesa.
Ponto final em conversas sem sentido. Não tenho a paciência do J. Menezes.
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De Anónimo a 05.08.2014 às 10:02

O João Afonso Machado está muito enfadado comigo. Paciência. Mas realmente os portugueses não escolheram e legitimaram a monarquia. Como devia saber, esse conceito pura e simplesmente não existia. Continua a transplantar conceitos do século XX e XXI para a Idade Média e ainda não entendeu isso. Episódios como o da crise 1383-85, respeitam não à escolha de um regime, mas à luta pela indendência. 

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