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O Facebook hoje, por grande coincidência, lembra-me de que publiquei esta capa do Público, há nove anos (em 2015, portanto), dois anos depois de ela ter aparecido (em Setembro de 2013).
A tese de quase toda a esquerda, e parte da direita, era a de que o memorando de entendimento que permitiu manter os pagamentos do Estado nos anos de 2011, 2012, 2013 e, em parte, seguintes, se traduzia numa espiral recessiva bem espelhada naquele "já" desta manchete.
A questão de fundo era a demonstração que Sócrates tinha feito do velho aforismo de Warren Buffett: quando a maré vaza é que se vê quem anda a nadar sem calções.
Sócrates tinha gasto dinheiro dos contribuintes de uma forma pouco sensata (o grande problema de Sócrates não é eventualmente ter metido ao bolso uns milhões indevidamente, é ter promovido políticas erradas que resultaram numa pré-bancarrota, impondo a todo o país, mas em especial aos mais pobres, uma política de austeridade inevitável para evitar a bancarrota), uma crise financeira mais ou menos inesperada obrigou a uma contracção brusca do financiamento disponível e, de repente, o Estado português não se conseguia financiar nos mercados financeiros (por causa dos especuladores, dizia ele e os seus muitos apoiantes, mas os especuladores, a existirem, apenas aproveitavam as fragilidades que ele próprio tinha criado, irresponsavelmente).
Por causa dessas circunstâncias, Sócrates teve de pedir socorro a quem tinha sido mais prudente e tinha dinheiro disponível.
Os ricos não são ricos por gastarem dinheiro sem pensar, é exactamente o inverso, é por serem prudentes com o que fazem ao seu dinheiro que se mantêm ricos, de maneira que as instituições que estavam disponíveis para emprestar dinheiro que permitisse ao Estado português não entrar em incumprimento disseram que sim, que emprestavam dinheiro, mas com garantias de que o país mudava de vida.
Essas garantias estavam no memorando de entendimento que previa aumentar receitas e diminuir despesas, ou seja, um programa manifestamente recessivo, como era inevitável (vejo muita gente a dizer que se podem pagar dívidas gastando mais e melhor o dinheiro, para ter recursos para pagar a dívida, mas nunca vi nenhuma demonstração prática dessa teoria, os que pagam dívidas é sempre por reduzirem despesas e aumentarem receitas, quando podem).
A esquerda e o jornalismo (eu sei, eu sei, desculpem) depois da primeira desorientação, passaram a adoptar um ponto de vista claro: o efeito recessivo ia baixar os recursos disponíveis, isso ia diminuir a colecta de impostos, o que agravaria o défice e, consequentemente, aumentava o problema em vez de o resolver (o défice andava pelos 11%), ideia que foi condensada na expressão "espiral recessiva", que é o que está na base daquele "já" da manchete do Público.
Durante três anos (no quarto ano as evidências fizeram desaparecer a expressão, não porque houvesse alguma alteração das evidências, mas porque se tornaram tão esmagadoras que era impossível manter a teoria) esta conversa foi martelada, martelada e martelada, apesar de todos os anos, todos os meses, ser evidente que, paulatinamente, o défice estava a baixar, as necessidades de financiamento estavam a baixar e, progressivamente, o efeito recessivo inicial estava a dissipar-se: o PIB passou a aumentar e o desemprego, depois de um pico ainda em 2012, diminuía, ao fim de algum tempo, em paralelo com a melhoria das contas públicas.
Esquecer tudo isto, que a esquerda e o jornalismo, viram sempre mal o filme e foram derrotados no campo das ideias (e, já agora, no das eleições, obrigando à coligação de derrotados que apanhou a boleia dos bons ventos criados internamente, mas também a soprar externamente), pretendendo que o efeito recessivo das medidas de austeridade negociadas por Sócrates, e absolutamente necessárias, foi uma opção do governo de Passos e de uma União Europeia menos solidária é estúpido, mas eu acho que é muito pior, é pura desonestidade.
Fizeram-me notar que o que o Observador escreveu sobre Maria Luís Albuquerque não pode ser comparado com a estrumeira do Público, o que é verdade, tornando injusto o meu post de ontem, o que em parte também é verdade, mas o sentido geral da imprensa (não necessariamente do comentário, o relevante é o que as redacções escreveram e que é inqualificável, independentemente de haver alguma gradação entre a estrumeira do Público e o lixo reciclado e arrumado de outros) tem um tal viés que não consigo de deixar de ficar furioso com isto a que chamam jornalismo.
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