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A flotilha e a ajuda humanitária

por henrique pereira dos santos, em 05.09.25

A flotilha que resolveu ir a Gaza levar ajuda humanitária tem um problema de fundo: nunca dá informação sobre que ajuda humanitária transporta, e como tenciona entregá-la em Gaza e a quem.

Tenho visto comentários de pessoas que consideram indignas as críticas, as observações ou as piadas sobre esta flotilha, porque nem que fosse apenas uma mão cheia de couscous, era ajuda humanitária e é preciso ter um coração de pedra ou estar subordinado a interesses incofessáveis para pôr em causa ajuda humanitária.

Não sou eu (ou melhor, não sou apenas eu) que digo que a flotilha não tem nenhuma relação com ajuda humanitária, é um acto político (legítimo, reforço eu para que não haja dúvidas), é a organização que é clarinha, clarinha a esse respeito: "The Global Sumud Flotilla is a coordinated, nonviolent fleet of mostly small vessels sailing from ports across the Mediterranean to break the Israeli occupation's illegal siege on Gaza. It brings together a diverse coalition of international participants, including those involved in previous land and sea efforts like the Maghreb Sumud Flotilla, Freedom Flotilla Coalition*, and Global Movement to Gaza. Each boat represents a community and a refusal to stay silent in the face of genocide. ... These boats don't just carry aid; they carry a message: the siege must end."

A ajuda humanitária é aqui apenas um pretexto para tornar moral e mediaticamente aceitável uma acção política hostil a um dos beligerantes em Gaza, o que explica por que razão a organização nunca perde um segundo a explicar que ajuda humanitária transporta e qual é o modelo logístico que garante que essa ajuda chega a quem precisa.

Ao contrário do que dizem os organizadores, não existe nenhum bloqueio a Gaza que impeça a ajuda humanitária de entrar em Gaza, o que existe é um sistema de verificação dessa ajuda humanitária por parte de um dos beligerantes (Israel), que entende que os modelos que estavam a ser usados antes da guerra estavam ao serviço (voluntária ou involuntariamente, é irrelevante) do outro beligerante (o Hamas).

Embora o modelo de ajuda humanitária que estava a ser usado pela ONU em Gaza para fazer chegar às pessoas cerca de metade da ajuda humanitária do mundo seja o modelo universal (a ONU trabalha com os poderes de facto em cada região), o facto é que Israel (justa ou injustamente) considera que o facto do Hamas (o poder de facto reconhecido pela ONU) recusar o cumprimento de qualquer regra comum em qualquer conflito, faz com que a ajuda humanitária gerida pela ONU tenha estado a ser usada, há muitos anos, pelo Hamas para garantir o controlo sobre os palestinanos de Gaza (é a própria ONU que, nos seus relatórios, refere a quantidade de camiões que são sequestrados antes de chegar ao destino, em percentagens que vão variando, mas são muito altas e, frequentemente, andam pelos 90% da ajuda sequestrada por terceiros, dando alguma credibilidade à alegação de Israel).

Por essa razão, Israel e os Estados Unidos deram apoio a um modelo alternativo de ajuda humanitária que a ONU e a generalidade das organizações internacionais operando em Gaza recusam, em absoluto, por ser um modelo militarizado, assente em segurança armada e operado sob a protecção de um dos beligerantes, Israel.

O modelo tem dificuldades, em especial a hostilidade activa do Hamas, mas não teve, até agora, qualquer desvio dos seus camiões de ajuda humanitária, e distribui, diariamente, mais de um milhão e quinhentas mil refeições, sem que o Hamas consiga controlar essa distribuição.

Muitas pessoas e organizações que acham inaceitáveis as críticas a uma flotilha que diz que transporta ajuda humanitária, sem nunca especificar nada que permita o escrutínio do que anda a fazer, criticam fortemente o modelo da Gaza Humanitarian Foundation que distribui, de uma forma que pode ser escrutinada, um milhão e meio de refeições, diariamente, o que sugere que a sua repulsa em relação a Israel seja bastante maior que o seu amor aos palestinianos comuns.

Em particular, todos os jornais que conheço deram um grande destaque a um testemunho de um anterior funcionário que dizia da GHF o que Maomé não disse do toucinho, incluindo o testemunho do assassinato de uma criança às mãos das IDF, mas não só omitiram os desmentidos, documentados das IDF, como é normal que atirem para um esconso qualquer do jornal qualquer informação sobre o facto da dita criança ter sido encontrada viva e estar hoje em segurança, desmentindo cabalmente o testemunho que se considerou de absoluta credibilidade anteriormente, sem qualquer verificação dos factos.

A extraordinária história da identificação do miúdo, através das redes de confiança estabelecidas pela GHF, não tem qualquer interesse para a comunicação social, já o facto de um conjunto de pivilegiados resolverem dar uma volta de barco para fingir que se alistam na resistência popular contra o regime opressivo de Israel, usando a ajuda humanitária como biombo para as suas acções políticas, tem sistemática atenção dos jornalistas.

Ide pela sombra.


11 comentários

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De Filipe Costa a 05.09.2025 às 18:36

Eu tenho diversos amigos afro-portugueses, nasceram em Angola/Moçambique, viveram lá e vieram com a roupa do corpo. Por acaso alguns são negros, mas isso para o caso vale Bola.

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