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A esquerda, a banca e o Estado

por henrique pereira dos santos, em 05.06.23

Adenda: Dizem-me que tenho um erro no post porque as contas dos certificados de aforro estam indexadas à euribor, pelo que baixas de juro se reflectiriam na taxa de juro dos certificados de aforro. Não fui verificar exactamente em que termos se faria esse reflexo, mas gostaria de corrigir esta questão

Recentemente o Estado decidiu alterar as regras sobre Certificados de Aforro e, incompreensivelmente para mim, gerou-se um bruaá sobre uma decisão que, podendo estar certa ou errada, é uma decisão perfeitamente normal (o Estado não alterou as regras do que tinha contratado anteriormente, isso sim, seria grave, limitou-se a alterar as regras para futuras subscrições).

Se a decisão é boa ou má não sei dizer, o que me parece claro para um leigo como eu é que, sendo os Certificados de Aforro um meio de o Estado se financiar através da dívida (os Certificados de Aforro não são um mecanismo de transferência de rendimentos do Estado para as pessoas, se o fossem, seriam uma maneira bem mais tonta, injusta e ineficiente de o fazer que a sua alternativa: a diminuição das necessidades de financiamento do Estado através da dívida), para ter uma ideia sobre se a decisão tem alguma racionalidade, o melhor é comparar com os meios alternativos do Estado contratar dívida.

A taxa de juro a que o Estado se financia varia no tempo, com certeza, e nas últimas operações tem vindo a aumentar bastante, estando neste ano de 2023 em qualquer coisa como 3,5% nas novas contratações (embora a taxa média do conjunto do financiamento de toda a dívida esteja ainda abaixo dos 2%, se vi bem). Aparentemente, este aumento rápido da taxa de juro na contratação de dívida resulta da alteração das políticas dos bancos centrais, isto é, de decisões do Estado.

Deste ponto de vista, e esperando o Estado que a inflação e os juros venham a diminuir dentro de algum tempo, é perfeitamente razoável que o Estado tente diminuir o custo da dívida baixando os juros dos Certificados de Aforro, ao verificar que à taxa anterior havia muitos interessados, isto é, que a taxa a que o Estado estava a pagar a dívida era muito atractiva. Embora já esteja a colocar essa taxa abaixo da taxa a que se tem conseguido financiar em 2023. Se bem percebo, o Estado tem uma boa folga no financiamento, portanto é razoável que o Estado evite lançar operações de contratação de dívida numa altura em que os juros estão altos e se prevê que venham a descer.

Para a esquerda, especialmente a mais folclórica, nada disto tem a menor importância e o que se passa é que a banca quer manter a remuneração dos depósitos baixa e, por isso, obrigou o Estado a diminuir a taxa de remuneração dos certificados de aforro para a banca não perder mais depósitos que aqueles que está a perder.

Esta ideia é muito interessante para ilustrar a forma como funciona a cabeça de muita gente envolvida, ou simpatizante, da esquerda folclórica.

Em primeiro lugar, partem do princípio de que a banca actua em cartel, e define centralmente as taxas de juro dos depósitos, não havendo um único banco que fure o esquema para ganhar rapidamente clientes e crescer. É uma ideia defensável, possível mas não plausível, que deveria levar quem a defende a defender mais mercado, mais liberdade de iniciativa, para diminuir as possibilidades da banca actuar como um cartel e facilitar o aparecimento de novos bancos e instituições financeiras que consigam concorrer com os instalados, obrigando a uma luta sem quartel pela captação dos depósitos.

Em segundo lugar é uma ideia que parte do princípio de que apenas existe a banca e o Estado a concorrer pelo capital disponível, e que nem as empresas lançam obrigações, nem operadores organizam mecanismos alternativos de financiamento, nem é possível aplicar capitais fora do país, resumindo, uma tremenda tolice que esquece toda a realidade da liberdade de circulação de capitais que existe na União Europeia (e fora dela).

Em terceiro lugar, e muito mais interessante e elucidativo, à acusação de que o Estado anda a mando da banca, dizem que se deve responder dando ao mesmo Estado, que acusam de ser controlado pela banca, mais poder, de preferência, todo o poder, nacionalizando a banca ou, pelo menos, pondo-a no seu lugar (que, de maneira geral, evitam definir com muita clareza qual seja e como se consegue fazê-lo).

O que nunca explicam é como, acreditando que o Estado é facilmente controlado pela banca, defendendo os interesses da banca contra os interesses das pessoas, acreditam também que o Estado, facilmente controlado de forma obscura, é a melhor solução para resolver a obscuridade do seu controlo por forças obscuras.

Os meus netos, pelos menos alguns e em algumas circunstâncias, insistem que são mais fortes que eu, contra todas as evidências, e que sabem mais que eu, contra todas as evidências.

A principal diferença para estes que pensam que o Estado que se deixa capturar facilmente é a melhor garantia contra a sua própria captura, é que eu espero que os meus netos cresçam até ao ponto em que sejam de facto mais fortes e sabedores que eu ou que, caso contrário, cresçam o suficiente para deixar de negar evidências.


47 comentários

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De Zé raiano a 05.06.2023 às 09:45

estado, principalmente socialista, não me merece mais que ZERO% de confiança
aforro não passa de desaforo
a dívida será sempre paga pelo suor dos contribuintes privados
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De balio a 05.06.2023 às 10:03


resulta da alteração das políticas dos bancos centrais, isto é, de decisões do Estado


O Banco Central Europeu não é o Estado português! São formalmente (e também na prática) independentes.
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De henrique pereira dos santos a 05.06.2023 às 10:10

Eu não falei em Estado português, mas em Estado, e argumentar que os bancos centrais não são Estado, é uma tolice.
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De balio a 05.06.2023 às 10:05


Para a esquerda, especialmente a mais folclórica


Não somente para ela. O PSD também protestou. Até com a frase bombástica "o Governo está a acabar com a classe média".
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De Zé raiano a 05.06.2023 às 10:35

faleceu e foi cremada
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De balio a 05.06.2023 às 10:09


nem é possível aplicar capitais fora do país


Possível será, mas não é prático, creio. Para abrir conta num banco alemão ou francês será provavelmente necessário deslocar-se a esses países, ter número fiscal neles, eu sei lá. O Henrique conhece alguma forma prática de colocar um depósito a prazo num banco estrangeiro a taxa de juro de 3%?
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De henrique pereira dos santos a 05.06.2023 às 10:40

Já ouviste falar em contas revolut, por exemplo? Põe no google
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De balio a 05.06.2023 às 11:03


Nunca tinha ouvido falar, e suponho que a maior parte dos portugueses que investe em certificados de aforro também não.
Serão eventualmente alternativas a divulgar.
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De marina a 05.06.2023 às 11:32


esqueça , pode abrir uma conta à ordem em qualquer país da ue com o passaporte, mas não pode  abrir uma de poupança.
e se pudesse , os custos das transferências de capital são elevados.


experimente abrir uma conta on line em qualquer destas instituições e verá ou dirija-se a uma porque  são no país ao lado...



https://www.rankia.com/blog/mejores-depositos/4127358-mejores-depositos


e repare que "Depósitos Haitone Bank"   , Haitone Bank é português , e o capital do depósito é garantido  pelo estado português.


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De G. Elias a 05.06.2023 às 12:58

De facto já tinha ouvido dizer que não se podia abrir contas de poupança ("savings accounts") noutros países da UE sem ter lá residência. O que é estranho, uma vez que é suposto existir liberdade de circulação de capitais no espaço da União.
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De balio a 05.06.2023 às 15:59


é suposto existir liberdade de circulação de capitais no espaço da União


Esqueça. Tal liberdade somente existe de forma limitada.


Veja por exemplo, se uma empresa, digamos, espanhola emitir obrigações, você não pode comprar essas obrigações em mercado primário. Mesmo os bancos espanhóis que operam em Portugal não estão autorizados a comercializar obrigações espanholas cá em mercado primário.


Mais. Se você comprar ações espanholas, paga imposto sobre os dividendos tanto em Espanha como em Portugal. Na prática, acaba por pagar um imposto sobre os dividendos da ordem dos 60%. É verdade que depois pode pedir estorno desse imposto, mas isso significa uma complicação.


Na prática, faz muita diferença uma empresa estar listada na bolsa de Madrid ou na de Lisboa. Se estiver na de Lisboa, você somente paga imposto ao fisco português; se estiver na de Madrid, você paga imposto tanto ao fisco português como ao espanhol.
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De marina a 05.06.2023 às 17:34

imagine que nem sequer os nacionais residentes no estrangeiro podem ter contas poupança no seu país de origem.
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De balio a 05.06.2023 às 18:04


pode abrir uma conta à ordem em qualquer país da ue com o passaporte


Mesmo isso não é assim tão simples. Pedem o número de contribuinte e a residência. Por sua vez, para pedir número de contribuinte pedem-lhe o seu estatuto no país. Se você não tiver residência nesse país, é capaz de não conseguir obter nem número de contribuinte nem conta bancária.


Eu já tive que ajudar pessoas com emprego temporário cá a regularizar a sua situação, e por vezes não é nada fácil.
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De balio a 05.06.2023 às 15:53


Segundo entendo, a Revolut é um banco virtual supervisionado pelo Banco da Lituânia.
Isso recorda-me que, aquando da anterior crise financeira, uma data de ingleses perderam as suas poupanças porque as tinham colocado nuns bancos islandeses que ofereciam ótimas taxas de juro. Veio a crise, os bancos islandeses não puderam pagar, e a Islândia não quis dar o seu dinheiro aos aforradores ingleses.
Questiono se, ao estarmos a investir as nossas poupanças através da Revolut, não estaremos a pedir aos lituanos que as segurem.
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De balio a 05.06.2023 às 10:28


Sobre este assunto, vale a pena ler
http://portugalcontemporaneo.blogspot.com/2023/06/nunca-visto.html
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De henrique pereira dos santos a 05.06.2023 às 11:00

Obrigado por esta ligação, de quem percebe bem mais que eu do assunto, e que confirma o que digo no post, nos aspectos técnicos.
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De marina a 05.06.2023 às 17:38


o Pedro Arroja tem uma correctora, gere carteiras de clientes ,  trabalha com acções , não podia dizer outra coisa ...


ninguém liga à diminuição do montante para um quinto , mas esse facto é o mais relevante.
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De G. Elias a 05.06.2023 às 11:01

Henrique, três notas:


1 - "A taxa de juro a que o Estado se financia varia no tempo, com certeza, e nas últimas operações tem vindo a aumentar bastante, estando neste ano de 2023 em qualquer coisa como 3,5% nas novas contratações (embora a taxa média do conjunto do financiamento de toda a dívida esteja ainda abaixo dos 2%, se vi bem)."

Mais ou menos. A taxa de juro a 10 anos, que é normalmente considerada "a referência", anda hoje pelos 3,05% - podes ver aqui: https://pt.investing.com/rates-bonds/portugal-10-year-bond-yield

Nos prazos mais curtos tem valores inferiores, como é aliás normal, porque o risco de uma emissão a um prazo mais curto é geralmente menor. Podes ver as taxas para todas as maturidades aqui:

https://pt.investing.com/rates-bonds/portugal-government-bonds?maturity_from=60&maturity_to=290

O que acontece é que os certificados de aforro não são uma emissão de longo prazo - é certo que os aforradores podem lá deixar os certificados durante 10 anos, mas por outro lado a partir dos três meses podem levantá-los em qualquer altura, sem penalilzação nem perguntas por parte do Estado. Ou seja, isto é dívida que em parte pode de curto prazo. E nas maturidades de curto prazo, o Estado tem vindo a pagar bastante menos, logo do ponto de vista da gestão da dívida pública não era uma boa opção manter os 3,5%.

2 -  "Aparentemente, este aumento rápido da taxa de juro na contratação de dívida resulta da alteração das políticas dos bancos centrais, isto é, de decisões do Estado."

Não é bem assim. O aumento das taxas resultam das forças de oferta e de procura por títulos de dívida no mercado secundário. Convém termos presente que as taxas a 10 anos (as tais que flutuam diariamente) são taxas implícitas e não taxas reais.

3 - "Deste ponto de vista, e esperando o Estado que a inflação e os juros venham a diminuir dentro de algum tempo, é perfeitamente razoável que o Estado tente diminuir o custo da dívida baixando os juros dos Certificados de Aforro, ao verificar que à taxa anterior havia muitos interessados, isto é, que a taxa a que o Estado estava a pagar a dívida era muito atractiva. Embora já esteja a colocar essa taxa abaixo da taxa a que se tem conseguido financiar em 2023. Se bem percebo, o Estado tem uma boa folga no financiamento, portanto é razoável que o Estado evite lançar operações de contratação de dívida numa altura em que os juros estão altos e se prevê que venham a descer."

Essa parte que muita gente diz do "prevê-se que venham a descer", é mais wishful thinking que outra coisa, parece-me. Convém lembrar que a senhora do BCE há apenas um ano dizia que não era preciso subir os juros. o BCE andou a dormir na forma durante meses e só começou a subir taxas em Julho, e entretanto a inflação foi galopando da forma que entendeu.

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De henrique pereira dos santos a 05.06.2023 às 11:22

Gonçalo, obrigado pelo aumento de rigor nos pormenores, mas os dados que usei não os inventei, o que não quis foi perder tempo a ser mais rigoroso porque, como demonstras, não altera o essencial da argumentação (e, porque, como sabes, esta não é a minha área de interesse intelectual).
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De balio a 05.06.2023 às 11:27


O aumento das taxas resultam das forças de oferta e de procura por títulos de dívida no mercado secundário.


O mercado secundário não é aquele que interessa para quem se financia, isto é, para o Estado.


Para quem se financia o que interessa é o mercado primário. A pergunta que é preciso responder é, a que taxa de juro consegue o Estado colocar obrigações emitidas hoje mesmo? E, tanto quanto julgo saber, emissões a dez anos emitidas atualmente pagam um juro de 3,5%.
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De G. Elias a 05.06.2023 às 12:53

balio, de facto as emissões são feitas no mercado primário, mas depois os títulos são negociados em mercado secundário e a cotação vai flutuando, afectando a yield (rendimento). As cotações de mercado secundário servem de indicador para o rendimento que o mercado está a exigir num dado momento para deter aquela dívida.


À data de hoje a taxa a 10 anos está a 3,05% e não 3,5%.
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De marina a 05.06.2023 às 11:16


um defensor dos grandes , o Henrique : ele é o pingo doce , a banca , os lares de luxo

 a maior parte da população , os pequenos aforradores não tem literacia financeira nem capital para poder perder para arriscar o seu dinheiro sem a garantia de capital em coisas como as do bes.
que houve negociações é claro como água : o corte de algumas comissões absurdas relativas a empréstimos a troco da  descida de juros dos ca e a possibilidade  de venda em bancos e não só nos ctt.   os bancos até vão passar a ganhar com a venda dos ca , o estado paga-lhes.

Se se a euribor descer , os juros da série E  descem também. os juros são indexados à taxa , sendo que o teto máximo é 3.5 , portanto também varia no tempo.
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De henrique pereira dos santos a 05.06.2023 às 11:25

Acha?
Em que é que defender os 100 mil trabalhadores da Jerónimo Martins é defender os grandes?
Não percebo onde é que viu qualquer defesa da banca, se me puder explicar, agradeço.
Em que é que defender a participação do sector privado na construção e operação de lares é defender os grandes?
De resto, eu não partilho da sua ideia de que as pessoas são estúpidas e precisam de alguém que tome conta da sua gestão de poupanças.
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De marina a 05.06.2023 às 11:38


exacto , coo as pessoas não são estúpidas , retiraram o dinheiro dos bancos e fizeram uma corrida aos CA...pessoalmente retirei 60 mil euros e tinha-os à ordem há que tempos , sempre com os gestores  a  tentarem-me coisas sem qualquer interesse e com risco elevado.
e nem sequer é a descida dos juros dos ca o mais importante. é a descida  do montante que se pode aplicar de 250 mil para 50 mil euros . não me diga que não é para proteger a banca ?
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De balio a 05.06.2023 às 12:05


Se a Marina tem 60 mil euros, então pode com eles comprar uma obrigação no valor de 50 mil de uma empresa internacional qualquer. Por exemplo, esta da Petroleos Mexicanos (ISIN XS0213101073) rende-lhe 5,5% ao ano. É claro que tem algum risco (o de a Petroleos Mexicanos ir à falência e em 2025 não lhe pagar de volta o seu dinheiro), mas não é um risco muito grande.
Para o investidor típico em certificados de aforro (digamos, uma pessoa que investe menos de mil euros de cada vez) é que a coisa é difícil. Agora, com 50000 euros há bastantes hipóteses bastante boas e muito seguras. Mesmo obrigações de grandes instituições internacionais (digamos, o Asian Development Bank) rendem 3,5% ao ano com risco basicamente nulo.
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De marina a 05.06.2023 às 12:28

nem pensa , não arrisco dinheiro , custou a ganhar. só aplico  com garantia de capital.
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De G. Elias a 05.06.2023 às 12:56

marina: "nem pensa , não arrisco dinheiro , custou a ganhar. só aplico  com garantia de capital."


Está no seu direito mas isso já não é uma questão de falta de literacia financeira e sim de aversão ao risco.
E sobre isso posso dizer que neste país existe uma aversão generalizada ao risco (a maioria prefere o "pouco, mas certo"), sendo essa uma das razões pelas quais se investe relativamente pouco em Portugal.
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De balio a 05.06.2023 às 17:24


isso já não é uma questão de falta de literacia financeira e sim de aversão ao risco


Mais precisamente, é um fenómeno conhecido em psicologia como "aversão à perda". Não é que as pessoas rejeitem o risco; o que as pessoas rejeitam, em absoluto, é a possibilidade de perderem o seu.



Em psicologia está verificado que as pessoas ficam muito mais entristecidas por perderem uma coisa do que ficam felizes por ganharem essa mesma coisa. Se ganharem 1000 euros ficam satisfeitas, mas se perderem mil euros ficam imensamente deprimidas, revoltadas, raivosas, enfurecidas, etc.



Por isso há muitas pessoas, não somente em Portugal, que só admitem investir em depósitos a prazo ou certificados de aforro, e que não admitem investir em seja o que fôr em que se pague uma comissão, por pequena que ela seja.



É uma atitude irracional, mas faz parte da psicologia humana, a qual não é em geral racional.
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De G. Elias a 05.06.2023 às 18:43

balio, sim, podemos chamar aversão à perda, vai dar ao mesmo.


É sabido que em matéria de investimento, está sempre presente o binómio "recompensa / risco" (isto é, quando maior o risco, maior a recompensa potencial, portanto para receber mais há que arriscar mais).


Em Portugal a malta não quer correr riscos - e claro, depois não tem recompensa nenhuma que se veja. No entanto lá porque a malta não quer correr riscos, isso não significa que a malta não deseje enriquecer. Mas prefere tentar chegar lá por via da sorte. Não é por acaso que somos um dos países onde mais se joga no Euromilhões.


Ou seja, em Portugal acredita-se que a melhor forma de enriquecer será através de apostas - isto apesar de haver abundante evidência de que por essa via se perde mais do que se ganha.
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De marina a 08.06.2023 às 02:07


clarifico : não tenho aversão à perda , tenho aversão à incerteza. e ao jogo.  e a espertalhões. também tenho alguma aversão à mudança. e não sou gananciosa.

como eu decido investimentos:
segurança do capital
dispor dele quando me apetecer ,sem perdas

não perder a favor do banco
antes de comprar certificados esperei , como era expectável , que o banco subisse os juros. tenho o dinheiro , desde que deixaram de pagar por ele , todo à ordem . 

não subiram os juros.as hipóteses que me apresentaram de fazer render o dinheiro eram todas de casino , podia ir até 4% , podia , mas não era certo. o certo era que não podia mexer no dinheiro durante dois anos. entretanto algum banco podia dar mais por ele. portanto , nem pensar,
 o gerente explicou-me que preferiam clientes que comprassem as tais carteiras de acções , ainda vi algumas , havia uma que era só acções de bancos.

não sou tontinha.
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De balio a 08.06.2023 às 09:26

Marina,
não lhe falei de fundos, muito menos de fundos de ações.
Falei-lhe de obrigações. Ao comprar uma obrigação, a Marina está (indiretamente) a emprestar o seu dinheiro a uma empresa específica, escolhida por si.
Uma obrigação é a coisa mais parecida que há a um depósito a prazo. Você pode a qualquer momento vender a obrigação a outra pessoa e recuperar o seu dinheiro (eventualmente com perdas ou ganhos - venderá a obrigação a um preço diferente daquele a que a comprou). Mas também pode esperar até ao fim da obrigação e nessa altura a empresa devolve-lhe o valor nominal dela.
A obrigação rende juros ao dia (o que é melhor que um depósito a prazo). Você recebe juros por cada dia que detém a obrigação.
O risco da obrigação é o risco que a empresa que emitiu vá à falência e não lhe devolva o dinheiro. Esse risco também existe com um depósito a prazo - o banco pode ir à falência e não lhe devolver o depósito.  
Em suma, não há especulação, não há ganância. É a coisa mais parecida que há a um depósito a prazo, só que, em vez de a Marina emprestar o seu dinheiro ao seu banco, empresta-o a uma empresa da sua escolha.
As obrigações mais seguras que há são as dos grandes bancos de ajuda ao desenvolvimento, tipo African ou Asian Development Bank. Essas rendem tipicamente (atualmente) 3% ao ano.
Depois há obrigações de empresas, tipo José de Mello Saúde, Benfica SAD, e Mota-Engil, para só falar de portuguesas. Mas você pode comprar obrigações de uma miríade de empresas.
Pense no assunto.
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De henrique pereira dos santos a 05.06.2023 às 12:52

O que o post diz é que isso não é defesa da banca, é gestão racional da dívida pública.
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De Francisco Matos a 05.06.2023 às 11:42


"Não percebo onde é que viu qualquer defesa da banca"
Ao alargar a venda do CA aos bancos, pois isso não é a custo zero. Porque colocar pelos seus meios é mais barato
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De henrique pereira dos santos a 05.06.2023 às 12:53

Não me diga que foi a banca a exigir poder vender certificados de aforro
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De Anónimo a 05.06.2023 às 13:26

Pelos vistos não consegui ser claro. A banca fez pressão. 
E, embora o governo possa/deva gerir os CA como melhor entender, porque dar um bónus à banca, sabendo que esse bónus sai do OE/contribuintes.
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De henrique pereira dos santos a 05.06.2023 às 15:08

Neste caso o chamado bónus até poupa dinheiro aos contribuintes
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De Tiro ao Alvo a 06.06.2023 às 09:04

"(…) porque dar um bónus à banca, sabendo que esse bónus sai do OE/contribuintes".

Que confusão! Não reparou que quem paga os juros dos CA somos nós, os contribuintes? Mesmo os que não têm capacidade para poupar? Reduzir a taxa de juro dos CA é reduzir a despesa pública, portanto o bónus é para os portugueses e não para os Bancos.

Além disso, os CA, pelo volume que atingiram (10% do total da dívida pública) e estando praticamente todos disponíveis para levantamento imediato, constituem um risco para o Estado Português, pois pode haver uma corrida aos levantamentos e atirar o país para a bancarrota.

Reduzir as taxas dos CA é uma decisão correcta. Espanta é estar tanta gente contra, tanto gente de esquerda como de direita, para acabar no Presidente da República. Tudo com grandes ecos na comunicação social.

É caso para dizer: parece que anda tudo maluco.

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De Jorge a 05.06.2023 às 12:09

A forma de pensar da esquerda está plasmada no comentário de um Luis Aguia Conraria na televisão.  Criticava ele a decisão do estado de baixar a taxa dos CA pq podia aparecer uma maluca de uma Meloni ou a direita ganhar as eleições em Espanha e isso iria provocar uma turbulência nos mercados nomeadamente na subida das taxas de juro. Ri- me , desliguei a tv e fui para o café discutir a bola. Ao menos ali ninguém se acha especialista no que quer que seja.
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De henrique pereira dos santos a 05.06.2023 às 12:54

Nem o Luis Aguiar-Conraria cabe na definição de esquerda folclórica, nem costuma dizer coisas irrazoáveis, vou tentar perceber eu o que ele disse, directamente na fonte.
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De lucklucky a 05.06.2023 às 13:59

Quotas sexistas e racistas e outras é o quê? Nisso concordo LAC(com hifen para nos distinguirmos do povo) é muito pior que a esquerda folclórica. É da esquerda perigosa.
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De henrique pereira dos santos a 05.06.2023 às 15:10

Já ouvi o Luis Aguiar-Conraria, está mesmo convencido de que há um cartel da banca (embora pelo meio diga que há uns bancos pequeninos que não alinham no cartel, e não acontece nada, não ficam cheios de clientes, o que me parece contraditório), mas não diz disparate nenhum, aliás as duas discussões entre João Duque e Luís Aguiar-Conraria são muito interessantes e ninguém acaba a dizer que a solução é mais Estado.
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De Anónimo a 05.06.2023 às 16:29

Recomendo ao Henrique Pereira dos Santos que não deixe de ler o retrata do país, feita pelo João Pires da Cruz. Além de ser uma análise interessante, é também assustadora e verdadeira. De facto, se até Impérios se desfazem... que  podemos nós esperar? 
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De Anónimo a 05.06.2023 às 16:30

Aqui:
https://observador.pt/opiniao/a-moeda-velha/



(de João Pires da Cruz)

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