Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]




Bento.jpg

(...) Bento não ficará na história como um Papa banal, nem tão-pouco como o profeta das trevas que muitos teimavam ver representado nele. Há décadas que vinha avisando a Igreja para se preparar a viver em ambiente minoritário e liberta espiritualmente do imperativo categórico da "correcção" contemporânea. Sabia que a sua sobrevivência, nestes tempos levianos e superficiais de efeito fácil, depende muito da intransigência em manter-se um olhar céptico e realista para dentro da própria Igreja, para a "condição humana" da Igreja - homens e mulheres dela, e leigos, já que ninguém é obrigado a ser cristão, muito menos católico. Como escreveu em “A Luz do Mundo, «o Mal pertencerá sempre ao mistério da Igreja. Se olharmos para tudo o que os homens, e nomeadamente o clero, fizeram na Igreja, temos aí verdadeiramente uma prova de que Ele fundou a Igreja e a sustém. Se ela apenas dependesse dos homens, há muito que já teria perecido.»
 
Nunca cedeu ao populismo. A sua altiva timidez, o seu rigor teológico e filosófico, a sua fidelidade à razão eram incompatíveis com o "festim nu" de uma sociedade sem rumo à vista. Deus comanda a esperança contra toda a esperança, na expressão feliz de João Paulo II, mas Bento nunca alimentou ilusões ou ambiguidades em relação à natureza humana. Retirou-se do mundo quando sentiu que servia melhor a Igreja oculto dele. Não foi, como muitos tolos julgaram então, um sinal de fraqueza. Representou, antes, um sinal de uma força enorme. Ensinou-nos que “Deus ainda acende fogueiras na noite do mundo para convidar os homens a reconhecerem em Jesus o «sinal» da sua presença salvífica e libertadora”. Que "estamos a avançar para uma ditadura de relativismo que não reconhece nada como certo e que tem como objectivo central o próprio ego e os próprios desejos". Exigiu uma fé "mais madura" e um combate sem tréguas ao "radicalismo individual" que nos faz "ser criança andando ao sabor de ventos das várias correntes e das várias ideologias". Em suma, ensinou-nos que não foi em vão que Jesus “desceu para a noite de Getsémani, para a noite da Cruz, para a noite do túmulo. Ele desceu porque, no confronto com a morte, é mais forte; porque o seu amor leva o selo do amor de Deus que tem mais poder que as forças da destruição. É precisamente nessa saída, no caminho da Paixão, que está o acto da sua vitória; no mistério do Getsémani já está o mistério da alegria pascal. Ele é o mais forte, não há nenhum poder que possa resistir-Lhe e nenhum lugar onde Ele não esteja. Ele chama-nos a tentar a caminhada com Ele, porque onde houver fé e amor, aí estará Ele, aí estará a força da paz que supera o nada e a morte.”
 
Texto de João Gonçalves no Facebook
 
Bento XVI. 


2 comentários

Sem imagem de perfil

De entulho a 01.01.2023 às 09:54

estava a fazer pesquisas no AS e na BA quando faleceu João Paulo II e elegeram 'Benedeto'
a republiqueta vai ter um lindo enterro
Sem imagem de perfil

De Francisco Almeida a 01.01.2023 às 14:55

Morreu o "meu" Papa. Antecedido por S. João Paulo II e sucedido por Francisco. Não quero comentar as virtudes pessoais de cada um - afinal um é Santo, o outro goza da maior taxa de aprovação mundial - mas, como cabeça da Igreja, preferi Bento XVI.
Na história da Igreja, avulta a sua relação privilegiada com o poder. Digladiavam-se os seus vários sectores pelo cargo de confessor, porque quem falava ao ouvido do Príncipe, podia fazer a diferença. Para o bem e para o mal. Lembro a propósito o tristíssimo episódio do referendo em Timor que valeu 30 mil mortos, e muito se deve ao voluntarismo do Pe. Melícias, como confessor de Guterres.
O poder não muda e tem regras próprias. O que muda são os cenários, os actores e os protagonistas. A seguir ao 25 de Abril, o poder era o MFA e por isso, Adriano Moreira - de quem recordo a lição sobre teoria do poder com imensa saudade - sobre ele escreveu um livro que titulou de "O Novíssimo Príncipe".
Mais tarde o poder veio para a rua, Não uma rua caótica e desorganizada mas uma rua controlada e dirigida. O poder eram as organizações sindicais. Mais tarde ainda - numa mudança ainda em curso e de que não se adivinha o resultado - o poder é a opinião pública, evidentemente controlada e dirigida pela opinião que se publica, e antecedida pela que se impõs na escola.
Tendo tudo isto em conta, não me impressionei favoravelmente pela visita de S. João Paulo II ao Brasil e apoio a um Lula, então muito mais radicalizado do que hoje; nem sequer pela visita à Polónia e apoio a Lech Walesa. Como não me impressiono hoje por ver Francisco a trazer para a praça pública os problemas graves da Igreja.
Serei talvez cínico mas o que vejo são manifestações da mesma relação privilegiada com o poder; de mais uma regra que não mudou.
Bento XVI foi diferente. E bem merecia que escrevesse sobre ele mas isto já foi longo e polémico o suficiente,... ou mais do que isso.

Comentar post



Corta-fitas

Inaugurações, implosões, panegíricos e vitupérios.

Contacte-nos: bloguecortafitas(arroba)gmail.com



Notícias

A Batalha
D. Notícias
D. Económico
Expresso
iOnline
J. Negócios
TVI24
JornalEconómico
Global
Público
SIC-Notícias
TSF
Observador

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Comentários recentes


Links

Muito nossos

  •  
  • Outros blogs

  •  
  •  
  • Links úteis


    Arquivo

    1. 2024
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    14. 2023
    15. J
    16. F
    17. M
    18. A
    19. M
    20. J
    21. J
    22. A
    23. S
    24. O
    25. N
    26. D
    27. 2022
    28. J
    29. F
    30. M
    31. A
    32. M
    33. J
    34. J
    35. A
    36. S
    37. O
    38. N
    39. D
    40. 2021
    41. J
    42. F
    43. M
    44. A
    45. M
    46. J
    47. J
    48. A
    49. S
    50. O
    51. N
    52. D
    53. 2020
    54. J
    55. F
    56. M
    57. A
    58. M
    59. J
    60. J
    61. A
    62. S
    63. O
    64. N
    65. D
    66. 2019
    67. J
    68. F
    69. M
    70. A
    71. M
    72. J
    73. J
    74. A
    75. S
    76. O
    77. N
    78. D
    79. 2018
    80. J
    81. F
    82. M
    83. A
    84. M
    85. J
    86. J
    87. A
    88. S
    89. O
    90. N
    91. D
    92. 2017
    93. J
    94. F
    95. M
    96. A
    97. M
    98. J
    99. J
    100. A
    101. S
    102. O
    103. N
    104. D
    105. 2016
    106. J
    107. F
    108. M
    109. A
    110. M
    111. J
    112. J
    113. A
    114. S
    115. O
    116. N
    117. D
    118. 2015
    119. J
    120. F
    121. M
    122. A
    123. M
    124. J
    125. J
    126. A
    127. S
    128. O
    129. N
    130. D
    131. 2014
    132. J
    133. F
    134. M
    135. A
    136. M
    137. J
    138. J
    139. A
    140. S
    141. O
    142. N
    143. D
    144. 2013
    145. J
    146. F
    147. M
    148. A
    149. M
    150. J
    151. J
    152. A
    153. S
    154. O
    155. N
    156. D
    157. 2012
    158. J
    159. F
    160. M
    161. A
    162. M
    163. J
    164. J
    165. A
    166. S
    167. O
    168. N
    169. D
    170. 2011
    171. J
    172. F
    173. M
    174. A
    175. M
    176. J
    177. J
    178. A
    179. S
    180. O
    181. N
    182. D
    183. 2010
    184. J
    185. F
    186. M
    187. A
    188. M
    189. J
    190. J
    191. A
    192. S
    193. O
    194. N
    195. D
    196. 2009
    197. J
    198. F
    199. M
    200. A
    201. M
    202. J
    203. J
    204. A
    205. S
    206. O
    207. N
    208. D
    209. 2008
    210. J
    211. F
    212. M
    213. A
    214. M
    215. J
    216. J
    217. A
    218. S
    219. O
    220. N
    221. D
    222. 2007
    223. J
    224. F
    225. M
    226. A
    227. M
    228. J
    229. J
    230. A
    231. S
    232. O
    233. N
    234. D
    235. 2006
    236. J
    237. F
    238. M
    239. A
    240. M
    241. J
    242. J
    243. A
    244. S
    245. O
    246. N
    247. D