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À espera do comboio na paragem do autocarro

por henrique pereira dos santos, em 29.08.25

Como acontece sempre que se fala de gestão florestal, há um grande e persistente (tão persistente que há 200 anos que repetem argumentos no mesmo sentido, que vão sendo passados de pais para filhos) número de pessoas que explicam que estabelecendo as condições ideias, com coragem e determinação, a gestão das terras marginais, em Portugal, nos levará ao Paraíso.

De maneira que andamos sempre nisto, a torrar recursos dos contribuintes no estabelecimento de condições ideais para garantir a rentabilidade das operações de gestão que nos garantem paisagens equilibradas, empresas saudáveis e pessoas felizes, em vez de fazer o que parece mais simples: compreender o problema, reconhecer que os preços internacionais de alguns produtos não são compatíveis com os custos operacionais da gestão que os produz e que, portanto, ou alinhamos os incentivos que os contribuintes querem gastar para obter um determinado resultado com a economia que existe, ou deixamos as coisas ao Deus dará (E se Deus não dá/ Como é que vai ficar, ô nega?).

Uma das coisas que mais atenção merecem, quando começamos a desenhar o amanhã que vai cantar, são os problemas de propriedade, considerados condição sine qua non, para se atingir o nirvana da rentabilidade florestal que nos vai safar do fogo do Inferno.

Tal como é possível encontrar pessoas altamente qualificadas a defender que é possível gerir, rentavelmente, as paisagens dos xistos centrais instalando montados que substituam o mar de matos e sucata florestal que os caracteriza actualmente (com ilhas de produção de eucalipto rentável aqui e ali), esquecendo-se de que os montados são o resultado (lento, demorado) de um modelo de produção de cereais e porco de montanheira difícil de reproduzir nas serras do Centro de Portugal, desde que se queira e invista (os contribuintes) muito nisso, também há quem assegure que resolvendo as questões de propriedade, se resolvem as dificuldades de gestão associadas aos actuais preços mundiais do que seria possível produzir e às exigências de nível de vida que as pessoas fazem a si próprias.

Ontem falei de Cecília Meireles, que não conheço, hoje falo de Carlos Guimarães Pinto, com quem tenho facilidade de contacto, o que me permitiu perceber que a sua ideia não é exactamente a que eu ouvi (e ele disse, na verdade terá posto demasiada ênfase na questão do cadastro que a que seria adequada ao que realmente pensa) e é dele esta frase da conversa que tivemos (reproduzo com a sua autorização, claro) "Se descobrissem ouro nas florestas, até havia filas à porta dos notários".

É exactamente isto, o problema é não se conseguir criar riqueza suficiente para remunerar a gestão, face às alternativas de que os proprietários dispõem para empregar o seu trabalho e o seu capital e, por isso, racionalmente, abandonam o activo quando passa a passivo, o que, com o tempo e a transversalidade do problema, leva à situação actual de perda de controlo social do território, por inutilidade superveniente de ser proprietário de uma coisa que não vale nada.

Andar a insistir que o que é preciso é rapidamente atribuir propriedade a donos (a Montis está agora com um problema tremendo numa propriedade perfeitamente registada que os vizinhos dizem que não é no sítio em que diziam que é e que, no eBUPI, tem vários proprietários sobrepostos, demonstrando os riscos de andar a brincar aos registos de propriedade, quando a lei já prevê a usocapião para situações em que ninguém reclama a propriedade de qualquer terreno) é, como dizia o Sérgio Godinho, estar à espera do comboio na paragem do autocarro.


18 comentários

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De G. Elias a 29.08.2025 às 12:02


Um pouco off-topic, não tem a ver directamente com o tema do post mas apenas com o seu título e com a frase final:
"Estar à espera do comboio na paragem do autocarro" é o que acontece justamente a partir de hoje em Coimbra, com a entrada ao serviço de um novo serviço pomposamente denominado Metrobus, que pretende fingir que é um comboio, quando na verdade é um vulgar autocarro. O fingimento vai ao ponto de as rodas dos veículos estarem tapadas, de modo a não se verem os pneus, ajudando assim a vender a ideia de que o comboio no ramal da Lousã continua a existir.
Enquanto se continuar a alimentar estas fantasias, de fingir que é aquilo que não é, em vez de olhar para as coisas como elas realmente são, muitos problemas (seja de mobilidade, seja de gestão do território, seja de tantas outras coisas) vão continuar por resolver.
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De Anónimo a 29.08.2025 às 12:34


a ideia de que o comboio no ramal da Lousã continua a existir


Suponho que no antigo ramal da Lousã cada comboio transportasse, no máximo, umas 30 ou 40 pessoas.


Ora, para transportar esse número de pessoas um metro ligeiro, seja com motor elétrico ou com motor de combustão interna, similar ao Metro do Porto, é uma opção muito mais racional do que um comboio.


É isso, creio, que o Metrobus é: uma opção muito mais racional para transportar o (relativamente) pequeno número de pessoas que utilizavam o ramal da Lousã.


O Metrobus é similar aos comboios ligeiros de superfície que efetuam o transporte público em todas as cidades alemãs (e de muitas cidades dos países de leste) - coisas muito mais cómodas e eficientes do que o metropolitano ou os autocarros de Lisboa, por exemplo.



Mas talvez eu esteja errado.
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De G. Elias a 29.08.2025 às 17:08

Note que a minha crítica não é ao Metrobus, admito perfeitamente que dada a orografia e a demografia seja a solução mais vantajosa. O que eu critico é estar-se a torrar uma data de dinheiro com o objectivo de fingir que continua a haver comboio.
Repare:
- usa exactamente o mesmo percurso da antiga ferrovia
- segue por um canal dedicado
- os veículos têm as rodas tapadas
Para quê tudo isto? Se a ideia é pôr autocarros, então que se opte por uma solução barata e eficiente, em vez de estar a fazer opções mais caras só a bem da imagem.
Aliás ao longo dos últimos meses houve um serviço rodoviário de substituição, vamos ver se o novo Metrobus traz alguma coisa acrescentada a esse serviço.
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De Anónimo a 30.08.2025 às 09:18

Seguir por um canal dedicado faz parte da eficiência destes meios de transporte. Vá a uma cidade alemã (ou ao Porto) e vê o mesmo: comboios ligeiros a circular em canais dedicados. O facto de o canal ser dedicado significa que os veículos circulam a velocidade constante e previsível - ao contrário de, por exemplo, os autocarros lisboetas.
O facto de o canal ser o mesmo do antigo comboio poupa dinheiro - evita ter que expropriar terras para construir um novo canal.
(Mas isto não significa que eu esteja a elogiar o Metrobus conimbricense, que não conheço com um mínimo de detalhe.)
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De G. Elias a 30.08.2025 às 15:28

"Vá a uma cidade alemã (ou ao Porto) e vê o mesmo: comboios ligeiros a circular em canais dedicados." 
Eu sei. Já morei na Alemanha e conheço bem os transportes de lá. Mas isto não é um comboio.
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De Anónimo a 29.08.2025 às 22:20

Pois, está errado.
A velhinha automotora levava mais gente e mais rápido que estes autobuses 
Não esquecer que quem faz o percurso diário, fá-lo para ir Trabalhar , não para ir ver paisagem em passeio turístico 
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De G. Elias a 30.08.2025 às 15:29

"A velhinha automotora levava mais gente e mais rápido que estes autobuses "


Se é mais rápido ou mais lento não sei. Aguardo com expectativa a publicação dos horários completos (quando isto chegar até Serpins).
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De Anónimo a 29.08.2025 às 22:15

Não chateie Portugal (Lisboa) com assuntos de província. 
O metro, semelhante ao de Almada,  leva 30 anos de atraso, mas que interessa isso... pelo menos nunca vi falado quando se fala de transportes públicos em "Portugal ". Mas o pior foi mesmo fecharem a ligação ferroviária ao centro da cidade. Mais um golpe de génio. 

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