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À espera

por henrique pereira dos santos, em 07.05.20

O Euromomo já tem o boletim da mortalidade referente à semana 18 disponível.

semana 18.jpg

Os dados da mortalidade total são dos que menos ruído têm, são por isso particularmente úteis para avaliar o impacto de qualquer factor que induza mortalidade.

Apesar do pico da mortalidade covid estar nas semanas 14 e 15 (quando este tipo de doenças costumam ter o seu pico até à semana 12), o que me fez (e faz) ter dito que provavelmente o fim da mortalidade excessiva que marca o fim dos surtos, também poderia andar mais uma ou duas semanas para a frente (até pela clínica desta doença cuja mortalidade ocorre duas semanas ou mais depois da infecção), a verdade é que na semana 18, com toda a cautela de estarmos a falar de números provisórios, falta muito pouco para o fim da mortalidade excessiva, podendo mesmo ocorrer na tal semana 19.

Há uma excepção relevante, a Inglaterra, cujo pico andou pelas semanas 15 e 16, e que ainda está longe de fechar a mortalidade excessiva, não sendo clara a tendência de diminuição, ao contrário de todos os outros países com dados no Euromomo. A Suécia, os Países Baixos, a Bélgica e a Escócia embora com a tendência já muito definida, e fechando provavelmente na semana 19, ainda estão ligeiramente acima da mortalidade esperada na semana 18.

Relevante é olhar para os outros anos e verificar que, embora o pico covid seja relevantemente mais alto, 17 mil mortos a mais na semana com maior mortalidade, como parece tratar-se de um surto que dura muito pouco tempo (8 semanas), não parece ter desencadeado uma mortalidade substancialmente diferente dos surtos dos Invernos de 2017 (12 semanas) e 2018 (19 semanas), mas ter-se-ia de fazer as contas para ter uma ideia mais precisa.

semana 18 2.jpg

Se, e sublinho o se (não sabemos, há um padrão, mas não sabemos se este vírus não sai do padrão, não parece estar a sair mas pode sempre admitir-se que este comportamento da mortalidade não se deva aos raios ultravioleta mas ao confinamento, não me parece mas é preciso esperar para saber), este vírus tiver as mesmas dificuldades que os seus primos com os raios ultravioleta, isso significará que teremos de nos preparar para o próximo Outono/ Inverno e lidar melhor com o surto que vier a existir.

O que não entendo é a ideia de que este segundo surto tem uma grande probabilidade de ser pior que o primeiro. Não entendo onde se foi buscar essa ideia:

1) O que tenho visto é citar o exemplo da gripe de 1918, o que me parece extraordinário dada a evidente especificidade desse surto, com a movimentação rápida de milhares de soldados;

2) Uma parte, pequena ou grande, da população, tem uma forte probabilidade de ter algum tipo de imunidade ao vírus. Mais uma vez, não sabemos, mas o que sabemos dos outros primos corona sugere que é provável que assim seja;

3) A parte da população mais susceptível e com menos resistência terá sido a que foi mais atingida pela mortalidade este ano, sendo provável que na segunda vaga o impacto seja menor.

Para saber se a semana 19 trará de facto a entrada na mortalidade esperada (com a provável excepção da Inglaterra) teremos de esperar uma semana.

Para saber se o Verão nos dará algum tempo para preparar o próximo surto temos de esperar umas semanas.

Para saber o impacto do segundo surto, teremos de esperar pelo próximo Outono/ Inverno, em que o pico pode ser menor, mas o vírus terá mais tempo para fazer estragos.


16 comentários

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De Albino Lopes a 07.05.2020 às 21:08

Sr Arq. H P Santos
Volto ao contacto depois de ter alertado para a necessidade de se explicar a excepção africana (protecção da população pela interacção da BCG e da Cloroquina de combate à malária. Agora trata-se do equívoca segunda e da terceira vagas da designada gripe espanhola. Observo que a "segunda" vaga foi bacteriana e não viral, como a 1ª. A viral criou imunidade de grupo como era normal, situação que não defendeu a população contra pneumonias bacterianas posteriores, mas diferente da situação atual em que temos antibióticos. Por favor ajude a nossa gente a proteger-se do governo da "calamidade" que, com o patrocínio da "nossa ciência" se "prepara" agora para nos proteger da 2ª vaga, quando devia era ser competente em face da 1ª. Agora nada há a fazer: não precisamos de austeridade, já estamos em "calamidade" sócio-psico-económico-financeira.
A história  das pandemias teria, talvez, ajudado a opinião pública a desmascarar a incompetência associada de amigos cientistas, de jornalistas desatentos e de 
governantes manhosos. Valha-nos a santa União Europeia, que é quem pode, como dizia a minha avó materna, que passou incólume à gripe espanhola, apesar do Sidónio e sabia que nada se podia esperar dos lados de São Bento.
A Lopes (Prof. Cat. Jubilado do ISCSP/ULisboa).
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De Zacarias Castanho a 07.05.2020 às 21:17

Henrique, concordo com a forma e com quase, todo o conteúdo mas em vez de 2018 será 1918?
(deslocação rápida de soldados...)
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De Anónimo a 07.05.2020 às 22:12

nunca se esclarece a baixa % de recuperados.
só na GB se estudou o impacto nas minorias
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De Luís Lavoura a 08.05.2020 às 12:14

nunca se esclarece a baixa % de recuperados

Pois não.

Eu suspeito que haja má-vontade das autoridades de saúde para voltar a realizar os testes necessários para certificar que uma pessoa já está recuperada. Mas não tenho qualquer forma de confirmar essa suspeita, que não passa portanto de uma "teoria da conspiração".

Seria útil saber, de forma concreta e numérica, quantos testes são repetidos a pessoas que já foram infetadas, por forma a saber se os poucos recuperados se devem mesmo a uma baixa taxa de recuperação, ou à não-realização de testes para confirmar a recuperação.
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De António Pires a 07.05.2020 às 23:13

Gostaria de acrescentar uma aspecto que não vi referido: quanto tempo é que uma pessoa fica imune após recuperar da doença?
A duração da imunidade irá condicionar o "arranque" da futura época Outono-Inverno no próximo Outubro.
 
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De Luís Lavoura a 08.05.2020 às 09:46

Eu diria que "a movimentação rápida de milhares de soldados" a seguir à Primeira Guerra foi de facto bem pequena quando comparada com as movimentações de população que atualmente se fazem de forma corriqueira e diária.
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De Anónimo a 08.05.2020 às 11:28


Os chefes políticos, todos, desde Trump a Putin passando por Merckel e Costa, todos, por esse mundo fora estão entre a espada e a parede.

Por um lado sabem que se prosseguem defendendo "confinamentos" arruinarão os seu Países. E cairá sobre eles, individualmente, um danoso legado histórico como político.

Por outro lado sabem que se descontinuarem os confinamentos actuais, mesmo que criteriosamente, serão responsabilizados por toda e qualquer mortandade subsequente que infelizmente ocorra nos seus Países. E cairá sobre eles, individualmente, um danoso legado histórico como político.

Consoante os regimes políticos em que "campeiem" o seu poder, e responsabilidade política, sempre terão engenho e arte para "saírem por cima".
Como bem se tem desenvolvido neste blog, coitados, terão sido induzidos em erro pelos matemáticos....
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De jose a 08.05.2020 às 12:03

Só uma pequena dúvida...
Porque é que os ilustres especialistas "adeptos da calamidade" e "crentes no fim-do-mundo" não fazem uma análise dos z-scores?

Porque o mundo não vai acabar, como não acabou antes?


 
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De Nuno a 08.05.2020 às 18:47

Convém, para elucidar quem o lê, que explique o que é a mancha amarela nesses gráficos: números provisórios.


Anda a citar o EuroMomo há semanas. Neste mesmo postal tece considerações profundas sobre as semanas 15 e 18, etc. Pois bem, para que fique claro: a semana 15, a 16, 17 e 18 são estimativas. E todas as semanas passadas os valores estimados foram substituídos por valores mais altos.


Sim, o pico parece ter passado. É o que diz o relatório. Só que a frase seguinte diz: "However, the data reported for the most recent weeks must be read with caution, despite the applied correction for delay in registration." Se o pico tiver efectivamente passado, nas próxima semana saberemos (e na seguinte confirmá-lo-emos).


Há 3 ou 4 semanas, o Henrique disse que 2017 tinha sido pior. Agora diz que não foi "substancialmente diferente". Para retracção, sinceramente, está bastante mal.



E não a Inglaterra não é a única excepção, a Bélgica é outra.


O EuroMomo considera um z-score acima de 15 um excesso "extremamente alto" de mortalidade. Considera, mas não considerava, porque até agora a escala parava no "muito alto" acima de 10. Porquê? Porque o valor mais alto registado em alguma região até agora era de 14 (Espanha, 2017). O valor mais alto agora é 44 (estimativa) em Inglaterra, mas outros 7 países/regiões chegaram ao "extremamente alto".


E convém lembrar, isto são valores com medidas de contenção, mesmo nos países em que correu pior. Não sabemos como seria sem medidas de contenção.


As medidas de contenção têm um custo, económico, social, e até de saúde pública. Não podem, não devem, ser mantidas sine die. Mas os números não dizem o que o Henrique diz que dizem.
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De henrique pereira dos santos a 08.05.2020 às 18:53

Não, não são estimativas, são números provisórios, tal como expressamente dito no post
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De Nuno a 09.05.2020 às 05:39

Bastante elucidativa, a sua resposta.


Sim são números provisórios. Mas são também estimativas, porque aos números parciais é aplicado um factor de correcção que tenta corrigir (para cima, obviamente) o atraso normal no reporte. Está na metodologia. Ainda assim, foram consistentemente estimados por baixo, pelo que é desadequado tirar conclusões sobre uma descida que só se verifica nesse intervalo. Como aliás, é dito no relatório.


Mas já deu a entender que não se quer retratar das afirmações que fez baseado nos valores de há 4 semanas de que em 2017 tinha sido pior. Só lhe fica mal.


Infelizmente, tinha-o em elevada consideração nos assuntos dos quais fala com aparente autoridade (e.g. fogos florestais). Mas a sua reação aqui só me fará duvidar de si quando sobre esse e outros temas se envolver em discordâncias com outros especialistas. É pena.
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De henrique pereira dos santos a 09.05.2020 às 07:25

Mas por que razão tenho de retratar de afirmações erradas que eventualmente tenha feito no passado?

Estão feitas, se os dados não me dão razão, eu mudo de opinião, qual é o problema?
Não sei de que declarações fala (se me indicar o post vou ver o que disse) mas ainda neste post digo que, com a informação que hoje existe, não é linear que 2017 não tenha sido pior em mortalidade (é bem possível que nessa altura, há um mês atrás, eu falasse num pico maior em 2017, provavelmente para contrapor às previsões catastrofistas de mortalidades mais de dez vezes maiores que as que se verificam).
A mim não me incomoda nada que pense que o mundo vai acabar amanhã, só me espanto que se incomode tanto por eu ter outra opinião.
Uso dados errados? Uso dados manipulados?
Não, uso os dados que existem em cada momento, estou farto de pôr dúvidas e cautelas no que faço de projecções para o futuro, que são projecções de acordo com o que me parece certo.
Não entendo o permanente processo de intenções sobre eu isto e eu aquilo.
Qual é o seu problema concreto em relação a este post?
Estou a tirar conclusões excessivas?
Talvez, e daí? Quando houver dados definitivos logo veremos se foram excessivas ou não e, se forem, mudo de opinião.
De uma coisa estou absolutamente certo: as minhas projecções para o futuro nunca foram tão excessivas como as que estão na base de uma política de gestão da epidemia trágica para milhões de pessoas.
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De henrique pereira dos santos a 09.05.2020 às 07:30


A razão pela qual preciso da sua indicação de qual é o post de que me devia retratar é que do que vi para trás, não vi grandes correcções aos dados semanais do euromomo, semana após semana.
Daí que para perceber do que está a falar, precise de dados concretos dessas tais correcções muito relevantes.
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De Hugo a 09.05.2020 às 06:42

O que virá amanhã e no dia seguinte? Qual será o golpe de espinha?

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