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A EFTA e o resto

por henrique pereira dos santos, em 21.09.22

Nota prévia: Irene Pimentel não gostou do meu post anterior, o que é compreensível porque o post está longe de ser simpático, e respondeu-me, o que gostaria de realçar como uma atitude positiva, pouco vulgar. Infelizmente respondeu sem responder, na medida em que não contestou nenhum dos factos que invoquei, e limitou-se a reafirmar um facto que eu não tinha negado, o que torna o progresso na discussão muito pouco provável.

Chamaram-me a atenção para o facto de que ter situado o período de maior crescimento e convergência dos últimos 200 anos, em Portugal, entre a adesão à EFTA e o primeiro choque petrolífero.

Não sou historiador e a utilização destes dois marcos temporais era suficiente para mim, mas percebo que alguém os leia como a minha opinião sobre uma eventual relação de causa/ efeito entre os marcos temporais que citei e o andamento do desenvolvimento económico de Portugal.

Não é o caso, nem sei o suficiente para ter opiniões definidas sobre o asunto, embora seja sensível ao facto de me fazerem notar que o período de crescimento começa uns dez anos antes da adesão à EFTA, tanto mais que há quem defenda que esse período de crescimento do país se deve à guerra e ao pós guerra, e outros que realmente enfatizam a adesão à EFTA (incluindo os anos prévios que estão associados a uma abertura económica que permitiu a adesão à EFTA).

Há também quem admita que o aumento do potencial humano propiciado pela escolarização rápida a partir dos anos 30 teria influenciado positivamente o desempenho económico do país.

Infelizmente, não me parece que os fundamentos do crescimento desse período estejam suficientemente estudados ou, pelo menos, eu não os conheço, parece-me natural que muitos factos concorram para isso e eu não os sei distinguir.

O que posso dizer, a partir da minha posição de quase leigo, é que quando fiz a minha tese - que se baseia no mapeamento de indicadores de população e produções agrícolas e pecuárias, por concelho, ao longo do século XX - reparei que depois do aumento generalizado de população em praticamente todos os concelhos do país nas primeiras décadas do século XX (apesar da emigração para o Novo Mundo, emigração que praticamente acabou com a crise dos anos 20, até meados dos anos 50, quando a emigração é retomada, agora com outros destinos), começa a haver concelhos com perda de população entre os censos de 1930 e 1940, de maneira geral os mais pobres, dos xistos centrais.

Sem ter estudado o assunto, a sensação com que fiquei foi que, fechados os destinos de emigração externa, e diminuindo o trabalho dos "ratinhos" no Alentejo e Ribatejo, em consequência da segunda vaga de mecanização da agricultura (primeiro foram as debulhadoras, no princípio do século XX, depois começaram a chegar as ceifeiras mecânicas, mais perto do meio do século XX), Lisboa era o destino desta gente, tanto mais que Lisboa estava em franco crescimento, como inúmeras obras, quer públicas, quer privadas (a figura do pato bravo, identificada com uma origem em Tomar, frequentemente, deve ter começado aqui).

É bem possível que, sendo normal começar-se a trabalhar aos 13/ 14 anos, grande parte destes que se dirigem a Lisboa já sejam letrados, e portanto constituindo um capital humano com maior potencial, mas não tenho nenhuma ideia do que isso poderia significar em impacto sobre a economia.

O que me parece, sem nenhuma base concreta para o afirmar, é que a estabilidade política, financeira e institucional pode ter desempenhado algum papel na confiança para o investimento.

Eu sei que uma parte pequenina desta historiografia anti-fascista (na verdade a ordem dos conceitos está trocada, primeiro é anti-fascista, depois é que é historiografia) insiste no papel que a repressão dos movimentos operários poderá ter desempenhado nesse investimento e desenvolvimento económico, protegendo os grandes grupos económicos. Eu, que não sou historiador, tenho as maiores dúvidas de que alguém consiga demonstrar que os movimentos operários têm um papel relevante na diminuição do potencial de crescimento de uma economia, portanto não percebo o argumento.

O que sei é que não sei por que razão o país cresce tanto, em termos absolutos e em termos relativos, algures entre os anos 50 e 70, mas sei que é uma tontice anti-científica negar o evidente crescimento económico e a melhoria generalizada das condições sociais, que ocorreu nessa altura.

Pretender que quem se limita a verificar a esmagadora evidência dos factos que corroboram esta tese está a legitimar um regime político, como se o bom desempenho de um regime ilegítimo o tornasse legítimo, não passa de um truque para manter reputações que se fizeram mais no combate político que na discussão académica, que continua a ser fortemente condicionada por esse combate ideológico em que se refugiam os beneficiários da situação.


11 comentários

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De balio a 21.09.2022 às 12:53


não sei por que razão o país cresce tanto, em termos absolutos e em termos relativos, algures entre os anos 50 e 70


Em boa parte, cresce em termos absolutos porque se tratou de um período de grande crescimento em todos os países - os europeus - com os quais Portugal tinha contactos económicos mais estreitos.


Cresce também em termos relativos porque se limita a copiar tecnologias e formas de organização do trabalho já inventadas e desenvolvidas alhures, não tendo que ter o trabalho de inventar nada de novo.
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De henrique pereira dos santos a 21.09.2022 às 14:30

Se conseguires demonstrar que os que copiam crescem mais que os inovadores, acho que ganhas o Nobel da economia (que, aliás, não existe)
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De balio a 21.09.2022 às 14:34


Qualquer indivíduo que fosse capaz de explicar o crescimento económico, porque é que uns países em determinadas épocas crescem muito e outros não, ganharia o prémio Nobel da economia (o tal que não existe).
Os economistas bem tentam, mas jamais conseguem explicar, de forma totalmente coerente, que países crescem e quando.

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