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"A economia sobrepor-se às pessoas"

por henrique pereira dos santos, em 27.04.25

Fui ter a esta entrevista de Bordalo II, a partir desta crónica de Helena Matos.

Eu gosto muito do trabalho do Bordalo II, tal como da música e do trabalho musical (parece um pleonasmo, mas não é, José Mários Branco fez muita música e fez muita produção da música de outros) do José Mário Branco, o que não confundo é a enorme qualidade artística do que fazem, com o que pensam sobre a sociedade.

O título deste post, por exemplo, que é a citação de uma frase da entrevista, é um completo absurdo que decorre da ignorância de Bordalo II, de que ele não tem a menor consciência, sobre o que é a economia.

A economia é essencialmente relação entre pessoas, quando um jornal faz uma peça em que diz que o alojamento informal é hoje um negócio de milhões, o que o jornal está a fazer é descobrir que, quaisquer que sejam as regras, se alguém precisa de um tecto e alguém pode fornecer um tecto, essas duas pessoas vão acabar por fazer um acordo em que a primeira pessoa entrega qualquer coisa à segunda, em que a segunda está interessada, em troca desse tecto.

Pode não ser dinheiro, note-se, nas organizações caritativas que acolhem pessoas sem abrigo (ou peregrinos) o que a primeira pessoa dá em troca é paz de espírito ao segundo, que se sente bem em ajudar a primeira pessoa (por inclinação emocional ou por sólido percurso racional de adesão a uma ideia, isso é irrelevante), continua é a ser economia.

Se, como acontece em Portugal, as regras impostas pelo Estado dificultam a disponibilização de mais tectos, mas a produção de bens ou serviços em que as pessoas estão interessadas, atrai novas pessoas, então o alojamento informal vai crescer e vai estar mais longe da disponibilização de tectos compatíveis com a dignidade de quem precisa deles.

Quanto mais desequilibrada for a relação entre os que procuram um tecto e a capacidade de os disponibilizar em condições que a generalidade das pessoas considerem justa e razoável, maior será o mercado informal.

A economia é isto, e isto é impossível que se sobreponha às pessoas, porque isto são as pessoas, não é tudo o que as pessoas são, mas a economia são pessoas que estabelecem relações entre elas.

É a justiça, a razoabilidade e o equilíbrio dessas relações que garante a maior ou menor liberdade de cada um no momento em que decide fechar o acordo que permite a troca, sendo razoável que o Estado se centre nas garantias de que não há alguns que abusam da sua posição dominante nestas relações.

Discutir isso parece-me muito útil, mas de Bordalo II eu espero que faça intervenções com grande qualidade artística, não espero que ensine os rudimentos de economia, matéria para a qual tem muito menos competência que para criar intervenções artísticas, umas melhores, outras piores, claro, mas seguramente muito melhores que a maioria das coisas de arte pública que vejo por aí.


5 comentários

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De cela.e.sela a 27.04.2025 às 10:53

Mateus 5:3Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus.


nesta republiqueta de esquerda qualquer alarve fala inconscientemente do que desconhece.


com o extremismo de direita, muito me admira, ainda se não lembraram de passar um camião por cima do pessoal dos desfiles 
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De Anónimo a 27.04.2025 às 12:54

A economia são e sempre foram as pessoas. O capitalismo do Mal não só trouxe grandes avanços científicos como retirou da pobreza milhões, entre os quais ex-"camaradas" do educador Mao.
Para subverter esta verdade factual, a esquerda socialista inventou narrativas como as da acumulação de riqueza e economia de casino.
Felizmente em Portugal ainda há quem não esteja de olhos vendados e mente fechada, e perceba que apenas a eliminação do papel do Estado na economia pode promover o progresso.
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De Anónimo a 27.04.2025 às 17:23

Muito bem, nada a apontar 
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De Valadares a 28.04.2025 às 09:52

Siga prà marinha.
Muito bem.
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De JPT a 28.04.2025 às 11:24

Consultando o portal base.gov percebe-se que o Sr. II dispensa lições sobre o funcionamento da economia. Aliás, a entrevista prova-o, pois é dando estas entrevistas que se prospera no "sector da cultura", em Portugal.

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