Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
Fui ter a esta entrevista de Bordalo II, a partir desta crónica de Helena Matos.
Eu gosto muito do trabalho do Bordalo II, tal como da música e do trabalho musical (parece um pleonasmo, mas não é, José Mários Branco fez muita música e fez muita produção da música de outros) do José Mário Branco, o que não confundo é a enorme qualidade artística do que fazem, com o que pensam sobre a sociedade.
O título deste post, por exemplo, que é a citação de uma frase da entrevista, é um completo absurdo que decorre da ignorância de Bordalo II, de que ele não tem a menor consciência, sobre o que é a economia.
A economia é essencialmente relação entre pessoas, quando um jornal faz uma peça em que diz que o alojamento informal é hoje um negócio de milhões, o que o jornal está a fazer é descobrir que, quaisquer que sejam as regras, se alguém precisa de um tecto e alguém pode fornecer um tecto, essas duas pessoas vão acabar por fazer um acordo em que a primeira pessoa entrega qualquer coisa à segunda, em que a segunda está interessada, em troca desse tecto.
Pode não ser dinheiro, note-se, nas organizações caritativas que acolhem pessoas sem abrigo (ou peregrinos) o que a primeira pessoa dá em troca é paz de espírito ao segundo, que se sente bem em ajudar a primeira pessoa (por inclinação emocional ou por sólido percurso racional de adesão a uma ideia, isso é irrelevante), continua é a ser economia.
Se, como acontece em Portugal, as regras impostas pelo Estado dificultam a disponibilização de mais tectos, mas a produção de bens ou serviços em que as pessoas estão interessadas, atrai novas pessoas, então o alojamento informal vai crescer e vai estar mais longe da disponibilização de tectos compatíveis com a dignidade de quem precisa deles.
Quanto mais desequilibrada for a relação entre os que procuram um tecto e a capacidade de os disponibilizar em condições que a generalidade das pessoas considerem justa e razoável, maior será o mercado informal.
A economia é isto, e isto é impossível que se sobreponha às pessoas, porque isto são as pessoas, não é tudo o que as pessoas são, mas a economia são pessoas que estabelecem relações entre elas.
É a justiça, a razoabilidade e o equilíbrio dessas relações que garante a maior ou menor liberdade de cada um no momento em que decide fechar o acordo que permite a troca, sendo razoável que o Estado se centre nas garantias de que não há alguns que abusam da sua posição dominante nestas relações.
Discutir isso parece-me muito útil, mas de Bordalo II eu espero que faça intervenções com grande qualidade artística, não espero que ensine os rudimentos de economia, matéria para a qual tem muito menos competência que para criar intervenções artísticas, umas melhores, outras piores, claro, mas seguramente muito melhores que a maioria das coisas de arte pública que vejo por aí.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.
O post não diz, nem sequer sugere, que Moedas não ...
Sempre se soube que Moedas não servia, é apenas o ...
Ninguém proibiu a bola mas fecharam restauração
Podiam começar por resolver o problema de Cabo Del...
O incitamento à violência é (creio eu) crime. Se a...