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A culpa não é dos extremistas, é da democracia ( e do karma)

por Jose Miguel Roque Martins, em 06.09.22

Sou um defensor da democracia mas, no caso, Português é a causa directa e concreta dos nossos males: conseguimos aliar um Estado demasiado grande, ineficiente e castrador do progresso ( legitimado pela maioria), com um processo democrático  inquinado, em que as maiorias exploram as minorias ( o que é ilegítimo). Pior é que entrámos num ciclo vicioso, em que as correcções necessárias não se vão fazer, até á autofagia, ou quase, da nossa sociedade.

Temos um país incapaz de crescimento económico por deliberada e amplamente consensual escolha de um Estado director e interventor ( embora pouco regulador no que importa) e uma economia pouco livre. Essa maquina gigantesca, ainda por cima ineficiente,  esmaga ainda mais a economia com a carga fiscal e a burocracia. Por esses motivos  afasta-mo-nos, em vez de convergirmos, com a nossa grande referencia, os países da Comunidade Europeia ( antes os ricos, agora quase todos).

Captura de ecrã 2022-09-06, às 10.59.17.png

 

Queremos ser iguais outros mas cada vez estamos mais diferentes. Como tivemos um crescimento, mesmo que modesto ( cerca de 10% em 22 anos), é apesar de tudo possível dizer estarmos melhor do que antes, que estamos no caminho certo,  que, á nossa maneira, vamos  indo, que devagar se vai ao longe. No nosso caso, devagar caminhamos para um desastre. O modelo que estamos a prosseguir não é pura e simplesmente sustentável a prazo e não há sinais de vontade de o corrigir. 

O processo pré democrático de uma sociedade ultrapassar situações insustentáveis passa por revoluções. Com a democracia liberal, a revolução foi substituída por evolução e escolhas diferentes. Aconteceu assim na Escandinávia, em que, para manter apoios sociais e bons níveis de vida, na década de 80 e 90 se passaram a abraçar políticas liberais, pelos partidos ditos de esquerda. Aconteceu assim no Reino Unido, em que na década de 70 e 80, se conseguiu estancar uma decadência evidente, com a introdução das sempre impopulares políticas económicas liberais, sobretudo quando vem da dita direita. Apenas na Europa do Sul, a realidade continua cristalizada com base em preconceitos arraigados, que impedem o progresso pleno e aumentam o atraso relativo aos Países mais ricos. Parecendo-me um enorme desperdício, não deixa de o ser de forma legitima, uma escolha, para mim errada, da ampla maioria da sociedade, que não dá mostras de querer reformar o que quer que seja. Da conjugação da falta de criação de riqueza e da manutenção dos direitos adquiridos, dos pequenos privilégios que quase todos temos, entramos num rumo insustentável: a exploração das minorias pelas maiorias, o que para além de ilegítimo, não é possível, com pujança, a prazo.

Com a democracia Portuguesa, não haverá nem revolução nem evolução: haverá emigração que, se não for estancada, implicará um pais totalmente igualitário ( o sonho de alguns), mas em que os direitos adquiridos de hoje não poderão ser garantidos a ninguém.  Simplesmente viveremos pior do que hoje.

O bloco central, o PS e o PSD, são amplamente maioritários, porque assentam a sua base de apoio no fortíssimo amor pelo Estado provedor dos Portugueses (responsável pelo fraco crescimento) e na satisfação de alguns grupos de interesse ( responsáveis por um desequilíbrio que esmaga a classe media). Sem criação de riqueza, para que uns possam progredir e viver menos mal, cabe aos outros ficarem mais pobres. Enquanto sociedade, avançamos para o Pais do salário mínimo, a realidade actual para cerca de 2/3 da população laboral.

Já sabemos que existem 3 pilares para ganhar as eleições: os votos de pensionistas, de trabalhadores que ganham o salário mínimo  e os funcionários públicos. Os 3 grupos demográficos que mais crescem em Portugal.

Mantendo o Estado director e provedor e não tocando nos pilares eleitorais, nada muda, nada se transforma, apenas se mantêm as fracas benesses dos votantes vitoriosos, esmaga-se continuamente todos os outros, já que deixou de existir o recurso ao endividamento externo. Redistribuição sem criação de riqueza, sai cara a quem tem que a pagar.

Infelizmente para quem está contente ou conformado, as fronteiras estão abertas e os mercados de trabalho da comunidade Europeia são de acesso livre. Quem está mal, pode mudar-se, emigrando. É o que está a acontecer, iniciando-se um ciclo vicioso que autossustenta a emigração o que, a medio prazo, poderá fazer implodir todo o sistema e aproximar Portugal de um pais tendencialmente de trabalhadores indiferenciados. Não era por capricho que os países comunistas mantinham as suas fronteiras fechadas.

 

Captura de ecrã 2022-09-06, às 11.03.23.pngDirão os mais optimistas que, apesar de uma emigração nos últimos anos superior á da década de 60, ( desde 2011, mais de 1.000.000 de emigrantes, dos quais mais de 400.000 permanentes) se notam indícios de que  o fenómeno está a regredir desde o pico atingido em 2014, em que registámos a emigração de mais de 134 mil Portugueses. Dirão outros que, mesmo recentemente, nos anos covid, a emigração é superior a 60.000 ( 25.000 permanente), uma franja importante dos jovens que chegam anualmente ao mercado de trabalho. Desejo que os primeiros tenham razão, mas acredito que a procissão ainda vai no adro, como dizem os outros.  

Com o garrote no rendimento das classes medias, com a aproximação do salário mínimo ao salário médio, são os mais bem preparados que hoje emigram: são os que têm mais a ganhar com a mudança. Uma tendência que representa uma viragem para um pais cada vez mais de  indiferenciados e cada vez menos com trabalhadores capazes de pagar mais impostos e criar riqueza para todos.

Captura de ecrã 2022-09-06, às 11.09.05.png

Para além da emigração tradicional, existe ainda um movimento, progressivamente mais importante, de Portugueses que  residem fisicamente em Portugal e trabalham em home office para o mundo  escolhendo pagar os seus impostos nos Países de rendimento, nalguns casos com fiscalidades muito mais atraentes.

Quantos mais trabalhadores diferenciados saírem, mais insuportável se torna o fardo dos impostos que terão que subir para quem fique. Com maior carga fiscal, os trabalhadores diferenciados, tendem naturalmente a ter maior premência e interesse em emigrar. O que por sua vez, vai alimentar o ciclo , maior emigração, maiores impostos, maior emigração, maiores impostos. Para não mencionar que maior carga fiscal é um enorme incentivo a fenómenos de evasão fiscal, mesmo com a excelente maquina montada pela autoridade tributaria, o mais eficiente serviço publico Português.

 Se os mais bem qualificados emigrarem, quem fica? Uma percentagem cada vez maior de pensionistas, funcionários públicos e  trabalhadores com salários mínimos. Quem vai pagar impostos? Como fazer redistribuição? Como aumentar o rendimento per capita, cada vez com uma maior percentagem de trabalhadores indiferenciados? Como impedir que sejam os mais pobres ( toda a população) a pagar pela maquina do Estado? Como poderemos ter um nível de vida superior ao actual ou mesmo manter o que temos, nomeadamente o nível de pensões prometidas?

 Vivemos em democracia, vivemos realmente ao ritmo e vontade da maioria. Os partidos radicais, o PCP, o Bloco, o PAN e o Chega, acrescentam folclore á vida política, mas não são responsáveis pela situação ou pela tendência que se desenha. O PS e o PSD, limitam-se a seguir, com convicção, a vontade expressa dos seus fieis. Os Portugueses ditos moderados, são os responsáveis por tudo aquilo que temos de bom, mas também de mau.

Não escolhemos ( por convicções) apenas a pobreza colectiva, a incapacidade de criar riqueza. Violámos o pacto geracional e os direitos liberdades e garantias de cada individuo, forçando muitos a emigrar. O que atingirá como um violento boomerang os inocentes, os com convicções erradas e aqueles que votaram com a sua carteira e falsos preconceitos, mas se esqueceram de fechar fronteiras. Pouco falta para sermos todos caranguejos. 



5 comentários

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De O apartidário a 06.09.2022 às 11:29

"um processo democrático  inquinado, em que as maiorias exploram as minorias ( o que é ilegítimo). Pior é que entrámos num ciclo vicioso, em que as correcções necessárias não se vão fazer, até á autofagia, ou quase, da nossa sociedade." --- Na verdade acabam por ser as minorias a explorar a maioria quase silenciosa.Como disse o bastonário dos médicos foi a  maioria dos votantes (50% dos eleitores? ) e não dos portugueses que deu a 'maioria" ao ps. E podiamos dizer o mesmo em relação às eleições anteriores que deram nas geringonças. 
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De Anonimo a 06.09.2022 às 16:38

Chular as vacas é excelente. Quase tão bom como os galos abusarem sexualmente das galinhas.
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De entulho a 06.09.2022 às 19:14

dentro de uma década, com a morte de muitos reformados substituídos por outros, o estado « au quisto xigou» fica reduzido aos funcionários públicos do ps, e os reformados: os grandes criadores de riqueza. a cada vez menor classe média irá desaparecer devido à baixa natalidade.
a minha Família e Amigos, com idades dos 60 aos 90, não deixa descendentes.
restam os emigrantes
 
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De Anonimo a 06.09.2022 às 20:55

Quem pode, sai. E não porque esteja desempregado, mas porque não vê aumentos de jeito, manda boa parte do salário para impostos, cada vez tem direito a menos e piores serviços públicos,  e ainda é tratado como "rico" se conseguir levar para casa 1500 euros líquidos,  essa fortuna.
E não é emigração de poupar para regressar e construir a casinha na terra, muito menos de "enviar remessas ", quem sai vai investir no país de destino.
Sobram pensionistas, FP, e malta do turismo . E artistas. Cuidem-se, o futuro é radioso, entre as migalhas do Costa e os Amanhãs que cantam do Tavares.
É carregar nos lucros extraordinários que a coisa faz-se.
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De Octávio dos Santos a 08.09.2022 às 13:50

«Sou um defensor da democracia mas, no caso português, é a causa directa e concreta dos nossos males: conseguimos aliar um Estado demasiado grande, ineficiente e castrador do progresso (legitimado pela maioria), com um processo democrático  inquinado. (...) Essa máquina gigantesca, ainda por cima ineficiente, esmaga ainda mais a economia com a carga fiscal e a burocracia. Por esses motivos afasta-mo-nos, em vez de convergirmos, com a nossa grande referência, os países da Comunidade Europeia (antes os ricos, agora quase todos). (...) Infelizmente para quem está contente ou conformado, as fronteiras estão abertas e os mercados de trabalho da comunidade Europeia são de acesso livre. Quem está mal, pode mudar-se, emigrando. É o que está a acontecer. (...) Com o garrote no rendimento das classes medias, com a aproximação do salário mínimo ao salário médio, são os mais bem preparados que hoje emigram: são os que têm mais a ganhar com a mudança.»



Subscrevo. Aliás, utilizei na prática os mesmos argumentos e factos aqui:


https://www.dn.pt/opiniao/a-longa-noite-socialista-14774112.html 

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