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A confiança no árbitro

por henrique pereira dos santos, em 20.05.23

Éramos muitos lá em casa e, portanto, havia muitas situações em que jogávamos o que quer que fosse.

E todos sabíamos que havia duas coisas absolutamente inaceitáveis para o meu pai: 1) acusar outro jogador qualquer de fazer batota (não só a batota era inaceitável, como não se joga com quem se admita que é capaz de fazer batota); 2) não se discutiam as decisões dos árbitros, nos jogos em que havia alguém encarregado de fazer de árbitro.

A explicação do meu pai era simples, e sempre a mesma: quem não confia no árbitro, não entra no jogo.

Lembrei-me disto a propósito de um indivíduo que, a pretexto de um caso de polícia, contactou não sei quantos ministros.

Um porque queria falar com a PSP, outro porque queria falar com a PJ, outro por causa de informação classificada, enfim, uma roda-viva.

Imaginemos que estou num edifício, que tem segurança 24 horas por dia, e me convenço de que está a acontecer qualquer coisa que justifica que se chame a polícia.

Eu, como a generalidade das pessoas, diria ao segurança para ligar para a esquadra mais próxima a pedir que a polícia viesse o mais rapidamente possível, visto que a minha preocupação seria ter a polícia a tratar do assunto no mais curto espaço de tempo, para prevenir consequências das acções em curso.

Aparentemente, outras pessoas funcionam de forma diferente: ligam ao ministro que tutela a polícia, para que esse ministro me ponha em contacto com o chefe máximo da polícia, de maneira a que o chefe máximo da polícia garanta que, o mais rapidamente possível, a polícia se encarrega do assunto.

Se excluirmos a hipótese de alguém ser completamente estúpido e estar convencido de que ligar a um ministro, para assegurar o contacto com o chefe máximo da polícia, que desencadeará a acção dos polícias mais próximos é mais rápido que ligar directamente para a esquadra mais próxima, sobra uma explicação racional para este caminho alternativo: garantir um tratamento privilegiado ao meu problema.

E isto diz muito mais sobre o que pensa o ministro Galamba do Estado e do seu funcionamento, que as não sei quantas horas de inquirições: Galamba acha que problemas comezinhos de polícia precisam do reforço da autoridade do governo para serem atendidos pela polícia, dito de outra forma, Galamba está convencido que é mais útil usar o seu estatuto para resolver os seus problemas que colocar-se em pé de igualdade com as pessoas comuns, confiando na relação do Estado com as pessoas comuns.

Por isso não entende que é o reforço da confiança das pessoas no Estado que é mais importante, e não as narrativas que, em cada momento, parecem servir melhor a sua prática política.

Nisso, infelizmente, não me parece que tenha grande divergência com António Costa.



12 comentários

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De Zé raiano a 20.05.2023 às 16:26

corre por aí que para o 'f c dos penaltis' nada mais fácil que comprar árbitros
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De O apartidário a 21.05.2023 às 14:19

Mas atenção que ontem não foram 4,foram 3 e um repetido.
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De anónimo a 20.05.2023 às 17:48

Bem visto. Uma cultura política obscurantista. E porquê?.
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De Luis a 20.05.2023 às 17:53

Claro que o sr galamba queria ter um tratamento privilegiado. Ele, como bom discípulo de Sócrates e subordinado de Costa (outro que também era um amigalhaço do sr engenheiro), vive muito bem com este tipo de tratamento. 
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De O apartidário a 21.05.2023 às 14:21

Mas não se pode dizer ,é discurso de ódio ...
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De Anónimo a 21.05.2023 às 11:42

Desde o início que algo me diz que o João Galamba e a sua chefe de gabinete estavam em pânico por algum motivo que ainda não conhecemos _ e não são só as razões que eles invocam! Mas há uma coisa que salta à vista e é para mim muito clara: queriam que a devolução do computador fosse efectuada pelo Sis e não pelas autoridades competentes nestas situações. 
Parece-me, pois, que tudo foi conduzido deliberadamente (por quem?) para que fosse o Sis a recolher o computador e para isso era forçoso que chegasse a casa de F:Pinheiro antes das autoridades policiais. E comprova-o a "pressinha" com que contactaram primeiramente aqueles serviços e o telefonema feito tardiamente  à Ministra da Justiça, precisamente quem tutela as polícias. Note-se também o facto de lhe omitirem que o Sis já tinha sido "accionado" e actuado.
  
Suspeito, por isso, que todos estes procedimentos do Min.das Infraestruturas se destinavam a retardar , calculadamente, a chegada das autoridades policiais, como de facto veio a aconteceu: a polícia só chegou na manhã seguinte para resgatar o computador e ficou muito surpreendida por já estar, desde a véspera, na posse do Ceger (organismo que faz a gestão da rede informática do governo). Tudo, no mínimo, bastante estranho...


Também é uma evidência que, naquela noite, naquele Ministério, todos reagiram de cabeça perdida, como o denotam os sucessivos telefonemas, em que todos estão "aos papéis" sem saberem o que fazer.  Perante tamanha descoordenação e incapacidade de raciocinarem com frieza,  a somar à mais que óbvia importância daquele computador _ a dada atura _ alguém  lhes deve ter dado instruções: o SIS primeiro!  O próprio "agente secreto" o confirma quando diz a Frederico Pinheiro que foi pressionado por ordens "de cima" e não quis testemunhas. 
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De Francisco Almeida a 21.05.2023 às 16:03

Boa análise. Parabéns.
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De Anónimo a 22.05.2023 às 08:54

As quatro  senhoras daquele Ministério mantiveram-se "escondidas" na casa de banho, mesmo depois de as autoridades já estarem dentro do edifício. Elas afirmaram  não as terem ouvido chegar. No entanto, parece que entraram ruidosamente e com algum aparato, dizem. 
Uma vez mais, me causa estranheza terem permanecido muito quietas e "escondidas", pois poderiam ter aparecido sem nenhum receio,  já que tinham protecção policial e portanto, estavam em segurança. Logo, o argumento de que sentiam medo não colhe, já não se justificava.
 
Muita gente na CPI interrogou: porquê, então, demorarem-se fechadas na casa de banho? Quanto a mim, não foi por estarem «cheias de medo», como argumentam. Suspeito que demoraram  porque estavam a ganhar temposabiam que teriam de fazer um depoimento, prestar esclarecimentos detalhados à Polícia, responder a perguntas, narrar a sequência dos acontecimentos, etc.etc  Ora pois então, estiveram a combinar uma versão minimamente credível, concertada para que "batesse certo" entre todos e, sobretudo para que parecesse verdadeira. 
Como diz o J.Galamba "construir a verdade dá muito trabalho!" 
(Oh! Se dá! Principalmente quando não bate a bota com a perdigota, porque tudo foi uma "reconstrução"...)
  
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De Anónimo a 22.05.2023 às 10:47

Que faz alguém que queira ter um alibi perfeito que o desresponsabilize de forma  inquestionável de "coisas" inconvenientes ou comprometedoras? 
Diz-nos a experiência que apresenta uma "prova" visível e evidente (se possível com testemunhas) de que esteve em lugar ou cenário diferente e distante daquele onde ocorreram os acontecimentos. 
"Elementar, meu caro Watson!". 
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De Anónimo a 21.05.2023 às 12:49

Podemos ter a certeza: neste caso da TAP, dos respectivos antecedentes e das devidas sequelas, há, entre os seus intervenientes, um ou vários malfeitores. O problema consiste em saber se são todos ou só alguns.

 

Podemos ter outra certeza: há, neste processo, um ou vários mentirosos. Falta saber se são todos ou só alguns.

 

É ainda certo que há alguém a preparar um roubo, a cometer uma fraude, a obter algo indevidamente, a tentar assassinar politicamente alguém, a liquidar um adversário e a destruir quem sabe segredos. Só não sabemos se é só um, se são vários ou se são todos os intervenientes.

 

Sabemos também que estão envolvidos titulares de cargos políticos, altos funcionários do Estado e altíssimos responsáveis da Administração Pública, universo este que pode incluir um Primeiro ministro, vários ministros e ex-ministros, diversos secretários de Estado e ex-secretários de Estado, chefes de gabinete, adjuntos, assessores, auditores jurídicos e administradores de empresas públicas. Uma vez mais, não sabemos se todos ou só alguns têm culpas e responsabilidades.

 

É seguro que algo está em causa, mais importante do que um computador, dois socos, três bofetadas e uma ameaça de agressão" --- António Barreto

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De Anónimo a 21.05.2023 às 13:04

(cont.)
Já se percebeu que houve mentira, traição, ciúme, engano, ameaça, violência e abuso. Mas porquê? O que estava em causa realmente? Dinheiro? Interesses estrangeiros? A companhia de aviação? O aeroporto? O lítio? Os comboios e o TGV? A rede eléctrica nacional? As “renováveis”? Uma coisa parece certa: para que os intervenientes se tenham deixado enredar em cenas ridículas próprias de telenovela, é necessário estarem de acordo sobre um ponto: o silêncio sobre o essencial. Fica-nos a certeza de que este silêncio e a zanga têm origem num passado de cumplicidade.(...)

alguns ou todos se portaram mal, abusaram de poder e de funções, mentiram, esconderam, ameaçaram, agrediram, roubaram, destruíram, quebraram, negaram, tentaram liquidar, apagaram documentos, “limparam” telemóveis e computadores, sonegaram provas, esconderam fontes e acusaram falsamente outras pessoas. Todos? Só alguns? Quem?

 

Raramente, nestas décadas que levamos de democracia, se atingiu um ponto tão baixo de miséria moral, de atentado político, de vilania, de imoralidade e de sem vergonha! Há gente que, por bem menos, reside actualmente na Penitenciária, em Custoias ou em Pêro Pinheiro. Raramente como agora a Justiça portuguesa esteve tanto em causa. Raramente como agora o Estado de Direito esteve tão ameaçado.

 

Na mafia, nos gangues de Nova Iorque, entre oligarcas de Moscovo, nas redes de tráfico de droga, no mercado do sexo e de trabalhadores clandestinos, nos serviços de imigrantes, no comércio de armamento, nos arranha-céus de magnates do petróleo ou nos resorts dos bilionários dos metais raros, há procedimentos parecidos com aqueles que se adivinham neste processo. Com a diferença de montantes e de pessoas envolvidas, com certeza. Mas com uma similitude moral indiscutível.--A:Barreto

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De Anónimo a 21.05.2023 às 13:05

daqui:
http://o-jacaranda.blogspot.com/2023/05/grande-angular-uma-republica-de-garotos.html

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