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A confiança é a base do capitalismo

por henrique pereira dos santos, em 27.03.24

O capitalismo funciona na base da confiança entre as pessoas.

Claro que o sistema repressivo do Estado reforça essa confiança quando penaliza as quebras contratuais, mas na base está mesmo a confiança entre as pessoas que permite aliviar os sistemas de controlo e tornar tudo mais eficiente.

Durante algum tempo é possível usar essa característica para subir rapidamente, enganando os outros, mas se é sempre possível enganar alguém durante muito tempo, não é possível enganar toda a gente durante todo o tempo.

O problema da relação entre a AD e o Chega está num desencontro que não se poderia resolver sem confiança, e Montenegro não tem confiança em Ventura (eu também não).

Dizer-se que era possível ter um governo estável com um acordo entre a AD e o Chega porque matematicamente desse acordo resulta uma maioria de deputados, pressupõe a convicção de que André Ventura cumprirá adequamente os compromissos que assumir, convicção que, a não existir (e como eu compreendo que não exista), torna a vantagem matemática numa inutilidade política.

Aparentemente há um braço de ferro pelo primeiro lugar à direita, de que resulta a falta de confiança de Montenegro em Ventura, suspeitando que toda a sua acção política tem como objectivo levar o Chega a substituir o PSD no regime, e a falta de interesse em Ventura se associar, de forma tranquila, ao seu principal inimigo, intuindo que o crescimento que a aliança objectiva que estabeleceu com o PS lhe permitiu, possa ser limitado numa conjuntura menos favorável.

Ventura e António Costa são muito iguais, aos dois a governação não interessa muito, o que lhes interessa é o exercício do poder, e isso permite-lhes em cada momento defender qualquer política que lhes garanta poder, tornando-os adversários temiveis.

Os tempos mais próximos não parecem estar de feição para institucionalistas como eu, que gostam de governos e políticos cinzentos, que executem políticas públicas minimalistas, deixando às pessoas, tanto quanto possível, as decisões que entenderem tomar, livremente, respeitando o carácter sagrado do direito à asneira.


16 comentários

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De O apartidário a 29.03.2024 às 16:23

O PSD escolheu um caminho duvidoso
O PSD até terá pretensões reformistas. Mas o PS não existe para facilitar reformas. Não é provável, portanto, que um governo dependente da benevolência socialista fique na história do reformismo.

29 mar. 2024, 00:20 no Observador

Durante algum tempo, pareceu que não ia acontecer por cá. Por todo Ocidente, as crises da globalização fizeram crescer as esquerdas radicais e as direitas nacionalistas. Em poucos anos, surgiram partidos novos, e velhos partidos mudaram de orientação. Em Portugal, no entanto, o parlamento continuou a abrir o mesmo leque partidário da Assembleia Constituinte de 1975, como um imperturbável museu de história política. Em 2019, porém, o sistema abriu brechas. A 10 de Março, veio abaixo.

A dúvida sobre se a história ia passar por aqui teve a ver com o PS. A certa altura, os socialistas deram a impressão de ter encontrado a fórmula, numa sociedade envelhecida e debilitada, para blindar o sistema contra renovações: capturar o Estado e clientelizar os seus dependentes, usando o apoio do BCE e os fundos europeus. A comunicação social contribuiu, cancelando quem não cantava no coro. Mas nem assim o sistema aguentou. Não podia. Os abalos eram demasiado grandes. Com muitas ou poucas queixas, os portugueses viviam por volta de 1995 num país que era deles, mais ou menos funcional, e que esperavam se tornasse melhor, numa Europa aparentemente destinada à paz e à estabilidade. Tudo isso acabou, com o mais longo período de divergência económica em relação à Europa ocidental desde a II Guerra Mundial, as migrações descontroladas, o wokismo oficializado, e o retorno à Europa da inflação e dos conflitos entre grandes potências. Neste contexto de declínio e de incerteza, os abusos e a incapacidade da oligarquia tornaram-se insuportáveis. Foi isto, e não qualquer excerto de prosa judicial, que derrubou António Costa. E foi isto, e não qualquer birra passageira do eleitorado, que avassalou o sistema partidário.


Continua 
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De O apartidário a 29.03.2024 às 16:24

É possível, porém, que o sistema tente resistir, com um novo protagonista. Após o 10 de Março, Luís Montenegro tinha, em teoria, dois caminhos. Um deles era tentar organizar a maior maioria de direita de sempre, de modo a viabilizar um governo de ruptura com as políticas dos últimos anos. Tratava-se de reunir a direita para fazer reformas, como António Costa reuniu a esquerda em 2015 para resistir às reformas. O outro caminho era propor-se como o novo porteiro do sistema, e esperar que uma governação concentrada na satisfação dos dependentes do Estado e na distribuição do PRR lhe traga os votos de que até agora beneficiaram os socialistas. As “linhas vermelhas” já tinham revelado inclinação pelo segundo caminho. O acordo com o PS para a partilha da presidência da Assembleia da República confirmou a opção.

A Luís Montenegro, no entanto, este caminho deveria merecer alguma reflexão. O PSD até pode, caso se mantenha no governo, saciar a obsessão de “reconciliar-se” com os pensionistas. Mas entretanto, já Pedro Nuno Santos provou que “só o PS resolve”, sempre no lugar do patrão, e André Ventura ficou livre de responsabilidades, como oposição ao bloco PSD-PS. Quando a nossa estratégia também serve aos nossos adversários, devemos duvidar. Resta saber se serve ao país. Talvez Luís Montenegro tenha pretensões reformistas. Mas o PS não existe para facilitar liberalizações (chamemos as reformas pelo seu verdadeiro nome). Não é provável, portanto, que um governo dependente da benevolência socialista fique na história do reformismo. Mas sem reformas, só por grande acaso é que a economia voltará a convergir, a saúde e a educação estarão garantidas, e a sociedade recuperará confiança. O que significa que a turbulência e a transformação do sistema partidário não está para acabar. De facto, ainda só agora começou.

Rui Ramos no Observador

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