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A comunicação social vai perder as próximas legislativas

por henrique pereira dos santos, em 11.03.25

"Uma das suas fontes de rendimento em 2021 foi uma empresa de consultoria que criou em janeiro desse ano, com a mulher, Carla Neto Montenegro, e os dois filhos, dando como sede a nova casa da família. A Spinumviva, Lda, é uma consultora “de gestão e exploração agrícola, turística e empresarial”, que inclui no seu objeto de atividade a “orientação e assistência operacional às empresas ou a organismos (inclui públicos) em matérias muito diversas, tais como planeamento, organização, controlo, informação e gestão”, entre outros serviços.

O político teve 62,5% das quotas da Spinumviva até desistir delas e do cargo de gerência, que partilhava com a esposa em junho de 2022, após ter sido eleito presidente do PSD. A empresa faturou €68.000 em serviços prestados durante o seu primeiro ano, de acordo com o relatório e contas que apresentou. Há um ano Carla Montenegro passou a assumir 72,5% das quotas e a função de sócia-gerente".

Esta citação é de uma notícia do Expresso, de Maio de 2023, reforço, Maio de 2023. Na altura o foco da intriga era identificado no título da notícia: "Montenegro não declarou valor de casa com seis pisos", e o jornalista que escrevia a peça era Micael Pereira.

Nada na peça parecia ser relevante, pura coscuvilhice embrulhada numa suposta procura de transparência e legítimo escrutínio jornalístico.

Claro que o assunto foi cavalgado por adversários políticos de Montenegro (e os moralistas habituais nestas coisas, que alimentam o populismo), culminando numa denúncia anónima que obrigou o Ministério Público a investigar o assunto (já não era uma questão de declaração no tribunal constitucional, mas sim de favorecimento no licenciamento e na atribuição de um benefício fiscal), mas a origem é uma opção jornalística evidente, a de contrabandear coscuvilhice como jornalismo.

Sem surpresa, no dia 2 de Dezembro de 2024 (um ano e meio depois), depois de muita acusação infundada com base na opção jornalística citada, o Observador (como outros jornais), lá aparece com a notícia de que o inquérito tinha sido arquivado e não se viam sinais de qualquer irregularidade (nem mesmo na disparidade entre os gastos com a casa e os rendimentos de Montenegro, que a notícia citada inicialmente referia como sendo de cerca de 200 mil euros anuais, ou seja, 14 mil euros mensais, 14 meses, um bom rendimento, mesmo descontado as pesadas cargas fiscais que existem em Portugal para este tipo de rendimentos).

O Expresso, e o mesmo jornalista, voltou mais recentemente à carga, apesar de estar fartinho de saber da empresa da família Montenegro, como se demonstra pela citação que fiz da notícia de 2023.

A técnica jornalística é a mesma, contrabandear coscuvilhice como escrutínio jornalístico (como se demonstra pela frase com que abre a peça citada "A relação entre o grupo Solverde e Luís Montenegro é antiga e ainda não terminou", insinuando que Montenegro continua a manter relações profissionais com a Solverde).

Os jornalistas argumentam que é assunto com muito interesse porque a concessão do casino está a acabar e vai ter de ser decidida, portanto esta relação que se mantém (de acordo com o boato que os jornalistas promovem) revela um conflito de interesses que justifica toda a devassa subsequente.

A peça do jornal é toda sustentada numa característica transversal a quase todo o jornalismo actual e que consiste em fazer perguntas sem interesse nenhum, em tom de suspeita (por exemplo, o Observador, para noticiar que Montenegro respondeu às perguntas dos partidos, lista uma série de coisas que não se sabe, destacando a momentosa questão de não se saber quem foram os clientes responsáveis por 16% da facturação da empresa, sem que, naturalmente, os jornalistas do Observador se sintam obrigados a justificar qual é a relevância dessa informação).

Claro que os adversários políticos de Montenegro cavalgam as oportunidades criadas pela comunicação social, e o Partido Socialista decide fazer uma comissão de inquérito para poder ter acesso à documentação de uma empresa privada, sem que consiga explicar que indícios tem de que Montenegro mente, criando dúvidas razoáveis da prática de ilícitos que justifiquem uma devassa proto-judicial a terceiros.

É a coligação entre agentes políticos populistas (quer nos partidos, quer no comentariado) e uma comunicação social que desistiu de responder aos seus leitores e prefere falar em circuito fechado dentro de bolhas sociais completamente imunes à realidade, que irá ser referendada nas próximas eleições legislativas antecipadas.

Se Montenegro ganhar as eleições, é claríssimo que grande parte dos eleitores não atribuem ao jornalismo mais credibilidade que o Bloco de Esquerda atribui ao Chega, porque nenhum primeiro ministro acusado na imprensa (directa ou insidiosamente) como tem sido Montenegro poderia ganhar eleições, se a imprensa tivesse uma credibilidade sólida.

E imprensa sem credibilidade faz tanta falta como uma viola num enterro, como a falência de tantos jornais de facção demonstra, com especial destaque para o jornal que se apresentava como "a verdade a que temos direito".

P.S. Pedro Nuno Santos terá mentido de forma evidente na entrevista que deu ontem. As notícias não são de que mentiu, mas sim de que é acusado de mentir, escusando-se os senhores jornalistas a fazer o necessário escrutínio e apresentar aos seus leitores as suas conclusões. Depois queixem-se da crise da imprensa


20 comentários

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De cela.e.sela a 11.03.2025 às 10:57

a comunicação social é totalmente radical no seu fabrico de notícias falsas e não possui a mínima credibilidade. passou de coxa a paralítica.
com o ataque a Montenegro pretende paralisar o país
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De passante a 11.03.2025 às 10:59

atribui ao Chega,


Por falar nisso, tenho um palpite que a desaustinada campanha contra esses vai também sair pela culatra. E nem é por os votantes gostarem particularmente do Ventura unipessoal, é por ser atacado pela imprensa do regime.


"Não sei para onde vou, Não sei para onde vou —Sei que não vou por aí!" como Régio resumiu o anarquista português.
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De Anonimo a 11.03.2025 às 11:12

O grande medo é o conjunto de reformas estruturais que este Governo já colocou em marcha, nomeadamente PPP na área da saúde.
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De lucklucky a 11.03.2025 às 12:53

Isso não é uma reforma estrutural. 
A unica reforma estrutural deste governo foi a criação de mais um monstro "Comissão para a Acção Climática" .
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De F. Carrapatoso a 11.03.2025 às 12:23

Uma Sra. Deputada é casada com um Sr. Advogado que pelo seu escritório recebe milhares de euros em avenças com entidades publicas, nao privadas.
Pergunta : a Sra Deputada é beneficiária daqueles rendimentos?
O Sr Marido teria acesso aqueles rendimentos sem a relação conjugal?
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De Pedro Oliveira a 11.03.2025 às 12:54

F. Carrapatoso,
E que tal colocar os nomes?
Chamar os bois (salvo seja) pelos nomes?
O problema não são os negócios do Estado, não é a promiscuidade entre empresas privadas e o Estado, não é a promiscuidade entre empresas privadas fictícias e autarquias. 
O problema é quando alguém quer ser independente do Estado, cria uma empresa privada e faz negócios privados com empresas privadas, isso é que tem de ser esmiuçados e justificado.
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De Vareiro a 11.03.2025 às 12:41

Henrique, escreve um leitor que o acompanha há muito e que concorda com grande parte da argumentação que tem apresentado no blogue, sobre este caso específico. Não obstante o lodo em que a imprensa política tuga se tornou, os excessos e manipulações que têm sido cometidos sobre a Espinho Viva (já agora, trata-se de um pregão de vendedoras de peixe, agora abastardado com uma latinada), e a óbvia perseguição a Montenegro...isto pede meças. O nosso PM é um homem de ética, digamos, duvidosa: ajustes diretos a esmo; contratos para obras públicas dirigidos a amigos de Braga; tachos para amigos aos magotes, tanto no Estado como fora dele; proximidades e cumplicidades estranhas, para sermos simpáticos; e agora o pináculo da empresa, que foi criada para gerir uns terrenos e umas casas, mas onde ele "viu a oportunidade" - não sou eu que digo, foi ele a dizê-lo na entrevista de ontem - de fazer mais uns patacos. Ora, isto pode qualificá-lo como tudo, menos como um primeiro-ministro decente, de um país que já teve disto no passado e deve querer tudo menos repetir experiências infelizes. Dá pena, sinceramente, ver gente verdadeiramente honesta a defendê-lo. Ele não merece a cortesia. 
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De henrique pereira dos santos a 11.03.2025 às 13:03

Não tenho ideia de ter defendido Luís Montenegro nenhuma vez.
O que tenho feito, é criticar a forma como tem sido atacado, por coisas sobre as quais não existe qualquer indício de ilegalidade ou irregularidade.
Há várias coisas discutíveis mas não são discutidas racional e cartesianamente.
Quanto ao resto tudo de que fala, não sei do que se trata porque não vi ninguém discutir isso, mas isso ou é ilegal, e cabe à polícia resolver, ou não é ilegal, e cabe aos eleitores resolver.
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De Vareiro a 11.03.2025 às 16:30

Que a discussão política é toda ela irracionalidade, subscrevo. Assim como a forma como o PM tem sido atacado. O resto, muitos sabem, mas preferem não ver. E, sim, estaremos a falar de coisas que estão na fronteira da legalidade, mas que me parecem flagrantemente imorais e impróprias de um decisor público. Já agora, gostava de ouvir muitos dos que defendem Montenegro (não me refiro ao Henrique, entenda-se) a perorar sobre um Sócrates ou até um Costa. O double standard deve ser gritante! 
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De henrique pereira dos santos a 11.03.2025 às 13:05

Note-se que ainda há muito pouco tempo fiz um post sobre nomeações inacreditáveis feitas por este governo, o que acho que demonstra que grande parte do que escreve neste comentário não se aplica ao que tenho escrito.
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De passante a 11.03.2025 às 16:41

Espinho Viva (já agora, trata-se de um pregão de vendedoras de peixe


Ora aí está uma nota com graça. Alguma espécie de pescado em particular, no pregão?

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De Anonimo a 11.03.2025 às 12:50

Montenegro está a ser alvo de um atentado ao seu carácter   e o Governo de um golpe de Estado.
Esperavam que se acobardasse qual Costa, mas podem esperar sentados.
Ou fazem-se homenzinhos e mandam abaixo o Governo no Parlamento, ou metam a viola no saco.
Doge em Portugal 
MEGA 
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De lucklucky a 11.03.2025 às 12:57


O Montenegro quiz salvar a pior profissão, tem o que merece.


Qualquer coisa neste ataque jornalista parece ter sido engenhado para acontecer agora, já que nada disto é novo. A pergunta é porquê?
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De Antonio Maria Lamas a 11.03.2025 às 14:53

Já não há pachorra para isto 
Por mim desligo..
Estou farto de jornalistas, comentadores, políticos. 
Tenho mais que pensar e fazer
As Bolsas a cair por causa do maluco americano, o mundo todo à pancada e não se sabe como vai acabar.
E aqui neste canto da Europa, que só sabe parir futebolistas de génio e políticos e jornalistas de vão de escada, preocupam-se com uns euros recebidos por um PM espertalhão. 
Tenham juízo. 
Vou continuar a começar o dia a ver a RTVE e a SKY. 
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De Anónimo a 12.03.2025 às 16:38

Muito bem. Isto é o que pensam 70% dos portugueses.
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De cheia a 11.03.2025 às 18:55

Não são as eleições que vão lavar a imagem de Montenegro. Até pode ganhar por maioria absoluta, mas a nódoa, vai carregá-la por toda a vida. 
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De Pedro Oliveira a 11.03.2025 às 20:44

Mas qual nódoa?
A nódoa de ser político e ter uma empresa privada que faz negócios com outras empresas privadas?
Se estivesse a chular o Estado era melhor? Se a empresa de Montenegro tivesse negócios com autarquias ou com outros organismos do Estado é que estaria tudo bem?
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De Anónimo a 11.03.2025 às 23:48

" Não é não"...Concordo , vai carregá-la toda a vida...
Juromenha

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