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A cisma da imprensa com linhas vermelhas

por henrique pereira dos santos, em 15.10.25

Depois das eleições a imprensa faz o mesmo que antes das eleições: pergunta, responde, discorre sobre a magna questão das linhas vermelhas, um assunto que não interessa nada à generalidade das pessoas.

Algures no tempo, a esquerda reciclou o papão do fascismo, aplicando-o à direita populista, nacionalista, radical ou mesma extrema, como se queira chamar, sem sequer reparar que nem sequer é linear que grande parte dessa direita seja sequer direita.

Certo, certo é que não têm milícias partidárias armadas, que as suas manifestações não são organizadas com uma estética militar e enquadradas por essas milícias armadas, que não andam a partir montras de lojas de judeus, que não matam gatos nas ruas em rituais violentos, que não estão sempre a clamar contra as regras democráticas que alimentam a plutocracia, etc., etc., etc., sendo por isso difícil ver algum paralelismo entre os partidos dessa direita e os verdadeiros partidos fascistas, tanto mais que alguns chegaram ao poder e não o usam para liquidar fisicamente adversários e inimigos (as purgas internas são semelhantes às de qualquer outro partido actual, não há exemplos de noites de facas longas) nem para militarizar furiosamente os regimes a que presidem.

Depois de agitar o papão, a esquerda e a imprensa (desculpem o pleonasmo) passou a ameaçar a direita moderada de ir para o Inferno se fizesse qualquer acordo com os fascistas (em Portugal, representados pelo Chega, um pobre partido que governa três câmaras municipais e tem vereadores suficientes em mais umas quantas para decidir que propostas se aprovam ou chumbam).

Montenegro cedeu à chantagem da imprensa (neste caso, é mesmo da imprensa) e resolveu dizer que não faria uma coligação de governo com o Chega (suspeito que mais que o barulho da imprensa, Montenegro confiava pouco em André Ventura, por boas razões, e não queria perder a autonomia estratégica para um parceiro que, para além de ser pouco confiável, tinha como estratégia ter mais um voto que o PSD, passando a liderar o bloco que não é o bloco da esquerda).

Para além da insistência na pergunta, sempre respondida da mesma maneira, a imprensa, na sua maneira habitual de torturar a literalidade das palavras até que digam o que os jornalistas querem que digam, resolveu estender a ideia de não fazer coligações de governo com o Chega a toda a actividade política, passando a considerar que se Montenegro e Ventura se cruzarem na rua e, educamente, apertarem as mãos, Montenegro, o PSD e a direita moderada estão a violar a promessa de não passar linhas vermelhas em relação ao Chega.

Esta estupidez (as minhas desculpas, é mesmo estupidez) tem sido a base de análise dos resultados destas autárquicas, como um número não pequeno de jornalistas à procura da linha vermelha ultrapassada ou a ultrapassar em cada câmara ou junta de freguesia.

E, no fim, jornalistas que se preocupam com assuntos irrelevantes, que torturam a informação que diz respeito a esses assuntos irrelevantes, que andam à procura de sinais metafísicos de confirmação das teorias idiotas que inventaram sobre factos irrelevantes, queixam-se da crise do jornalismo que os faz ser mal pagos e ter poucas opções de trabalho.


20 comentários

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De cela.e.sela a 15.10.2025 às 10:46

numa parede do Guadalquivir em Sevilha ainda se pode ler uma velha inscrição: 'és sólo mierda'. penso que se referia à CS e aos políticos de esquerda:
temas com ''fratura exposta'': elevador, aviões das Lajes, etc
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De O apartidário a 16.10.2025 às 17:48

E o problema com a realidade não é exclusiva dos média,nem dos políticos ditos de esquerda:


Artigo de 1 de Agosto no Observador(claro que são casos isolados, a questão é depois a soma dos casos ditos isolados) 

https://observador.pt/2025/08/01/diretor-nacional-da-psp-diz-que-homicidios-na-grande-lisboa-sao-casos-isolados/


Curiosamente, nesta segunda semana de Outubro (por exemplo) já aconteceram uma "catrefada" de casos isolados na região de Lisboa (homicídios em Cascais, Lisboa e Barreiro e 3 atingidos a tiro na Amadora, podcast Explicador sobre isso mesmo no Observador a seguir)

https://observador.pt/programas/explicador/criminalidade-temos-importado-tendencias-mais-violentas/
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De Anónimo a 15.10.2025 às 10:55

O Chega é só André Ventura.


Honra lhe seja feita, consegue ser extraordinariamente numeroso, mas o partido continua a ser um homem só.


André Ventura deve rezar a todos os santos para nunca ter uma votação tão expressiva que o obrigue a mostrar o que vale em matéria de governação.


Como dizia o outro; quando a maré baixa e que se vê quem está a nadar sem calções...                 
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De Anónimo a 15.10.2025 às 12:29

Nos tempos de Mário Soares o PS também era um partido de um homem só.
Nos tempos do Freitas do Amaral o CDS também era o partido de um homem só.
Deixe que o chega já lá chega ao que pretende, em nenhuma eleição a que foi até hoje o partido desceu.
E até hoje nenhum outro partido cresceu tanto. 
E tudo isto só em 4 anitos.
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De Anónimo a 15.10.2025 às 14:45

Pois é isso exatamente.
Eu chamo "conversa de velhos" à conversa do Anónimo das 10.55, mas dos velhos que nunca aprenderam nada e já esqueceram tudo.
E eu já sou quase, quase bisavô e ainda vou fazer 80...
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De Anónimo a 15.10.2025 às 18:23

Não é uma questão etária mesmo que metaforicamente.


O Chega tem sido sujeito a um fogo de barragem constante, praticamente desde que apareceu.


Essa barragem crescerá sempre que aumentarem as hipóteses do Chega e isso recomenda precaução suplementar.


Imagine um ministro das malas
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De Anónimo a 16.10.2025 às 12:37

Já teve vários "ministros das malas" a governar-nos no passado.
Qual deles é que gostou mais?
João Galamba, Eduardo Cabrita, Miguel Macedo, Manuel Pinho, José Sócrates, Pedro Siza Vieira, Paulo Portas.


São poucos nomes? Quer mais?
https://cnnportugal.iol.pt/arguidos/politicos-na-justica/poder-ha-191-politicos-a-bracos-com-a-justica-desde-2017/20230510/645a7626d34ef47b8753ad0a


Tem lá os do chega que organizaram um jantar comício durante a covid, agora seja sério e compare com os crimes cometidos pelos outros. 
Quais acha que têm a probabilidade de o ter afectado mais de forma directa e indirecta?
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De Anónimo a 15.10.2025 às 14:48

Inteiramente de acordo.


Um percurso a todos os títulos notável .
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De Anónimo a 16.10.2025 às 13:11

Pois aí reside o "cherne" da questão; 


O Chega tem de preocupar-se apenas, só e radicalmente consigo. 


Não tem de ser muleta, não tem de ser reação seja a quem fôr.


Tem apenas de ser; o caminho faz-se andando.
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De Anónimo a 15.10.2025 às 11:00

Perdoe-me, mas não são jornalistas, são "jornalistas"...
Juromenha
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De JPT a 15.10.2025 às 12:39

O HPS que não se preocupe, que devemos estar a semanas de um Câmara PS precisar de um vereador do Chega para aprovar coisas e aí o tema das “linhas vermelhas” acaba logo.
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De leitor improvável a 15.10.2025 às 12:58

E que tal experimentar produtos digitais europeus?
https://leiturasimprovaveis.blogs.sapo.pt/alternativas-europeias-para-produtos-e-194826


Pode ser que venha a ter uma visão diferente das coisas...
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De Anónimo a 16.10.2025 às 03:01

O ataque ao jornalismo é uma obsessão que apenas se torna compreensível na tendência totalitária de controlo da informação. É uma manifestação saudosista do tempo da censura e da ditadura. Indagar, interrogar, investigar, procurar uma aproximação à explicação dos acontecimentos incomoda muita gente, mesmo nos meios que, pretensamente, fazem do exercício do pensamento e da sua expressão escrita o seu ‘modus vivendi’. Da contradição saem argumentos e considerações estranhos como  “nem sequer é linear que grande parte dessa direita seja sequer direita” ou “[jornalistas] que torturam a informação”. 
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De henrique pereira dos santos a 16.10.2025 às 07:22

Confundir críticas com ataques é uma opção típica de cabeças corporativas e totalitárias
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De Anónimo a 17.10.2025 às 03:26

Baralhe e torne a dar. Imagino que tem tanto que escrever que nem tem tempo para ler os comentários que lhe enviam. Faça um esforço …
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De lucklucky a 16.10.2025 às 07:46


Tendência totalitária é o que é o jornalismo hoje. Que pelos vistos defende. È só a profissão menos democrática e com menos diversidade em Portugal.


Aqui está um excelente exemplo extremismo de esquerda do jornalismo, num jornal dito de direita.


"Ricardo Leão, o autarca polémico do PS"
 https://observador.pt/especiais/efeito-leao-testa-limites-e-desafia-ps-a-repensar-estrategia/


Voce ouve ou le algum jornalista a descrever a Mariana Mortágua como polémica apesar das opiniões dela e da sua ideologia?
Ou seja a Mortágua está dentro da Overton Window da profissão de jornalista. O Ricardo Leão não está.  


Polémico ou Controverso é uma "palavra código" do jornalismo. Habitualmente utilizado para assustar o leitor/ouvinte para caracterizar pessoas com opiniões que o jornalista não concorda.
Um dos opostos é Apaixonada...
Uma ideia/opinião de direita é Polémica ou Controversa.
Uma ideia/opinião de esquerda é Apaixonada, Integra...na pior das hipóteses utópica. Nunca má.
Isto apesar de boa parte defender o genocídio de inteiras classes sociais.
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De Anónimo a 16.10.2025 às 13:21

Ora nem mais.
Por alguma razão continuam as manifestação pró palestina. O que a esquerda na realidade quer são guerras como a de gaza e como a da ucrânia. Fingem que é o contrário, com quase toda a comunicação social a protege-los bem.
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De M.Sousa a 16.10.2025 às 08:42

Carlitos, pá lá estás tu! Olha que o Partido pode estar a caminho de ejectar os esquerdoidos ... Ainda ficas sem a avença dos blogues e comentários...
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De Anónimo a 16.10.2025 às 14:51

"nem sequer é Linear que grande parte dessa direita seja sequer direita"


Está frase fez surgir a recordação de um livro que li há muitíssimos anos.


O título creio era "Nova Direita Nova Cultura". Cito de memória, mas creio que começava assim; 


Que é ser de Direita ? Que é ser de Esquerda ? 


Conheço muitos homens de Direita com excelentes ideias de Esquerda e muitos homens de Esquerda com formidáveis ideias de Direita ...
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De José Costa-Deitado a 16.10.2025 às 09:59

O país real não anda obcecado com “linhas vermelhas”, mas sim com salários, impostos, segurança, serviços públicos e futuro. É a bolha mediática que insiste em transformar cada aperto de mão, cada conversa ou cada votação local num “drama democrático”, enquanto a vida das pessoas continua sem respostas.

O mais grave é que esta insistência obsessiva em agitar fantasmas serve para duas coisas:

·       Bloquear soluções políticas reais e impedir acordos legítimos num sistema democrático.

·       Proteger o “centrão” e a esquerda, usando o “papão” como arma de chantagem moral.

A verdadeira crise não está nas “linhas vermelhas” — está num jornalismo militante, incapaz de sair do guião ideológico que ele próprio escreveu. 

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