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Tenho procurado evitar, agora, a discussão de responsabilidades políticas no fogo de Pedrógão Grande: é cedo, tenho pouca informação e prefiro não correr o risco de ser injusto.
Mas o que é de mais é moléstia.
O Governo num primeiro momento ensaiou a clássica estratégia mediática de contenção de danos, desvalorizando o que se estava a passar. Até aqui está dentro do cinismo típico de quase todos os governos nestas circunstâncias. E a probabilidade de ter sucesso nesta operação de comunicação seria muito elevada, não se desse o caso de ser impossível desvalorizar a dimensão da catástrofe humana.
Rapidamente o governo virou a agulha e passa agora todo o tempo a procurar consolidar a ideia de que condições meteorológicas excepcionais e imprevisíveis ocorreram e ninguém pode estar preparado para o desconhecido.
Nessa tentativa de manipulação (infelizmente não há jornalista que pergunte "se assim foi, o governo está a dizer que quando houver outra vez condições extremas como estas, as pessoas comuns que se amanhem porque o Estado não sabe o que fazer?") desempenha um papel essencial a credibilização científica da teoria de que ocorreram condições meteorológicas absolutamente excepcionais e imprevisíveis ("um nevão no Algarve em Agosto", para usar o exemplo de João Miguel Tavares).
É absolutamente indecorosa a utilização de serviços técnicos do Estado, como o IPMA (António Costa fez parte de um governo que usou o mesmo esquema com o Banco de Portugal a calcular défices virtuais para abrir espaço político ao aumento do défice do primeiro ano dos governos Sócrates, portanto sabe muito bem como isto se faz e acha normal) da forma como está a ser feita, prestando-se o IPMA e o seu presidente a colaborar no embuste.
O que o IPMA tinha a fazer era simplesmente dizer o que é tecnicamente razoável, que sim, que houve condições meteorológicas extremas, relativamente raras, mas que sempre existiram e sempre existirão.
Ao prestar-se à pura manipulação política como a que foi montada, com o primeiro ministro a fazer perguntas formais retóricas e o IPMA a mandar respostas encenadas (quem não se lembra das encenações de Costa fingindo estar a negociar com a coligação que ganhou as eleições, ao mesmo tempo que montava uma solução alternativa que pressupunha a ausência de resultados dessas supostas negociações), o IPMA diminui-se a si próprio e mina a sua credibilidade, contribuindo para a desconfiança das pessoas comuns em relação a um Estado completamente enfeudado à conveniência política do governo.
O IPMA resolveu contribuir para a chuva dissolvente que cai sobre as instituições públicas em Portugal, infelizmente.
Vamos aqui separar a questão politica, da questão científica. Temos séculos de causas humanas para os nossos incêndios, séculos de governos e ocupação humana. Vou apenas falar do tema do post, as previsões do IPMA e as condições meteorológicas particulares deste incêndio.
Das duas, uma, ou os técnicos do IPMA são incompetentes, ou tiveram ordens de cima para enganar. Qualquer uma destas acusações é grave.
Sobre o seu comentário, excepcional, por definição, é o não é previsível ou aquilo cuja previsão é limitada. Eu não consigo prever que venha um carro em sentido contrário na autoestrada. Mas pode acontecer que imediatamente antes de me meter na autoestrada surja um aviso de que existe um condutor em sentido contrário e, nesse caso, tenho tempo de ir por outra estrada. Com as devidas adaptações, é assim para o caso da neve em Lisboa.
É um pouco de arrogância pretender prever tudo o que acontece na natureza. A ciência não é omnisciente e omnipotente. Mas, já agora, João Sousa, elucide-me do modelo matemático que usa para prever as condições particulares dos ventos que se fizeram sentir. É mesmo ignorância minha e estou disposto a aprender com quem sabe.
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