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Nos últimos tempos estive a ler um livro que me foi oferecido por um bom amigo, a História de Vila Nova de Milfontes publicada pela Câmara de Odemira, da autoria do historiador António Martins Quaresma, uma coisa séria com muita investigação e profusamente ilustrada. A história de Milfontes é uma longa história de pobreza extrema e resistência duma vila fundada com homiziados (uma espécie de degredados), desde a carta de foral de Dom João II até ao Século XX, quando a beleza natural finalmente se torna um motivo de fortuna (!) - pouco mais a vila teve alguma vez para dar que o encanto da Foz do rio Mira. Com umas terras muito pobres e uma barra traiçoeira e sem um porto decente que só foi construído em meados do séc. XX, (a pesca só era praticável no Verão), as populações até ao século XVIII eram constantemente fustigadas por galés de corsários argelinos, que pilhavam o pouco que havia e raptavam os habitantes para negociar resgates. O emblemático forte a que chamam castelo, cuja ponte levadiça já estava irremediavelmente avariada poucos anos depois da sua construção no séc. XVII, nunca estava suficientemente equipado, nem de soldados nem de armamento (pólvora, por exemplo), tornou-se mais um elemento dissuasor. E também há a extraordinária historia de um tal António Afonso (que chegou a ser cabo da praça ou “capitão” do castelo) raptado e resgatado aos argelinos, um tipo insolente, espadaúdo e bebedolas que foi condenado a 6 meses de degredo em Évora pela Inquisição por, num casamento, dentro da Igreja, sob o efeito do álcool se ter metido com a noiva e pronunciado terríveis blasfémias. Afinal isto não mudou assim tanto, pois não?
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