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Durante uns tempos, na minha rua, trabalhava uma senhora que deixava um miúdo por volta dos três ou quatro anos, penso eu, com o que penso que fosse o seu companheiro, enquanto exercia a profissão das senhoras que à noite andam por ali.
O miúdo parecia claramente bem tratado, o senhor era bastante fechado, mas simpático, por uma ou outra vez em que estavam sentados no ressalto do meu prédio fui perguntando se o miúdo não quereria qualquer coisa, fosse água, comida ou qualquer agasalho.
Apesar do insólito da situação, nunca me passou pela cabeça chamar a polícia (penso que de vez em quando alguém chamava) porque não tenho assim tanta confiança no Estado que parta do princípio de que o miúdo estaria melhor nas mãos do Estado que nas mãos daquele casal que parecia ter, pelo miúdo, verdadeiro desvelo.
Um dia que um dos meus amigos achou inacreditável um anúncio de alguém que se disponibilizava para ficar com crianças de terceiros à noite em casa, tendo como único contacto um telemóvel, achando o meu amigo que o Estado deveria actuar rapidamente para acabar com aquela evidente ilegalidade e risco, contei-lhe a história desta senhora, tentando explicar-lhe que se alguém se dispõe a confiar os filhos a alguém, com base naquele anúncio, em muitos casos será porque está desesperado e não tem solução alternativa, portanto acabar com a prestação daquele serviço, por precário que fosse, pode resolver o problema das nossas consciências, mas dificilmente resolveria o problema que está a montante do telefonema para deixar o filho naquelas condições.
Lembrei-me outra disto a propósito da novela sobre a creche dos filhos da aristocracia operária portuguesa, isto é, os relativamente poucos trabalhadores com capacidade para impôr as suas condições de trabalho aos patrões numa altura de desemprego e os que alimentam a pequeníssima taxa de sindicalização portuguesa (algumas grandes empresas too big to fall e Metros, CPs e coisas que tal).
Uma coisa é a segurança social, o Estado, a sociedade civil entenderem que existe um problema de falta de solução para as pessoas que não trabalham nos horários habituais de trabalho e procurarem soluções que sirvam todos os trabalhadores nessas circunstâncias, outra coisa é a segurança social usar os dinheiros dos contribuintes para assegurar vantagens negociais a uma das partes numa empresa.
Sobre a primeira hipótese tenho sentimentos mistos, porque de facto as senhoras da limpeza que pegam às seis da manhã, e que nem Metro a funcionar têm para chegar ao trabalho, têm um problema muito sério de gestão dos filhos, mas por outro custa-me a ideia de ter cada vez mais soluções para que os filhos estejam fora das famílias, não por causa das pessoas que realmente não têm outra solução, mas porque é muito difícil de gerir isto sem se contribuir para a desresponsabilização familiar dos outros.
Sobre a segunda sou visceralmente contra.
Percebo que as regras que temos não facilitem às empresas encontrar soluções feitas à sua medida: pelo que percebi, as IPSS são financiadas pelo Estado para abrirem creches, mas se uma empresa resolver ter uma creche, o Estado não a financia nos mesmos exactos termos.
Talvez fosse a altura de rever essa regra e tratar as creches das empresas como as creches das IPSS, financiando-as nos mesmos exactos termos e negociando com as empresas o acesso de todos às suas creches nos mesmos termos das IPSS.
Talvez assim se torne mais simples e justo ir resolvendo os problemas das empresas e, sobretudo, dos trabalahdores que têm horários esquisitos, incluindo as senhoras da minha rua.
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