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A armadilha

por henrique pereira dos santos, em 25.04.20

João Vasconcelos Costa dispensa apresentações e tem escrito sobre a epidemia.

Neste caso interessa-me sobretudo este artigo.

E interessa-me por ser uma análise lúcida da armadilha em que nos metemos.

Vou tentar fundamentar esta minha ideia.

1) Em primeiro lugar fixemos isto: "Não sou especialista e confio nos sanitaristas. Mas, assim como aconteceu na imposição de medidas, em que houve necessariamente muita decisão por sentido comum ou por influência do que parecia estar resultar noutros casos, provavelmente o mesmo se vai fazer agora, ao inverso. Não houve evidência científica para fundamentar as medidas, que se basearam principalmente no bom senso. Também não há evidência científica para fundamentar o alívio.".

2) Em segundo lugar, fixemos também a ideia central de que o que estamos a fazer não é procurar achatar a curva, mas sim suprimir a epidemia, através de medidas radicais cujo fundamento se pode procurar no ponto anterior.

3) Quando nos metemos neste caminho do confinamento, a promessa era de que se queria achatar a curva para conseguir gerir a procura de serviços de saúde, evitando o seu colapso. O que tinha uma implicação clara: uma vez assegurada a capacidade de encaixe dos serviços de saúde, poderíamos voltar às nossas vidas, com os cuidados que se entendessem.

4) Ninguém sabe o momento em que saímos deste caminho e nos desviámos para o caminho da supressão da epidemia, ninguém anunciou a mudança de estratégia e, sobretudo, ninguém anunciou o que isso significava.

5) O artigo que me serve de base a este post é muito elucidativo a esse respeito. Esquecendo todas as minhas divergências a respeito da leitura da evolução da epidemia, tomando como bons todos os pressupostos, incluindo os tais de bom senso que substituem a informação científica, o que temos é uma situação em que se a supressão funcionar com base nas medidas não farmacêuticas, isso significa que ficamos reféns de quaisquer ressurgências da epidemia.

6) Ao contrário do que nos é dito, se fizermos tudo bem não nos livramos mais rapidamente destas restrições, se fizermos tudo bem, ficamos dependentes de novos surtos.

7) Isso mesmo foi escrito num paper de vários professores de Harvard (aliás citado neste artigo e que quando saiu teve muita repercussão). Pessoalmente não lhe liguei grande coisa porque sempre tive tendência para não dar demasiada importância a coisas absurdas, por mais lógicas que sejam: viver com um sistema de vigilância permanente em que a economia se abre e fecha ao sabor das ressurgências de uma doença, e em que as pessoas são privadas de direitos individuais básicos, durante meses ou anos, pode ser muito lógico para quem só olha para a epidemia, mas é uma completa estupidez para quem olhar para a sociedade como um todo.

8) Resumindo, se eu estiver totalmente enganado, se o surto infeccioso não se controlar a si próprio (nunca aconteceu na história, mas vamos saltar por cima desse pormenor), se o vírus não tiver uma actividade relacionada com as estações do ano, se toda a evolução da epidemia for controlada pelas medidas não farmacêuticas adoptadas (nunca demonstrado como possível em lado nenhum, mas saltemos por cima desse pormenor), o resultado final da adopção das medidas não é resolver o problema, é apenas criar condições para uma gestão social e economicamente insustentável, isto é, de acordo com os pressupostos em que assenta a tomada de medidas, o mais que conseguimos é sermos levados para uma armadilha em que tentaremos passar o tempo a jogar ao gato e ao rato.

Que isto seja aceite pacificamente, sem que sequer se discutam os objectivos desta política, e as alternativas possíveis, a mim faz-me confusão


1 comentário

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De Anónimo a 26.04.2020 às 15:45


Há 50 anos — meio século — Harvard tinha conquistado o seu prestígio por trabalhar bem e honestamente.
Agora, será um pouco melhor do que a universidade de Cacilhas.
ao

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