Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]



Instantâneos de Lx

por Luísa Correia, em 10.02.13
(Da Outra Banda...)

"Sonho-me às vezes rei, n'alguma ilha,
Muito longe, nos mares do Oriente,
Onde a noite é balsâmica e fulgente
E a lua cheia sobre as águas brilha…

O aroma da magnólia e da baunilha
Paira no ar diáfano e dormente…
Lambe a orla dos bosques, vagamente,
O mar com finas ondas de escumilha…

E enquanto eu, na varanda de marfim,
Me encosto, absorto num cismar sem fim,
Tu, meu amor, divagas ao luar,

Do profundo jardim pelas clareiras,
Ou descansas debaixo das palmeiras,
Tendo aos pés um leão familiar."

Antero de Quental, "Sonho Oriental"

Instantâneos de Lx

por Luísa Correia, em 09.02.13
(À beira-Tejo...)

"Um pouco mais de sol - e fôra brasa,
Um pouco mais de azul - e fôra além.
Para atingir, faltou-me um golpe de aza...
Se ao menos eu permanecesse àquem..."

Mário de Sá Carneiro

Instantâneos de Lx

por Luísa Correia, em 05.02.13
(Do Tejo...)

"Ó macio Tejo ancestral e mudo.
Pequena verdade onde o céu se reflecte!
Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!"

Álvaro de Campos

Instantâneos de Lx

por Luísa Correia, em 26.01.13
(Em São Pedro de Alcântara...)

"O luar através dos altos ramos,
Dizem os poetas todos que ele é mais
Que o luar através dos altos ramos.

Mas para mim, que não sei o que penso,
O que o luar através dos altos ramos
É, além de ser
O luar através dos altos ramos,
É não ser mais
Que o luar através dos altos ramos".

Alberto Caeiro

Instantâneos de Lx

por Luísa Correia, em 20.01.13
(No Chiado...)

"Os bons vi sempre passar
No Mundo graves tormentos
E pera mais me espantar,
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
O bem tão mal ordenado
Fui mau, mas fui castigado.
Assim que, só pera mim,
Anda o Mundo concertado".

Luís de Camões

Instantâneos de Lx

por Luísa Correia, em 13.01.13
"Fado português"

"O Fado nasceu um dia,
quando o vento mal bulia
e o céu o mar prolongava,
na amurada dum veleiro,
no peito dum marinheiro
que, estando triste, cantava,
que, estando triste, cantava.

Ai, que lindeza tamanha,
meu chão, meu monte, meu vale,
de folhas, flores, frutas de oiro,
vê se vês terras de Espanha,
areias de Portugal,
olhar ceguinho de choro.

Na boca dum marinheiro
do frágil barco veleiro,
morrendo a canção magoada,
diz o pungir dos desejos
do lábio a queimar de beijos
que beija o ar, e mais nada,
que beija o ar, e mais nada.

Mãe, adeus. Adeus, Maria.
Guarda bem no teu sentido
que aqui te faço uma jura:
que ou te levo à sacristia,
ou foi Deus que foi servido
dar-me no mar sepultura.

Ora eis que embora outro dia,
quando o vento nem bulia
e o céu o mar prolongava,
à proa de outro velero
velava outro marinheiro
que, estando triste, cantava,
que, estando triste, cantava".

José Régio

Instantâneos de Lx

por Luísa Correia, em 11.01.13
(No Torel...)

"Cidade"

"Cidade, rumor e vaivém sem paz das ruas,
Ó vida suja, hostil, inutilmente gasta,
Saber que existe o mar e as praias nuas,
Montanhas sem nome e planícies mais vastas
Que o mais vasto desejo,
E eu estou em ti fechada e apenas vejo
Os muros e as paredes, e não vejo
Nem o crescer do mar, nem o mudar das luas.

Saber que tomas em ti a minha vida
E que arrastas pela sombra das paredes
A minha alma que fora prometida
Às ondas brancas e às florestas verdes".

Sophia de Mello Breyner Andresen

Instantâneos de Lx

por Luísa Correia, em 09.01.13
(No Príncipe Real...)

"Poeminha tentando justificar minha incultura"...

"Ler na cama
É uma difícil operação
Me viro e reviro
E não encontro posição
Mas se, afinal,
Consigo um cómodo abandono,
Pego no sono."

Millôr Fernandes

Instantâneos de Lx

por Luísa Correia, em 23.12.12
(Em Santo Estêvão...)

"Why! who makes much of a miracle?
As to me, I know of nothing else but miracles,
Whether I walk the streets of Manhattan,
Or dart my sight over the roofs of houses toward the sky,
Or wade with naked feet along the beach, just in the edge of the water,
Or stand under trees in the woods,
Or talk by day with any one I love--or sleep in the bed at night with any one I love,
Or sit at table at dinner with my mother,
Or look at strangers opposite me riding in the car,
Or watch honey-bees busy around the hive, of a summer forenoon,
Or animals feeding in the fields,
Or birds--or the wonderfulness of insects in the air,
Or the wonderfulness of the sun-down--or of stars shining so quiet and bright,
Or the exquisite, delicate, thin curve of the new moon in spring;
Or whether I go among those I like best, and that like me best--mechanics, boatmen, farmers,
Or among the savans--or to the soiree--or to the opera,
Or stand a long while looking at the movements of machinery,
Or behold children at their sports,
Or the admirable sight of the perfect old man, or the perfect old woman,
Or the sick in hospitals, or the dead carried to burial,
Or my own eyes and figure in the glass;
These, with the rest, one and all, are to me miracles,
The whole referring--yet each distinct, and in its place.

To me, every hour of the light and dark is a miracle,
Every cubic inch of space is a miracle,
Every square yard of the surface of the earth is spread with the same,
Every foot of the interior swarms with the same;
Every spear of grass--the frames, limbs, organs, of men and women, and all that concerns them,
All these to me are unspeakably perfect miracles.

To me the sea is a continual miracle;
The fishes that swim--the rocks--the motion of the waves--the ships, with men in them,
What stranger miracles are there?"

Walt Whitman

Instantâneos de Lx

por Luísa Correia, em 21.12.12
(No Rossio...)

"O Universo não é uma ideia minha.
A minha ideia do Universo é que é uma ideia minha.
A noite não anoitece pelos meus olhos,
A minha ideia da noite é que anoitece por meus olhos.
Fora de eu pensar e de haver quaisquer pensamentos
A noite anoitece concretamente
E o fulgor das estrelas existe como se tivesse peso."

Alberto Caeiro

Instantâneos de Lx

por Luísa Correia, em 19.12.12
(Na Rua do Paraíso...)

"Um homem que cultiva o seu jardim, como queria Voltaire.
O que agradece que na terra haja música.
O que descobre com prazer uma etimologia.
Dois empregados que num café do Sul jogam um silencioso xadrez.
O ceramista que premedita uma cor e uma forma.
O tipógrafo que compõe bem esta página, que talvez não lhe agrade.
Uma mulher e um homem que lêem os tercetos finais de certo canto.
O que acarinha um animal adormecido.
O que justifica ou quer justificar um mal que lhe fizeram.
O que agradece que na terra haja Stevenson.
O que prefere que os outros tenham razão.
Essas pessoas, que se ignoram, estão a salvar o mundo. "

Os Justos, de Jorge Luís Borges

The Unknown Citizen

por Luísa Correia, em 19.07.11

 

 

He was found by the Bureau of Statistics to be

One against whom there was no official complaint,

And all the reports on his conduct agree

That, in the modern sense of an old-fashioned word, he was a saint,

For in everything he did he served the Greater Community.

Except for the War till the day he retired

He worked in a factory and never got fired,

But satisfied his employers, Fudge Motors Inc.

Yet he wasn't a scab or odd in his views,

For his Union reports that he paid his dues,

(Our report on his Union shows it was sound)

And our Social Psychology workers found

That he was popular with his mates and liked a drink.

The Press are convinced that he bought a paper every day

And that his reactions to advertisements were normal in every way.

Policies taken out in his name prove that he was fully insured,

And his Health-card shows he was once in hospital but left it cured.

Both Producers Research and High-Grade Living declare

He was fully sensible to the advantages of the Instalment Plan

And had everything necessary to the Modern Man,

A phonograph, a radio, a car and a frigidaire.

Our researchers into Public Opinion are content

That he held the proper opinions for the time of year;

When there was peace, he was for peace: when there was war, he went.

He was married and added five children to the population,

Which our Eugenist says was the right number for a parent of his generation.

And our teachers report that he never interfered with their education.

Was he free? Was he happy? The question is absurd:

Had anything been wrong, we should certainly have heard.

 

W. H. Auden

Tags:

O fulgor do silêncio

por João Távora, em 26.03.11

Até no silêncio há fulgor. 

Até no silêncio. Os padres do deserto tinham por hábito acolherem numa hospitalidade silenciosa, quando acolhiam um amigo que não viam há muitos anos, não lhe diziam nada. Explicavam: se o meu silêncio não te acolher, a minha palavra ainda menos. Isto para dizer que há novas ritualidades. As comunidades cristãs têm que ter fé nos caminhos humanos, até para vencerem a letargia das suas próprias gramáticas. Queiramos ou não as imagens e palavras gastam-se. Os discursos envelhecem.

Falta imaginação ao quotidiano? 

A vida simples, a vida pobre, é o grande módulo da invenção do mundo, da invenção verbal, da oração. (...)

 

Imperdível entrevista ao Padre Tolentino Mendonça por Maria Ramos Silva -  Jornal I

Poema da malta das naus

por João Távora, em 27.07.10

 

 

António Gedeão, por Manuel Freire - aqui.

Foto do dia

por Luísa Correia, em 27.03.10

 

Paira à tona de água

Uma vibração,
Há uma vaga mágoa
No meu coração.

Não é porque a brisa
Ou o que quer que seja
Faça esta indecisa
Vibração que adeja,

Nem é porque eu sinta
Uma dor qualquer.
Minha alma é indistinta,
Não sabe o que quer.

É uma dor serena,
Sofre porque vê.
Tenho tanta pena!
Soubesse eu de quê!...


(Fernando Pessoa)

Com dedicatória

por Pedro Correia, em 14.09.08

 

 

 

SALMO 1

 

Bem-aventurado o homem que não segue as directrizes do Partido

nem assiste aos comícios

nem se senta à mesa com os gangsters

nem com os generais no Conselho de Guerra.

 

Bem-aventurado o homem que não espia o seu irmão

nem denuncia o seu companheiro de escola.

 

Bem-aventurado o homem que não lê a propaganda comercial

nem a escuta nas rádios

nem acredita nos seus slogans.

 

Será como uma árvore plantada junto a uma fonte.

 

Ernesto Cardenal

Tags:


Corta-fitas

Inaugurações, implosões, panegíricos e vitupérios.

Contacte-nos: bloguecortafitas(arroba)gmail.com



Notícias

A Batalha
D. Notícias
D. Económico
Expresso
iOnline
J. Negócios
TVI24
JornalEconómico
Global
Público
SIC-Notícias
TSF
Observador

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Comentários recentes

  • Anónimo

    Não "aumentou" impostos, teve de aplicar um resgat...

  • Anónimo

    Tresanda a cheiro de água benta, que de resto é o ...

  • Anónimo

    E não houve sempre, no tempo dele, uma "instituiçã...

  • Silva

    Preservar o catolicismo em Portugal será mais simp...

  • lucklucky

    Passos tentou!?Aumentou impostos, criou novos. Alg...


Links

Muito nossos

  •  
  • Outros blogs

  •  
  •  
  • Links úteis


    Arquivo

    1. 2025
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    14. 2024
    15. J
    16. F
    17. M
    18. A
    19. M
    20. J
    21. J
    22. A
    23. S
    24. O
    25. N
    26. D
    27. 2023
    28. J
    29. F
    30. M
    31. A
    32. M
    33. J
    34. J
    35. A
    36. S
    37. O
    38. N
    39. D
    40. 2022
    41. J
    42. F
    43. M
    44. A
    45. M
    46. J
    47. J
    48. A
    49. S
    50. O
    51. N
    52. D
    53. 2021
    54. J
    55. F
    56. M
    57. A
    58. M
    59. J
    60. J
    61. A
    62. S
    63. O
    64. N
    65. D
    66. 2020
    67. J
    68. F
    69. M
    70. A
    71. M
    72. J
    73. J
    74. A
    75. S
    76. O
    77. N
    78. D
    79. 2019
    80. J
    81. F
    82. M
    83. A
    84. M
    85. J
    86. J
    87. A
    88. S
    89. O
    90. N
    91. D
    92. 2018
    93. J
    94. F
    95. M
    96. A
    97. M
    98. J
    99. J
    100. A
    101. S
    102. O
    103. N
    104. D
    105. 2017
    106. J
    107. F
    108. M
    109. A
    110. M
    111. J
    112. J
    113. A
    114. S
    115. O
    116. N
    117. D
    118. 2016
    119. J
    120. F
    121. M
    122. A
    123. M
    124. J
    125. J
    126. A
    127. S
    128. O
    129. N
    130. D
    131. 2015
    132. J
    133. F
    134. M
    135. A
    136. M
    137. J
    138. J
    139. A
    140. S
    141. O
    142. N
    143. D
    144. 2014
    145. J
    146. F
    147. M
    148. A
    149. M
    150. J
    151. J
    152. A
    153. S
    154. O
    155. N
    156. D
    157. 2013
    158. J
    159. F
    160. M
    161. A
    162. M
    163. J
    164. J
    165. A
    166. S
    167. O
    168. N
    169. D
    170. 2012
    171. J
    172. F
    173. M
    174. A
    175. M
    176. J
    177. J
    178. A
    179. S
    180. O
    181. N
    182. D
    183. 2011
    184. J
    185. F
    186. M
    187. A
    188. M
    189. J
    190. J
    191. A
    192. S
    193. O
    194. N
    195. D
    196. 2010
    197. J
    198. F
    199. M
    200. A
    201. M
    202. J
    203. J
    204. A
    205. S
    206. O
    207. N
    208. D
    209. 2009
    210. J
    211. F
    212. M
    213. A
    214. M
    215. J
    216. J
    217. A
    218. S
    219. O
    220. N
    221. D
    222. 2008
    223. J
    224. F
    225. M
    226. A
    227. M
    228. J
    229. J
    230. A
    231. S
    232. O
    233. N
    234. D
    235. 2007
    236. J
    237. F
    238. M
    239. A
    240. M
    241. J
    242. J
    243. A
    244. S
    245. O
    246. N
    247. D
    248. 2006
    249. J
    250. F
    251. M
    252. A
    253. M
    254. J
    255. J
    256. A
    257. S
    258. O
    259. N
    260. D

    subscrever feeds