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"Nunca foi consumida tanta informação e, paradoxalmente, nunca valeu tão pouco o jornalismo. Na Internet, onde a maioria procura informar-se, o que mais há são rumores, boatos e teorias da conspiração. Nos jornais, rádios e televisão há cada vez menos condições para investigar, analisar, produzir bons dossiers informativos. Vale a santa opinião. O estatuto de um jornalista mede-se mais hoje pela capacidade de produzir opinião do que pela qualidade das notícias que faz."
"A Santa Opinião" - Paulo Baldaia, In Diário de Notícias de 25 Agosto
A pretensa notícia emitida hoje pela SIC Notícias às 12,00hs sobre a coroação do rei Guilherme Alexandre da Holanda é apenas uma crónica deselegante, sectária e escusadamente panfletária, para mais não assinada. Uma peça de propaganda, um arrazoado de preconceitos e um exercício recalcado de um ressabiamento político e sobretudo cultural que julgávamos extinto. É o exemplo evidente de um jornalismo pouco profissional que não dignifica aquele canal de televisão. Encolher os ombros não chega.
Mail: atendimento@sic.pt
Tel.: 214 179 400
Henrique Monteiro na sua coluna no Expresso do passado Sábado lamentava-se da transformação da política num jogo de criação e gestão “casos” tão estéreis quanto retumbantes. É um facto inegável que os políticos acabam sequestrados, quando não cúmplices desta perversa lógica, que relega para segundo plano aquilo que deveria ser o seu verdadeiro e nobre objecto, o ensaio e a estratégia para a boa governaça da coisa pública. Mas o certo é que do outro lado da moeda está um implacável mercado noticioso (de que são protagonistas jornalistas como o Henrique Monteiro) que cada vez mais depende da abundancia desses “casos”, para satisfação de umas ou de outras clientelas: com um ou dois por semana se incendeia o espaço público, aumentam tiragens e exponenciam page vews através das redes sociais.
É exemplo do que atrás refiro o fenómeno que ora assistimos; o da avidez de certo jornalismo de, para lá da notícia planetária que constitui a resignação do Papa, em encontrar um “caso”, quem sabe até algum enredo opaco e perverso à moda dos romances de cordel de Dan Brown. Assim é, entretidos atrás dum mosquito na outra banda, deixamos escapar o elefante ao nosso lado,
Foto: Alessandro Di Meo no jornal i
Ontem numa reportagem na SIC notícias a respeito do 40º aniversário do Expresso, o seu director Ricardo Costa arrogava esfusiante o seu jornal como o semanário dos “Sábados amargos” (subentendidamente de Miguel Relvas), assumindo que o seu papel é de contrapoder, nas suas palavras de “contrabalanço dos abusos dos excessos que a democracia proporciona”. Perece-me óbvio que ao contrário de se pretender contrapoder (um papel que a oposição em geral e o Bloco de Esquerda em particular exerce com requintada competência) cabe a um jornal sério investigar a verdade, seja ela a favor ou contra “o Poder”. Aliás acontece que a Comunicação Social constitui em si um disputadíssimo Poder, o quarto como se lhe usa chamar, e talvez não fosse má ideia incluir os sucessos e insucessos da História no seu balanço de aniversário. Sobre esse ponto de vista e nesta altura do campeonato, talvez Ricardo Costa e Nicolau Santos não tenham assim muitas razões para tanta euforia.
Na edição de aniversário deste histórico hebdomadário nacional - que como bem salienta Henrique Raposo na sua coluna, se confunde com o actual regime - uma das melhores crónicas está escondida na página 53 em forma de carta, pela pena de António Barreto. A determinada altura reza assim: (…) Um semanário tem mais responsabilidades na actividade de “desvendar” os factos opacos ou “misteriosos” do que os diários ou as televisões. Muito do que se passa na sociedade e na política é totalmente incompreensível se não for devidamente tratado e esclarecido. As causas concretas da dívida portuguesa e o deficit dos anos 2005 a 2013, por exemplo ainda estão hoje razoavelmente encobertas. (…) Toda a comunicação social está orientada para o espectáculo e encenação, quando não para a propaganda. É indispensável contrariar essa tendência, o que já se percebeu em Portugal não acontecerá com os Diários, muito menos com as televisões.
É aqui que está o busílis da questão. Estranho, de facto, como um tão atendo e sofisticado “contrapoder” como o Expresso, tenha atravessado a última década de ruina num plano inclinado de indolência e alienação, quando não em absoluta cumplicidade com as oligarquias conservadoras (dos seus crescentes privilégios) que nos trouxeram a este trágico desígnio.
Neste dia em que se celebram quarenta anos do mais reputado jornal deste País que se afunda numa das mais graves crises da sua História, seria aconselhável, ao invés de estéreis troca de gabarolices e de galhardetes entre os seus protagonistas, uma séria análise de qual deverá ser o seu papel no futuro, se ser agente activo no jogo de recados da baixa intriga sectária e fulanista, ou reabilitar o merecimento do seu histórico estatuto nobiliárquico, coisa que sem uma clara mudança de estratégia, se ficará como isso mesmo: um estatuto, que o arruinado e excêntrico fidalgo levará para a sepultura do esquecimento.
Publicado originalmente aqui
Hoje o Expresso em Nota da Direcção e Nicolau Santos na sua coluna, pregam aos críticos do "Caso Baptista da Silva" um ralhete moralista, disfarçado de pedido de desculpas. Terei eu também de pedir desculpas por qualquer inconveniência?
O caso Baptista da Silva é todo ele uma irónica parábola sobre a crise que por estes dias perpassa e se agudiza nos media tradicionais. É curioso como o burlão, promovido por um jornalista de nomeada de um semanário de referência nacional não tenha sido denunciado pelas “convenientes” intrujices que proferiu em vários palcos, mas antes pela descoberta do seu falso curriculum. Como sempre em Portugal o que conta é o estatuto.
Numa altura em que através das novas plataformas “sociais” tanto a opinião e análise de qualidade quanto a gestão de agenda politica ou corporativa se autonomizam cada vez mais dos meios de comunicação institucionais, não tenho dúvidas que a prazo poucos deles resistirão no actual modelo de gestão. Apenas irão sobreviver os que fundarem a sua actividade na excelência do profissionalismo, reflectindo os factos de forma isenta, analisados por atentos e meticulosos peritos, que sejam capazes de aferir discursos coerentes ou contestar raciocínios viciados ou cálculos mentirosos. Para alimentar conversas de café e amplificar bitaites sectários, já há para aí batalhões de blogues e ávidos activistas das redes sociais. Deixar-se seduzir e enredar nesta lógica é simplesmente o haraquíri do jornalismo.
Publicado originalmente aqui
Baptista é serviço público. É espelho de nós, síntese do colectivo pátrio. Figura nacional de 2012. Ao contrário do que alguns gritam por esses táxis fora, Portugal não precisa de dois ou três salazares. Necessitamos, isso sim, de mais baptistas da silva. Artur Baptista da Silva, o homem que mostra a verdade dizendo a mentira.
Malomil na integra aqui
"Portanto a singular conexão entre Isaías, 1, 3; Habacuc 3, 2; Êxodo 25, 18-20 e a manjedoura, aparecem dois animais como representação da humanidade, por si mesma desprovida de compreensão, que, diante do menino, diante da aparição humilde de Deus no estábulo, chega ao conhecimento e, na pobreza de tal nascimento, recebe a epifania que agora a todos ensina a ver. Bem depressa a iconografia cristã individuou este motivo. Nenhuma representação do presépio prescindirá do boi e do jumento."
A Infância de Jesus - Jesus de Nazaré - Volume III de Joseph Ratzinger
*Foto José Manuel Fernandes publicada no Facebook (o meu exemplar do livro está no sapatinho deste Natal).
Um rapaz numa cerimónia oficial numa universidade chamou "filho da puta" ao primeiro-ministro. As pessoas acharam bem e estão muito indignadas por a escola lhe ter instaurado um processo disciplinar.
Entretanto continua a falar-se muito do Dr. António Borges, por ele ter "chamado ignorantes" aos empresários. As pessoas acharam que era um insulto muito feio e querem que ele seja despedido, mesmo sem processo disciplinar.
Neste caso da televisão, apesar de tudo, há uma coisa que me deixa descansada: ao contrário dos pilotos da TAP ou dos médicos do SNS, nunca iremos assistir a uma greve dos jornalistas da RTP.
Frente-a-Frente no Jornal das Nove da SIC-Notícias: António Capucho e Francisco Assis. Meia hora de comentário vazio, clichés e banalidades, onde se destacou Capucho a repetir a muleta do dia, a palavra "terapêutica" (contei seis vezes).
Frente-a-Frente no Jornal das Dez: Francisco Sarsfield Cabral e Helena Garrido. Meia hora de análise séria, informada, tranquila e objectiva com dois excelentes jornalistas especializados em economia.
Jornalistas - 1; Políticos - 0.
Ler um jornal que me orgulhe de exibir debaixo do braço.
Os esclarecimentos de Miguel Relvas à Entidade Reguladora para a Comunicação Social não chegam para explicar algo de muito importante em todo este “caso” com o Público: como é que o líder do gabinete governamental responsável pela comunicação social, tão experiente no relacionamento com os média cai numa esparrela destas. Não me custando a acreditar nas explicações do ministro, certo é que alguma coisa correu muito mal nesta história toda: este foi um acontecimento que infringiu pesadas perdas de reputação, não só ao seu gabinete, mas a todo um governo vergado na hercúlea tarefa de executar um impopular e doloroso programa de resgate financeiro no País. Miguel Relvas conhece melhor do que ninguém as regras do jogo, os jornalistas que temos e as sensibilidades imperantes na comunicação social. E contra factos não há lamentos: falhado parece o pescador que não gosta do mar.
Publicado originalmente aqui.
Quando a notícia de capa dum jornal chamado “de referência” sobre a efeméride do 25 de Abril é a discutível opinião das esquerdas na oposição sobre o discurso do Chefe de Estado no parlamento, está tudo dito. Dá ideia que o pessoal lá na redacção não descansa enquanto não tiver a malta na rua, uns bancos, carros e lojas a arder para fazer uns bons bonecos e manchetes. Ou então que aqueles que compram jornais se reduzam cada vez mais a um nicho de carolas masoquistas, agências de comunicação, gabinetes partidários, quadros do Estado e professores reformados.
* "Palavra de ordem" de uma claque de futebol do norte.
Isto são os 300.000 manifestantes da CGTP de ontem aos olhos do jornalismo de causas, ao qual a realidade pouco interessa. Para esses senhores o Terreiro do Paço cheio na missa do Papa Bento XVI em Maio de 2010 correspondia a 80.000 pessoas.
Imagem daqui
O Terreiro do Paço tem 36 mil metros quadrados. Num quadrado de um metro por um metro cabem umas três pessoas – talvez um pouco mais se for uma carruagem do metro em hora de ponto, talvez menos se pensarmos na dinâmica de uma amnifestação. Fiquemo-nos pelas três. Em média. É pois difícil imaginar que, num Terreiro do Paço cheio de ponta a ponta coubessem muito mais de 100 mil pessoas. (José Manuel Fernandes)
Pelo seu papel na história, respeito o PPM, partido do qual fui militante nos anos oitenta. Mas nessa época como hoje, trata-se de um equívoco atribuir-se-lhe a representação dos monárquicos. É isso que transparece na notícia do jornal Público sobre um comunicado a respeito das declarações de Cavaco Silva. Os monárquicos são simpatizantes e militam nos diferentes partidos políticos... ou em nenhum.
De uma vez por todas: os "realistas" defendem diferentes e às vezes antagónicas soluções políticas, une-os tão só a defesa dum modelo de Chefia de Estado (o que não é pouco, convenha-se). Afirmar que um partido os representa, é pretende-los proporcionais a uma insignificante representação eleitoral. Um mau serviço de jornalismo, um barrete que só tapa as vistas a quem o puser na cabeça.
P.S.: Esta nota não pretende criticar a postura da actual direcção do PPM ou conteúdo do comunicado que resulta na notícia em referência, que é na forma e conteúdo inatacável.
Nos últimos tempos não tenho comprado o Público, coisa que talvez justifique a minha surpresa ao encontrar hoje em destaque, a ¼ de página (na 3) com caracteres de corpo grande a seguinte parangona: “Amadeu Carvalho Homem historiador e republicano, dirige uma pergunta ao pretendente ao trono, a propósito da celebração de mais um aniversário da Restauração, a 1 de Dezembro”: “SE UM DIA FOSSE REI DE PORTUGAL, NÃO ACHARIA BIZARRO (NO MÍNIMO) QUE O TRATASSE POR SUA MAJESTADE?” (a vermelho no original).
Porque mantenho alguma crença na inteligência humana, custa-me acreditar que esta opção editorial não tenha um justificado enquadramento que me escapa. De resto, a mesma pergunta com que nos desafia o historiador poderia aplicar-se a outros tratamentos honoríficos ou convencionais, que mais do que um sentido estrito correspondem apenas a uma tradição protocolar: Sentir-se-á o Presidente da República mesmo “Excelente” (Excelência) e o Senhor Reitor mesmo “Magnífico”, (Vossa Magnificência), e que dizer do " Venerando Desembargador", do " Meritíssimo Juiz" ou o "Sapientíssimo Grão-Mestre"?
Finalmente como um mal nunca vem só, a imbecil questão ficará sem resposta, dado que o destinatário dela como consta na manchete introdutória é D. Duarte Nuno Duque de Bragança, que faleceu aos 69 anos, há mais de 34 anos.
Pela minha parte sou levado a concluir que o destaque dado a tão boçal provocação só se justifica pela insegurança e receio que a Instituição Real por estes dias parece inspirar aos republicanos ou simplesmente a gente de limitada craveira. É sabido que a primeira razão do cão ladrar e arreganhar os dentes é o “medo”, fenómeno que deveria levar os monárquicos a ter algum orgulho na sua Causa, que afinal algum trabalho vai fazendo…
Também publicado aqui
Como se não bastasse o ruído causado pelos interesses e ambições em natural disputa na democracia, somado às exibições de egolatria dos senadores do regime, um outro factor tende a incendiar a atmosfera de descrença e revolta que paira sobre o País: refiro-me às mentiras e meias verdades que geram escandalosas parangonas nos jornais. É o caso da notícia do Correio da Manhã, sobre a suposta compra de um automóvel de 86 mil euros pelo Ministro da Segurança Social Pedro Mota Soares, e que o mesmo teria levantado pessoalmente no Stand. Trata-se de uma rotunda falsidade com requintes de má fé: o carro arrendado através da Agência Nacional de Compras Públicas era o único disponível para entrega, tratando-se por mera coincidência daquele que foi anteriormente utilizado pelo do Ex-Secretário de Estado Carlos Zorrinho.
Entende-se que a realidade não cause grande impacto mediático, mas convém referir que, com uma redução de 30% nos consumos intermédios, o ministério da Segurança Social reduziu quase para metade o número de viaturas, tendo neste momento 11 veículos para estrita utilização em serviço, quando no anterior Governo eram 20.
Há muito que reclamo ao sentido de responsabilidade do jornalismo, como um dos mais poderosos actores da realidade politica que vivemos: por actos ou omissões, foi com a sua conivência que aqui chegámos. Ninguém está inocente. Acicatar pela mentira ou meia verdade o descredito e ressentimento popular nestes duríssimos tempos, no imediato pode render a atenção e fama a qualquer noticiário ou jornal, mas a prazo incendeia-se o País. E desse fogo ninguém sairá ileso.
O Diário de Notícias titula "Anarquistas Radicais" pelo 2º dia consecutivo notícias referentes a investigações a tumultos e ligações à marginalidade. Isto parece-me tratar-se de uma redundância pouco inocente: em todos os momentos da História em que se deu actividade "anarquista", esta sempre foi radical e marginal por inerência.
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Sem qualquer regulação do Estado é uma frase sua, ...
Que disparate, o que ele disse foi que aumentando ...
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