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Tudo aquilo que sempre quis saber sobre os lisboetas e que nunca teve coragem de perguntar está hoje em letra de forma no jornal i, para já disponível apenas na versão em papel.
Há uma ameaça de «consanguinidade» lisboeta. Para não perderem o brilho nos olhos, é aconselhável aos lisboetas misturarem-se com forasteiros, gente que acalenta uma promessa de fortuna por estas bandas, a conquista de um pouco do Céu ainda na terra.
Esta e ouras melindrosas questões sobre os lisboetas serão desenvolvidas por mim brevemente numa crónica no jornal i.
Não, a maioria dos habitantes de Lisboa não são lisboetas. Até podem gostar da cidade um bocadinho como sua, mas não são de cá: têm as raízes noutras paragens, sempre idílicas, que cultivam em visitas periódicas e donde chegam como se viessem do paraíso. Eu sou uma ave rara, um lisboeta dos quatro costados, e talvez por isso venho sentindo um apelo interior para uma tentativa de análise desta espécie de português a que pertenço - diga-se, com orgulho. É esse o propósito duma crónica que estou a escrever, que espero seja uma digna homenagem às minhas raízes – por circunstâncias da minha vida quase sempre calcadas debaixo dos meus pés.
Já agora, falemos da rotunda do Arreeiro, dominada por um monumento a Francisco Sá Carneiro, um político de relevo de Portugal, morto em condições ainda controversas.
Uma galeria fotográfica mostraria o que ali foi feito ou não foi feito pela CML, o estado actual de imundície, que rivaliza em abjeccionismo com o mais distante subúrbio recôndito e abandonado, embora aquela praça seja de primeiro impacto para quem chegue a Lisboa pelo aeroporto. Não percebem isso?!!!!
Bastaria um mínimo de atenção, um módico de dignidade, para que aquele lugar fosse limpo, melhorado e aperfeiçoado à circulação rodoviária de milhares de passantes diários que não podem entender nem aceitar o absoluto desprezo de política urbana sensata e trabalho efectivo que aquilo testemunha. É feio!!!
Seria duma gravidade insana que esse abandono fosse uma punição política a uma figura dominante há esquecidas décadas do sector político adverso à situação na cidade actual. Sejamos uma comunidade de diferentes, que se aceitam e dialogam. Mas que não se desprezam! Isso já não seria democracia, pois não?
Imagem de Público 2014
António Costa abandona o barco e eis que é cooptado para presidente da Câmara Municipal de Lisboa um portuense desconhecido, à revelia dos lisboetas. E depois queixam-se da falta de confiança nas instituições políticas e da abstenção.
Caros amigos, reservem 20 minutos e vejam este vídeo, um documentário português realizado, escrito e narrado por António Lopes Ribeiro, produzido pela Câmara Municipal de Lisboa no ano de 1948 - todo ele um tratado de boa propaganda, inteligível e fundamentada - "Lisboa de Hoje e de Amanhã". Nessa época o Estado Novo encontrava-se no seu auge e uma renovada Lisboa emergia do rasto de escombros deixado por décadas de instabilidade e miséria. As transformações eram significativas: desde a arborização do actual Parque de Monsanto, a inauguração daquela que era uma das primeiras auto-estradas da Europa, a urbanização das Avenidas Novas, (nunca eu tinha visto a Fonte Luminosa a jorrar água) e a criação de uma variada gama de infra-estruturas sociais e culturais.
Para lá da "pequena história" da génese duma Lisboa que nos é tão familiar, a linguagem auto-elogiosa do filme serve-nos de espelho para quando nos nossos dias nos arvorarmos na quintessência da modernidade. Coloca as nossas conquistas e peneiras em perspectiva. Claro que, como refere Henrique Raposo, a legitimidade de um regime não se deveria fundamentar nas conjunturas económicas que atravessa, conclui-se.
É com uma dor na alma que o afirmo: Lisboa antiga transformou-se nos anos mais recentes num mero bilhete postal ou num cenário de filme a tratar com efeitos especiais. Concedo até que a minha cidade mantém-se linda se vista das alturas, de preferência de miradouros ou então com o cuidado de o transeunte colocar sempre o olhar ao nível dum primeiro andar dos edifícios, por forma a evitar a visão do abandono, dos grafitos nas paredes e da esterqueira que impera, aos molhos ou espalhada pelos ventos.
A recente polémica a respeito dos brasões dos Jardins da Praça do Império que já irreconhecíveis há muitos anos se deterioravam, releva-nos essencialmente para a indiferença generalizada de todos nós quanto à preservação do património. A atitude de Sá Fernandes nesta história toda é apenas um símbolo, espelho da nossa incapacidade de proteger e amar o que é nosso, alienados perante o déspota que decide o que é importante e o que não é importante preservar do legado que não fazemos por merecer. Facilmente manipuláveis, embevecemo-nos com eventos culturais, piqueniques de publicidade e festivais populares ou de vanguarda, periodicamente mimoseados pelo magnânimo edil, enquanto a cidade rendida à sujidade, ao abandono e à especulação imobiliária, acata um triste destino. Ora acontece que um Povo decente e civilizado, organizado e militante em associações cívicas, há muito que devia ter sido capaz da pressão necessária a pôr cobro à bandalheira já tida por natural. Mas como é uso e tradição firme nesta terra de ninguém, cada um se conformará por tratar da sua vidinha, entre a indiferença e um desabafo indignado nas redes sociais.
PS - Sobre este tema, o Nuno Castelo Branco vem prestando importante serviço público no blog Estado Sentido.
Depois de ter empastelado o trânsito com experimentalismos na mais emblemática artéria de Lisboa, só um autarca que não possui concorrência eleitoral se permite a dois meses das eleições cortar a circulação da rua do Ouro tornando o trafego na baixa pouco menos que infernal. Bem sei que muitos dos que aí se vêm bloqueados não são munícipes alfacinhas: desertificado, o coração da capital tornou-se um mero cenário para festividades turísticas e filmes publicitários. Uma enorme tristeza.
* Título original do capítulo V de "Liberdade 232"
Lisboa está tão estragada, que quando passamos por um prédio antigo que foi recuperado, animamo-nos com a ideia de que o exemplo pode ser seguido, antes que as boas construções se esborroem em ruínas. Chegou-se a um ponto de tal colapso, que grandes complexos como conventos ou palácios passam a condomínios de luxo porque o investimento da sua reabilitação se tornou tão alto que fica inacessível a quem quer que seja. Eu prefiro que ruas e sobretudo as praças sejam reabilitadas em conjunto, como espaços públicos acessíveis a todos, e com grandeza e formosura para serem vividas por quem passa...
Ao que consta, ontem, as intensas chuvas que caíram sobre Lisboa inundaram a rotunda do Marquês de Pombal, caso inédito não fosse a mal amanhada "engenharia" promovida por António Costa numa acção de propaganda barata cuja única consequência prática é o afunilamento do trânsito da Avenida da Liberdade e definitivo bloqueio ao acesso das pessoas à desertificada baixa pombalina.
Acontece que nos dias de hoje, para os milhares de lisboetas que foram atirados para os subúrbios por causa da especulação imobiliária e duma desgraçada lei de arrendamentos, uma viagem pontual para o centro da cidade em transportes públicos é mais oneroso que a utilização do transporte próprio. Ir a um teatro da baixa ou visitar um familiar naquela zona de Lisboa tornou-se um autêntico pesadelo para os “degredados” como eu. O mais irónico é que isso não acontece aos seus habitantes… pela pior das razões: estão em processo de absoluta extinção. Envelhecidos e abandonados em pequenas ilhas decrepitas, resta conformem-se com o isolamento.
Foto: Nuno Castelo Branco
Parece impossível, mas não é. A Estufa Fria de Lisboa, junto ao Parque Eduardo VII (um nome que ainda não foi republicanizado), esteve encerrada cerca de dois anos por causa da reparação dita urgente da sua cobertura, que arriscava demoronar. Aquilo custou X vezes mais do que previsto. Mas como se fosse pouco, voltou a fechar, para reforço das protecções laterais da dita cobertura. Quem vem por cima e observa, percebe que há um circuito de andaime que foi criado nesse sentido. Fora o caso de se saber por que não foi feito tudo numa única campanha, acontece que agora está encerrada a EF e as obras estão paradas, como há um mês verifico diariamente: nem um só operário ali trabalha. Portanto, o prejuízo tornou-se duplo: encerrada não é usada e não cobra ingressos (haveria de ser grátis). Quem responde por esse imbróglio e essa perda para uma vida prazeirosa na cidade?
Quem passa a caminho da Rua Castilho também verifica que ali é um ponto de encontro de muitos turistas, para viagens de cityrama. Cruzo-me todos os dias com dezenas deles, que esperam de pé, e a maioria são idosos, a entrada nos respectivos autocarros. Mas não há na Câmara quem ali mande colocar uns bancos corridos e consertar a calçada, esburacada e torta, e melhore a vedação metálica, torta, enferrujada e feia?!
Quando hoje em pleno horário de trabalho eu descia o corredor lateral da Avenida da Liberdade, um pouco a baixo do Cinema S. Jorge deparei-me com um engarrafamento e desvio do transito, por causa de umas aparatosas filmagens para cinema (presumo). É assim a Lisboa dos nossos dias, em que metade das fachadas estão ocas e se aguentam literalmente por arames: pouco mais do que um exótico cenário de cinema.
Para o Rossio confluíam outros figurantes para outra encenação: o comício do Sr. Manuel Victor e seus capangas de emprego vitalício que não passará ao cinema mas alimentará os telejornais e as manchetes e editoriais de amanhã. O espectáculo não pode parar.
Tenho a maior consideração por José Sarmento de Matos, que pessoalmente muito estimo e cujos trabalhos sigo com o maior interesse, e por isso sinto-me particularmente livre para recusar o tom amável, não frontal e polémico, com o qual condescende diante do que considero ser uma gestão autárquica de Lisboa com efeitos negros sobre o pulsar presente e futuro de cidade. (Basta sair à rua, ver — e cheirar.) Algumas das suas sugestões ficaram sem resposta, como a da reinstalação da linha de eléctricos do Arco do Cego ao Cais do Sodré ou ao Largo do Carmo, e mesmo assim JSM continua a contemporizar. No Público de domingo passado, dedica a sua crónica ao Urban Award 2012 concedido a Lisboa, sem sublinhar quanto a reabilitação urbana, tão incipiente benza-a Deus, continua presa no seu quase nó górdio, mas sem a qual a potencialidade natural da cidade (de que JSM é um bom historiador) não se tornará cultural, capaz de habilitá-la como «um lugar simpático para quem gosta de cá viver». Se há alguém que pode pensar e resolver organicamente os problemas de Lisboa, essa pessoa deve chamar JSM como principal conselheiro. E pedir-lhe que seja absolutamente sincero e drástico. Não que aceite, negue, tape os erros actuais que tanto nos afligem, e a ele certamente também.
Esta fotografia não é de hoje, mas a situação repete-se há semanas, meses, anos, para terror e humilhação de todos aqueles que acreditam que há uma linha de civilidade e de portugalidade (no caso, respeito pelos símbolos nacionais) que é imprescindível não ultrapassar, sob pena de nítida decadência.
Que o Largo do Camões, o Chiado e o Bairro Alto tenham sido tomados por uma trupe de indigentes, bêbados e vagabundos, que incomodam quem ali está ou por ali passa parece não perturbar as polícias, pública e municipal, mas os resultados estão à vista e são estes.
Até quando é que eu gostaria de saber!
Disposto a sair do BA onde a vida se tornou incomportável à noite e de manhã, tenho dedicado considerável tempo à procura de casa em Lisboa. Teve razão Pedro Santana Lopes, ontem na TVI, quando frisou o inquietante aumento exponencial dos valores do arrendamento diante da quebra do crédito bancário à aquisição de imóveis. Mas a questão não é só essa. A questão é realmente a imensa degradação do nosso parque imobiliário quando testado por indígenas em busca de lugares condignos onde viver. A adjectivação dos anúncios é sempre superlativa: qualquer buraco é um «excelente apartamento»!
Dum lado temos a cidade antiga quase toda ela por restaurar, onde a cada dia surgem apartamentos mal recuperados, por empreitirozitos de imenso mau gosto e despudor, tudo feito sobre o joelho e bem ao estilo de serviços mínimos, apartamentos esses que foram postos no mercado sem vistorias que exijam qualificação técnica da obra (só pode!) e requisitos médios de habitabilidade; e do outro, temos edifícios novos, construídos com padrões arquitectónicos e equipamentos aceitáveis a pensar no mercado de venda, e que agora vêm ocupar posições no de aluguer, mas estão a preços dos olhos da cara. Algures no meio, dois ou três andares inesperados, mas a cuja recuperação faltou claramente capacidade financeira (como somos pobres, caramba!) para lhes dar o devido padrão que mereciam. A imagem testemunha um desses casos. A 1000 euros mensais, e com uma planta que desanima qualquer um!
O que mais me constrige é a panorâmica que tenho tido da baixa qualidade estética-arquitectural do edificado lisboeta. Símbolo sem dúvida duma lenta decadência, compatível aliás com a reduzida expectativa e consciência das pessoas quanto a qualidade da vida. Nas suas próprias casas, como nos seus próprios lugares de trabalho, onde muitos passam mais de um terço dos seus dias, mas acerca dos quais nunca se ouviu uma reivindicação, um debate, uma vontade de melhorias.
É realmente o que temos e somos! Será também o que quereremos ser?
Sexta-feira não é apenas dia de fotografia de garota gira no Corta-Fitas ou de manchetes de susto nos jornais semanários. Sexta-feira é também dia de barbárie e irresponsabilidade no Camões - Bairro Alto.
O monumento ao Vate é actualmente um totem de imundície, imã de gente suja e bêbada, que desconhece por inteiro quem sejam aquelas figuras nacionais acima das suas cabeças desgrenhadas e dos seus cães famintos, que ali deixa o lixo dos seus consumos alcóolicos e outros. Estamos a falar de algo que está à vista de todos, menos dos responsáveis — oi?! — autárquicos e policiais, para quem os símbolos portugueses devem agora ser abraçados pelo multiculturalismo e permissividade vigentes, mesmo que fedam.
Aqueles degraus de pedra e todo o empedrado da praça precisariam duma daquelas limpezas de deixar as mãos doridas, mas que já ninguém faz, ora porque não se importe ora porque no dia seguinte a dominação que foi consentida recomeçaria o seu paciente esforço de tudo estragar.
Quando a noite fechar, e as ruas do BA se entupirem de gente (vendedores de droga incluídos), e a fila de carros para o silo na Calçada do Combro obstruir sem mácula a marcha de eléctricos e subsequentes, o ruído há-de começar a subir pelas paredes das ruas estreitas e incomodar quem lá vive e mais tarde precisa de dormir — mas que terá pela frente, até às quatro da manhã, a garantia de uma insónia certa, tal é a gritaria nas janelas, mesmo daquelas janelas de vidro duplo nos andares elevados. Ouvirá de tudo: palavrões, vómitos, até garrafas a serem partidas contra o chão para simples gozo dos energúmenos!!!
Saindo cedo, as ruas estão imundas, repletas de cacos de vidro, copos de plástico esmagados, rodelas de limão das bebidas consumidas.
Uma imagem que diz tudo. Na Travessa da Espera (que nome!), à esquina da loja de ourivesaria Leitão e Irmão (orgulho nacional, podemos dizê-lo sem favor nenhum) o cheiro a urina é tão intenso e repulsivo para quem passa ali, diante das vitrinas com artefactos de joalharia e louça portuguesa requintada, que muitas vezes me pergunto com que espírito ali hão de ser erguidas as persianas metálicas de protecção, por quem paga os seus impostos e tem outra concepção de vida, de cidade e de serviço.
De vez em quando não há como não bater nesta tecla, tocar essa corda vibrátil que é a nossa cidade, Lisboa.
Salta à vista o descuido da autarquia com aspectos até os mais modestos, de solução que não parece dispendiosa mas tarda e tarda, como passadeiras de peões por pintar há muitos meses em pontos estratégicos, como o Largo das duas Igrejas, Praça de Camões e esquina de Alecrim com Cais do Sodré (onde diariamente circulam muitos milhares de pessoas, boa parte delas turistas).
Fica-se com a ideia de que presidente e vereadores nunca passam por ali, o que é uma impossibilidade. Querem turistas — mas não querem turismo...
Mas nada alcança o desleixo nesta matéria que persiste entre São Pedro de Alcântara e o Largo da Misericórdia. Diante do Solar do Vinho do Porto e do ascensor cujo nome nada tem a ver com tudo isto, outro ponto eminentemente turístico, a zebra só se vê à lupa, e dali para baixo é cada vez pior — num teste radical de sobrevivência urbana que certamente todos dispensamos...
À direita um edifício podre e sustido por esqueleto de aço tarda em ser recuperado, mas uma vedação impede a passagem de peões por ali, que vão todos bem encostados à parede no reduzido passeio do outro lado. Uma passadeira logo adiante dificilmente se vê de tão gasta, e a seguinte, em frente dum organismo da autarquia, a Hemeroteca Municipal e da própria igreja, não está melhor que essa. Logo depois, uma obra de recuperação de dois edifícios contíguos de grande porte ocupa parte da via, dando acessibilidades que não estão nas melhores condições, isto há um ano já...
Que tudo isto não incomode e faça agir as nossas vetustas figuras municipais é como roda sobre os nossos próprios pés. Dói!
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