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António Costa transmite aos lesados do BES a sua posição sobre o assunto e pretende escondê-la dos restantes eleitores... E ninguém se incomoda?!?... Quanto dinheiro dos contribuintes terá oferecido nessa reunião secreta? Isto é normal? Os jornalistas recebem esta resposta e ficam-se?
“Porque é através do emprego” - garantiu António Costa- “que se garante a sustentabilidade da segurança social, é através do emprego de cada um que sai do desemprego e se torna empregado que nós poupamos no subsídio do desemprego e é por esta forma virtuosa que queremos equilibrar a segurança social”. É óbvio que se tivermos mais emprego teremos mais contribuintes para o sistema da segurança social e menos subsídios de desemprego para pagar. No entanto, a sustentabilidade desejada não se consegue, infelizmente, apenas através da entrada de novos contribuintes. O défice do sistema resulta, também, de outros fatores como seja, a título de exemplo, o aumento da esperança de vida (que se traduz no aumento do período durante o qual cada pensionista recebe a sua pensão). Como aqui bem refere a Drª Margarida Corrêa de Aguiar, uma das poucas especialistas nesta área, "o problema da Segurança Social é um pouco de tudo. Se tivéssemos pleno emprego, o que aconteceria? A pressão demográfica é mais pesada. Então só seria possível compensar com mais produtividade. Mas as projeções mostram que, mesmo com ganhos de produtividade, a situação não seria sustentável. Não podemos colocar o dedo apenas numa variável. Se tivéssemos um desemprego de 7 ou 8%, atrasávamos um pouco a situação mas não a evitávamos. Só entre 2008 e 2013, a despesa com pensões do sistema previdencial cresceu 22%". Afirmar, como António Costa, que o problema se resolve com mais emprego é não perceber nada de segurança social. Se o problema é de ignorância então recomenda-se a leitura (como aqui já referi). Mas não se tomem os outros por parvos!
A intransigência revelada por António Costa prometendo não viabilizar soluções de governabilidade se não ganhar as eleições, revelam a prioridade de favorecer a sobrevivência (?) do seu partido e deixar cair o país no caos. Perante o mais que provável cenário de quase empate eleitoral esta é uma posição aterradora: quer dizer que, se a coligação vencer sem maioria absoluta não conseguindo viabilizar o orçamento para 2016, “A Constituição não permite ao Presidente dissolver a Assembleia até ao fim do seu mandato; ou que a Assembleia seja dissolvida nos primeiros seis meses do dela. O que significa que Portugal será obrigado a viver sem orçamento (e por duodécimos) no mínimo até Junho-Julho do ano que vem. O que lançaria as finanças públicas num caos, sem falar nas reformas de qualquer tipo, que teriam de ser metidas numa gaveta durante oito meses. Pior ainda, os mercados que hoje nos sustentam a juros razoáveis não tornariam tão cedo a emprestar um tostão à irresponsabilidade indígena.” Afinal quem é que está a fazer uma campanha com base no medo?
A coligação, depois da arrozada que fez com os restos do frango, para a próxima legislatura ainda junta uns ovos que escondeu da Troika às asinhas e às peles que sobejaram, e assim promete-nos um cheiroso e inchado soufflé.
Já António Costa acha que consegue convencer o merceeiro que é um agiota a vender fiado uns quilos de torresmo e uma lata de caviar para as visitas.
O debate de hoje às 10 horas nas rádios entre o primeiro-ministro e o candidato foi muito informativo. Levantada a cortina da demagogia ficou à mostra o programa de António Costa, caso o deixem governar. Desta vez não houve fotografia do número 33, mas no número 33 deve ter havido um brunch eufórico, com aplausos entusiásticos a muitas das medidas de Costa. Eis, em estrito respeito das suas promessas, a tralha programática socialista:
«Inovação» - Costa pretende baixar o IVA da restauração e retirar dinheiro da Segurança Social para reabilitação urbana, e assim aumentar o emprego na restauração e na construção civil.
Isso é inovação?
É a inovação socialista: mais trolhas e empregados de mesa.
E fica a Segurança Social mais deficitária?
Fica.
Há garantia de que o emprego cresça na restauração?
Não há.
Então?
Então, depois vê-se.
«Crescimento» - Costa crê no «Estado empreendedor» e não crê nas empresas exportadoras. Por isso, pretende anular a reforma do IRC e desincentivar o investimento privado.
Esta orientação vai produzir agora os resultados que nunca produziu antes?
Não parece.
Então?
Então, depois vê-se.
«Inteligência» - Na esteira do que já antes João Galamba afirmara, Costa quer cumprir o Tratado Orçamental, mas diz ele, com «inteligência», ou seja, de forma a permitir «o investimento estruturante do Estado».
«O investimento estruturante do Estado» é assim como as PPPs, os novos aeroportos, o TGV, e a terceira e quarta autoestradas para o Porto?
É.
E isso não aumenta o défice e a dívida?
Aumenta.
Então?
Depois vê-se.
«Confiança» - Costa promete cortar 1000 milhões em apoios sociais.
Quais?
Ele não diz.
Segundo que critérios e escalões?
Ele não diz.
Então?
Então temos que ter confiança.
«Classe Média» - Costa promete rever os escalões do IRS para favorecer a classe média.
O que é e quais são os rendimentos da classe média para Costa?
Não sabemos.
Quem vai passar a pagar mais e a pagar menos com essa revisão?
Não sabemos.
E essa revisão não poderá afinal acarretar um aumento de impostos se a classe média for definida muito em baixo, e os escalões médios seriamente agravados?
Pode.
Mas como é que sabemos?
Não sabemos, depois vê-se.
«Paixão» - Costa promete recuperar «a paixão pela educação» de Guterres.
E as paixões de Guterres deram bom resultado?
Péssimo.
Mas esta agora é diferente, não é?
Esta agora consiste, segundo o programa e as mais recentes declarações de Costa, em tornar a escola «menos selectiva» e «mais inclusiva».
O que quer dizer isso?
Quer dizer que acabam as avaliações de professores e alunos, acaba a diferenciação do mérito, e toda a gente segue avante.
Mas isso não é aquilo a que uns chamam facilitismo?
É, mas é óptimo para as estatíticas. Ao fim de dois anos os resultados parecem óptimos.
E depois?
Depois, vê-se.
«Segurança»
Desculpe estas dúvidas que me ficaram, mas é mesmo verdade que o Costa quer financiar a Segurança Social com as receitas das portagens das PPPs?
É.
Mas as portagens não são deficitárias?
São.
Então como é que se financia as PPPs?
Não sabemos, depois vê-se.
E as receitas das portagens chegam para compensar o agravamento do défice da Segurança Social resultante desses «investimentos»?
Claro que não.
Então como é que se corrige o défice da Segurança Social e se garante as pensões futuras?
Costa recusa deixar-se arrastar para essa discussão extemporânea.
Mas não é uma discussão crucial?
É.
E então?
Então, depois vê-se.
«Um novo caminho»
É curioso que neste debate não se falou de Sócrates...
Pois não, não era preciso.
Porquê?
Porque as receitas de Costa são iguais às de Sócrates, só mudou o papel de embrulho.
E não podem levar à mesma bancarrota?
Claro que sim. Mas com vantagem.
Que vantagem é essa?
Temos um actor novo. Já não é preciso falar de Sócrates.
É evidente que as eleições de 4 de Outubro já me estragaram a jornada da bola. Como é que posso sentar-me pacatamente em Alvalade concentrado num jogo que começa à hora a que saem os primeiros resultados e previsões eleitorais?
Parece que neste tipo de debates não se deve falar em “vencedores” (Adão e Silva).
No limite, talvez apenas de “empate” com ligeira vantagem de Passos (Marques Mendes).
Esclarecedor, fica-se a saber quem venceu e quem perdeu. E que certos comentadores perderam também.
Alguém se lembra dos estragos feitos durante a cimeira de Lisboa nos relvados de Belém e quanto tudo isso custou ao município de Lisboa, dinheiro que não pôde ser usado em benefício da cidade?
Não interessa. São amendoins pequenos, eles preocupam-se é com aparato, cenografias e promessas. Quem venha depois faça o resto, que eles só pensam em voltar quando as coisas melhorarem e houver mais dinheiro para gastar, com ou sem comissões...
Foi um suplício assistir àquela seca e confesso que houve momentos em que mudei de canal. É extraordinário como o Passos Coelho não conseguiu desmontar com uma frase, nem é preciso mais, a "obra" do Costa na Câmara de Lisboa. A Câmara de Lisboa é a entidade mais subsidiada do país, só tem de fazer obras, pagar a funcionários, e quando se lhe acaba o dinheiro vai pedir ao Governo. Alguma vez isso é modelo para o país? Portugal não funciona assim, muito menos agora com as regras do Tratado Orçamental. O Costa diminuiu a dívida da Câmara devido a uma receita extraordinária, ainda por cima por uma decisão do Governo, não foi mérito da gestão socialista da Câmara. Então a esquerda anda a atacar o Governo com as privatizações e o Primeiro-ministro deixa passar esta? Só se lembrou da venda dos terrenos do aeroporto no final do debate e mesmo assim deixou o Costa ficar com a última palavra.
Foram várias as vezes que dei um murro no sofá de frustração porque o Costa não levou a resposta que devia. O PS é um partido unipessoal que vive da imagem do seu líder e da construção mediática em torno da sua "obra" na Câmara de Lisboa. A sua imagem passa incólume à forma como tratou António José Seguro e como agora despreza José Sócrates (não que isso me interesse, porque estão os dois bem um para o outro), apesar de ter tido o seu apoio e financiamento para chegar à liderança do PS. Isto diz muito da personalidade de António Costa. Já nem falo no Costa Ministro da Justiça, nomeadamente na sua intervenção no processo Casa Pia e nas alterações à Lei na sequência desse processo, ou na sua megalomania como Ministro da Administração Interna, entregando à GNR lanchas rápidas para vigilância marítima, obrigando o país a gastar ainda mais dinheiro devida à duplicação de meios (felizmente que não teve tempo de fazer mais asneiras...).
A demagogia e a aldrabice ficaram patentes na forma como descreve os efeitos da austeridade imposta pelos credores, omitindo porque é que Portugal ficou sem dinheiro e a Troika tutelou Portugal durante três anos. Além disso, todo o programa socialista é um exercício bacoco efectuado por economistas supostamente competentes, evidenciando o vazio que é o PS neste momento. Tal não é nada de diferente em relação ao que Guterres havia feito com os Estados Gerais, e depois foi o que se viu.
Não gostei da falta de intensidade e da dispersão do Primeiro-ministro. A mensagem tem de ser clara e concisa. O adversário não pode ficar sem resposta, os "moderadores" que se lixem. A esquerda está a usar as perguntas nos debates para fazer acusações e depois o Passos e o Portas têm de se ficar e só responder para o futuro? Não pode ser. Já na terça-feira com a bloquista foi a mesma coisa. Ela não apresentava medidas, só fazia acusações e queixinhas, e quando chegava a vez do Portas a "moderadora" queria que este só falasse no futuro e não pudesse rebatar a outra.
Não é possível construir o futuro sem entender o passado e por isso não se pode deixar o PS passar por entre os pingos da chuva na matéria da dívida, do Euro ou da integração europeia. Não se pode mudar tantas vezes de posição como o PS mudou. Não se pode ser pró-Syriza num dia e no outro já nem conhecer os gregos (não admira que o Costa faça o mesmo ao Sócrates...), não se pode ser europeísta quando a Europa nos financia o modo de vida e passar a ser "nacionalista" quando as regras ficam mais apertadas, não nos podemos queixar do "protectorado" quando temos de reduzir a dívida e já não nos importarmos quando nos obrigam a receber refugiados sem qualquer critério. Os hipócritas e os cínicos podem. O PS pode, à cara podre, por isso é que não merece confiança nenhuma.
* De um comentador anónimo, retirado daqui
Acredito mais na Ana Sá Lopes que considera que Costa só ganhou a segunda parte do debate do que em Marcelo que acha que ele ganhou a primeira. Ganhar, perder... e afinal alguém acredita que o prémio seja coisa de monta?
O comentador há muito que defende a teoria de que, num país maioritariamente de esquerda, só tem possibilidades de ganhar as presidenciais em contraponto a um governo socialista. Aquela cabeça "republicana" não pára.
Depende se damos primado à forma se ao conteúdo.
Na forma, Pedro Passos Coelho foi melhor na primeira parte do que António Costa. Mais seguro, mais claro, mais inteligente. Na segunda parte António Costa foi melhor. Sobretudo por causa do tema dos cortes de pensões. Passos respondeu com o plafonamento encapotado do programa do PS, mas como plafonamento é um palavrão, as pessoas só ouviram que Passos ia cortar 600 milhões nas pensões.
Na forma Costa vinha com o ponto fraco "lesados do BES" e Passos tinha o passado da governação de Sócrates, de que António Costa fez parte, para a troca.
Mas a forma não é o conteúdo, e no conteúdo Pedro Passos Coelho é melhor que António Costa.
Vejamos, no tema sobre a Segurança Social, António Costa, por contraponto a Passos, recusou o corte de 600 milhões nas pensões. : “Não aceitamos qualquer corte nas pensões e não achamos que a sustentabilidade dependa desse corte”. Passos diz que foi estabelecida a meta dos 600 milhões para solucionar o problema de sustentabilidade da segurança social.
Passos que diz que “nós não propusemos um corte de 600 milhões nas pensões" explica que: "A TSU não cobre o valor das pensões que são pagas todos os anos, o que significa que o que temos feito ao longo dos anos é usar impostos para suportar os défices do sistema de pensões”. Passos lembra ainda um estudo que mostra que nos próximos 75 anos “teremos uma dívida implícita enorme”, diz, acrescentando que as pessoas só podem ter confiança na Segurança Social no futuro se “corrigirmos esta situação”.Privatizar parte da receita da segurança social e entregá-la à gestão privada é um erro para António Costa, diga-se de passagem sem razão nenhuma. Costa diz ainda que a parte da gestão privada é igual à gestão especulativa do BES. O que é um disparate. Pois não foi em fundos mutualistas que os lesados do BES perderam o dinheiro. António Costa precisa de um estágio na PIMCO.
Mais tarde, o socialista Jorge Coelho, na Quadratura do Círculo, diz que com o plafonamento a segurança social pode rebentar. Ora eu diria ela pode rebentar mesmo sem plafonamento.
O que é exactamente o plafonamento? Trata-se de criar um limite salarial, a partir do qual os portugueses no activo deixam de estar obrigados a descontar para o sistema público de Segurança Social, como acontece agora.O remanescente seria aplicado em sistemas de capitalização (ou seja, de investimento), fossem eles públicos ou privados. Ambas as parcelas ajudariam a determinar o valor da pensão futura. A coligação prevê isto: “A introdução, para as gerações mais novas, de um limite superior para efeitos de contribuição, que em contrapartida também determinará um valor máximo para a futura pensão. Dentro desse limite, a contribuição deve obrigatoriamente destinar-se ao sistema público e, a partir desse limite, garantir a liberdade de escolha entre o sistema público e sistemas mutualistas ou privados. Esta reforma, que deve ser analisada em sede de concertação social e objecto de um consenso alargado, deve ser feita em condições de crescimento económico sustentado”.
António Costa diz, preto no branco, que é preciso medidas para garantir a sua sustentabilidade; Passos aproveita para dizer que o PS tem medidas que passam “muito mais” que 600 milhões. Diz vão custar mais 5,5 milhões em quatro anos. “Assim espero que nos possamos entender”, num convite a um entendimento futuro nesta área. Recorde-se que o primeiro-ministro tem dito que "A introdução de uma medida para a sustentabilidade da Segurança Social, cujo impacto está estimado em 600 milhões de euros, tem de merecer um amplo consenso social e político",
Costa diz que esses 600 milhões não vêm do corte de pensões. O PS critica o plafonamento da coligação, Passos rebate que a proposta do PS é um plafonamento encapotado. Um plafonamento parece que é vertical e o outro é horizontal.
Passos diz que o "PS não assume que o que propõe é um plafonamento – quer um estímulo à procura, quer pôr as pessoas a descontar menos para a SS para terem mais dinheiro para consumir – “é uma política José Sócrates” – e quer por isso pôr as pessoas a descontar menos quatro pontos percentuais (TSU). “Mas isso custa no seu programa mais de 5.4 mil milhões de euros à Segurança Social”. Passos diz ainda que o PS “espera convencer Bruxelas de que isto é uma reforma estrutural".
Sobre a dívida: “De 2005 a 2008 a divida portuguesa passou de 96 biliões de euros para 195 biliões, e desde que eu fui PM, a divida cresceu apenas 20 pontos percentuais, ou seja, menos de metade do que durante 6 anos de governo do PS”. Touché para Passos.
Passos pede a António Costa que olhe para a situação por que o país passou comparando com outras situações semelhantes de outros países – Irlanda e Grécia: “o nível de riqueza destruída foi superior ao de Portugal”.
António Costa responde com a sua experiência na Câmara a diferença para o actual Governo: “Sei bem o que é herdar uma dívida grande. A diferença é que eu reduzi 40% a dívida que recebi e o Dr. Passos Coelho aumentou em 19% a que recebeu”.
Sobre a Câmara de Lisboa – e redução da dívida: Passos lembra que “parte dessa redução foi com o dinheiro que a gente lhe deu com os terrenos do aeroporto”. By the way, mais uma privatização (a da ANA) criticada pelo líder socialista. Ele é contra, mas lá que lhe deu jeito deu.
A questão de António Costa que passou o tempo a usar o chavão de que o Governo foi além da troika (trazendo até Vítor Gaspar para o debate) é um absoluto fait divers. Em muitas questões Portugal ficou muito aquém da troika. Passos não respondeu isto e se o tivesse feito tinha posto no lugar esta demagógica sentença de António Costa.
Passos Coelho teve bem nesta resposta à critica de que não há números no programa da coligação. Evidentemente que a coligação tem as medidas muito mais quantificadas que o PS, em virtude de ser governo e ter de gerir com números, isto é, com a realidade: "Os números estão bem quantificados no programa de estabilidade que o Governo apresentou à Comissão Europeia”. Passos diz que vai agora responder à questão mais importante, “desmistificando” a ideia de que a austeridade é virtuosa. “Eu não tenho uma espécie de entendimento perverso de que gosto de aplicar austeridade ao país, ou de que austeridade e diminuição de rendimento são medidas virtuosas – os países que o fizeram, fizeram porque precisavam, deixemos-nos de brincadeiras”, diz Passos.
Passos volta a lembrar medidas do anterior Governo de Sócrates: cortou salários, baixou pensões, aumentou IVA. “De certeza que não o fez porque gostava”.
Sobre o desemprego, Passos é firme nos números: chegou a estar no patamar dos 18% e “agora está em cerca de 12%”. “O desemprego tem vindo a diminuir e o emprego tem vindo a ser criado – conseguimos criar cerca de 200 mil empregos na economia”. É preciso ver que em recessão, como esteve a economia portuguesa, não há criação de emprego, há aumento do desemprego. Estudar macro-economia para mais explicações. A recessão nasceu quando, ainda no Governo anterior, foi pedida a intervenção da troika porque o país não se conseguia financiar.
Pedro Passos Coelho: Como criamos emprego então? “Quem cria emprego são as empresas, não é o Estado. O nosso programa é claro nesse aspecto”.
Passos esteve bem quando disse que nos 6 anos do PS, a população empregada diminuiu 174 mil e nessa altura a economia não estava em recessão.
Pedro Passos lembra ainda que as “exportações batem recordes” e que o Governo criou condições juntos dos jovens para que a economia fosse “mais competitiva”.
Uma das coisas que não foi dita com suficiente ênfase é que pela primeira vez o saldo primário da dívida (sem juros) foi positivo.
Passos esteve em alta quando diz que “diminuímos o défice global, que a despesa primária caiu como nunca, e que não é possível fazer cair a despesa sem conseguir poupanças significativas”. “Esse resultado nós conseguimos. E há muita transparência nessa informação, ao contrário do que antes”.
António Costa esteve bem quando não descartou as responsabilidades do passado socialista.
Passos esteve bem quando diz que o programa do PS baseia na procura e consumo o crescimento económico, uma cópia do programa de Sócrates que levou o país ao excesso de dívida.
Sobre as propostas do PS, para quem não leu, ficou a saber-se pouco mais, mas ficou a saber-se isto: “Eliminamos a taxa do IRS em 2016 e 2017. Iremos rever ao longo da legislatura os escalões do IRS”, sem dizer no entanto se começa essa revisão em 2016. Além disso garante o PS repor a progressividade que deixou de existir com o quociente familiar. “Não são fantasias são compromissos com contas certas”.
Passos é sincero. Voltou a dar essa ideia no frente-a-frente com António Costa, ao assumir que o seu Governo não conseguiu alcançar a meta definida para o Serviço Nacional de Saúde no que toca aos médicos de família. "Aumentámos 700 mil, mas ainda faltam 1,2 milhões."
António Costa é mais demagogo. "Baixaremos as taxas moderadoras, não me comprometo nem com o montante nem com o calendário" Diz o socialista.." Não quero que daqui a quatro anos um sucessor diga de mim o que eu estou a dizer de si... Contra factos não há argumentos. Os números com que me comprometo são os números que estão aqui impressos [toca no programa eleitoral]".
A melhor resposta de Passos a Costa foi esta, quando este volta pela segunda vez ao que fez na Câmara de Lisboa, procurando dar segurança aos eleitores. A frase “as pessoas sabem que eu prometo menos do que farei” provoca uma reacção de Passos: “Não comento o seu auto-elogio”.
A melhor resposta de António Costa a Pedro Passos Coelho foi: Frase da noite. "sei que gostaria de debater com o Eng. Sócrates. Mas vai ter que debater comigo porque o seu adversário sou eu". Responde bem Passos Coelho: "olhe que não é muito diferente".
No body language Pedro Passos Coelho é melhor. É mais simples e simpático. Penso até que a certa altura o próprio António Costa se rende áquela simpatia cativante. Não fosse a guerra ideológica e até conseguia ter esboçado um sorriso ao adversário.
De resto sempre senti que António Costa sempre simpatizou especialmente com António Lobo Xavier, da direita católica, na Quadratura do Círculo. António Costa é daqueles socialistas que se atrai pelos antípodas.
É certo que Passos Coelho foi por vezes demasiado palavroso nas justificações - tinha uma duríssima legislatura em avaliação. Mas António Costa esteve demasiado agressivo: acusou Passos Coelho, por exemplo, além de culpado pela austeridade, de ter enganado os lesados do BES. Acho que é contraproducente - as pessoas de boa fé simplesmente não o levam a sério. E depois um debate vale o que vale, não exageremos - os jornalistas de política levam-se demasiado a sério.
Sócrates está convicto de que é um preso político. Julgará que com uma vitória socialista será ilibado?
Estes dias rendiam à oposição a dificuldade na venda do Novo Banco na agenda mediática. A libertação do ex-primeiro ministro tomou-lhe o lugar, de forma ensurdecedora.
Voltarei a este assunto 3a feira no Diário Económico.
Caro eleitor indeciso,
Hoje pretendo sensibilizá-lo para as enormes tragédias que advêm de conceder aos indivíduos e às famílias a liberdade para disporem do seu próprio destino e dinheiro ou para decidirem sobre a escola para os filhos, sobre a saúde para eles e para os próprios, sobre o futuro das suas pensões, e sobre a vida em geral. Os privados são seres terríveis, só pensam em equilíbrio, poupança, lucros e boas contas. O PS é solidário.
Temos uma política para as pessoas. Para a sua concretização faz sentido que todo o dinheiro delas seja confiado a um governo socialista, propondo-se o PS elaborar uma lista dos contribuintes/dadores mais generosos e premiar os mais solidários.
É tempo de confiança. Temos longas e reiteradas provas de gestão do vosso dinheiro, fazendo com ele o que nenhum cidadão ou privado imaginaria.
O futuro é do passado. Na escola, nos hospitais, nas telecomunicações, na banca, nos seguros, nos serviços, na indústria, na agricultura, na energia, na ciência e na arte é necessário e urgente substituir aos instintos ultraliberais dos privados a inovação e prodigalidade do que é público e socialista. Dados e indicadores manipulados parecem contrariar estas afirmações, mas o saneamento das instituições subsequente à tomada de poder pelo meu governo cedo demonstrará o profundo erro de tais indicadores e dados.
O amanhã é da cidadania. Vote no PS e em mim. Damos-lhe tudo o que você pagar em dobro.
AC, Lisboa, Agosto de 1918
As sondagens eleitorais valem o que valem, e talvez as pudéssemos dispensar e esperar que a 4 de Outubro, num ápice, se soubesse o resultado da preferência popular... Haveria menos manipulação e condicionamento.
Enquanto isso, seria conveniente que a uns e outros — e não só de uns para os outros, em debates televisivos — fossem colocadas as questões fundamentais, com grande capacidade de confrontar números de propaganda com números reais. Números não são pessoas, é certo, nem pessoas são números, do mesmo modo que o frenesi propagandístico de uns não condiz com o seu resultado nas urnas.
Podemos começar por aí: pela imensa diferença entre a prevalência mediática da extrema-esquerda e a indiferença eleitoral que ela recebe. O destaque dado na imprensa a figuras como Rui Tavares e Joana Amaral Dias — seja dito duma vez! — é a mais completa demonstração da pobreza profissional do jornalismo que temos.
Pobreza de quem vira microfones e holofotes não para quem pode dizer algo de novo (haveria que procurá-lo), mas para quem bate à porta e pede uma chávena de acúcar...
Enquanto o espaço público estiver dominado dessa maneira, ficaremos à espera de debates sobre grandes temas que não podem ser avaliados ao nível da esgrima política para noticiários verem.
Estas eleições não podem ser só o sufrágio exclusivo dum governo que remediou como pôde o enorme desastre deixado pelo anterior, sobretudo quando este agora se propõe voltar sem o chefe — na cadeia! — mas tendo à frente o braço direito dele, o qual como autarca de Lisboa não deixa saudades.Tornou-a uma cidade abandonada: da limpeza das ruas às bibliotecas o prejuízo e o caos são totais; a sinalização pedonal e a higiene de zonas altamente frequentadas por turistas vergonhosa, com passadeiras desbotadas e ausência de varredores etc.; há uma subterrânea complacência com grandes negócios imobiliários — ainda vão valendo o bom sol, a boa comida e a segurança, que sempre teve e terá... E depois dessa demonstração de incapacidade, pede-nos confiança para acreditar que o PS pode fazer melhor.
Não pode. E essa mentira vai ser fortemente derrotada. Espero que sem deixar dúvidas a ninguém.
Sobre o caso dos cartazes do PS com testemunhos de desempregados, já o dissemos há dias: não passariam de um faits divers sem importância se as pessoas não acreditassem que nas eleições de 4 de Outubro o que está realmente em jogo é competência na gestão de uma crise que não está ainda sanada. Agora, gostaria de conjecturar sobre as causas de tanta incompetência e descuido em matéria tão sensível como a comunicação. Suspeito que a resposta seja muito simples, que tenha afinal que ver causas orçamentais e o velho erro de se subvalorizar as questões de comunicação. Confesso que como profissional, tenho a experiência de me ver obrigado a malabarismos na tentativa de adaptar um projecto a limitações financeiras impostas pelo cliente. Nunca até hoje nada de grave aconteceu porque sempre soubemos dizer “não” quando os resultados dum projecto eram demasiado ameaçados, continha demasiados riscos. Acontece que “queimar etapas” e prescindir de recursos pode resultar na perversão total dos resultados pretendidos: uma ideia tem de ser bem testada em grupos de trabalho devidamente adequados e os riscos éticos, políticos e legais na sua implementação (nada impede a utilização de figurantes voluntários) devidamente acautelados. Por exemplo, parece-me de bastante evidente que um adulto na força da idade, profissionalmente habilitado e socialmente integrado não goste de se confrontar em cartazes gigantes, assumindo cinco anos sem trabalho, e decididamente os "voluntários" não foram devidamente (por escrito) informados sobre os termos e consequências da sua colaboração. Já a questão da data e dos números referentes ao desemprego, é um erro decorrente de uma narrativa política equívoca em si mesma - o desemprego disparou em plenas funções do governo socialista e não há como fugir desse facto. O melhor mesmo é não se brincar com os números nessa matéria.
Finalmente umas palavras sobre o “não caso” dos cartazes da coligação por desforra agora denunciados por fontes socialistas nas redes sociais: ao contrário do provérbio popular, o gosto pode-se discutir, mas comparar a utilização autorizada de imagens em distribuição comercial, adquiridas legitimamente (mesmo que sem exclusividade) nos chamados “bancos de imagens” com o caso dos falsos testemunhos dramáticos na primeira pessoa por (in) voluntários da Junta de Freguesia de Arroios, é comparar a beira da estrada com a estrada da Beira. Não, não foi mau gosto, foi uma enorme salganhada fruto de duma incompetência que marcará indelevelmente a campanha eleitoral de António Costa.
Publicado originalmente aqui
Imagens: Observador
“Eu não estou desempregada desde 2012. Não me podem envolver desta maneira. Aqueles dados, são mentira”, conta ao Observador. Maria João Pinto tem 29 anos.
Disse-o e repito: as consequências da actuação do governo Syriza na Grécia põem em evidência o sucesso da estratégia escolhida pelo governo português nos anos de chumbo do resgate. Assentada a poeira desta dura e persistente crise, estou convicto que a História reservará um lugar de destaque a Passos Coelho pela sua coragem e tenacidade. Mas no curto prazo isso não é perceptível para a maioria das pessoas: as feridas abertas pelos efeitos colaterais do duro e inacabado ajustamento da nossa economia, que levará tempo a produzir resultados dignos de nota, condicionarão os resultados das próximas legislativas. Com erros próprios, uma comunicação social adversa e os condicionalismos das trágicas circunstâncias herdadas, a coligação não conseguirá evitar pagar uma pesada factura pelos mais de três anos de excepcional desgaste.
Por tudo isto é que me parece que o PSD e CDS só ganhariam evitar qualquer espécie de triunfalismo na campanha eleitoral que se vai iniciar. Pelo contrário deveriam adoptar uma propaganda fundada na sobriedade, no humilde reconhecimento do sofrimento causado a tantas pessoas e famílias sacrificadas pelo ajustamento levado a bom termo. A implosão dum estéril modelo económico assente na construção civil, no investimento público e consumo interno nunca deixaria de causar vítimas concretas e um assustador alarme social como aquele que vivemos não há muito tempo. Não há malabarismos estatísticos nem propaganda que acelere a cicatrização dessas feridas ainda recentes. Os eleitores não deixarão de castigar a boa actuação duma governação de emergência, a que a História se encarregará de homenagear e prestar justiça.
* Anatole France
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