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A cidade... (1)

por Luísa Correia, em 31.03.14
«Havia outrossim mais em Lisboa estantes de muitas terras não em uma só casa, mas muitas casas de uma nação, assim como genoveses, e prazentins, e lombardos, e catalães de Aragão e Maiorca, e de Milão, que chamavam milaneses, e corcins e biscainhos, e assim de outras nações, a que os reis davam privilégios e liberdades, sentindo por seu serviço e proveito; e estes faziam vir e enviavam do reino grandes e grossas mercadorias, em guisa que afora as outras coisas que em esta cidade abastadamente carregar podiam, somente de vinhos foi um ano achado que se carregaram doze mil tonéis, afora os que levaram depois os navios na segunda carregação de Março.»...

O tempo da ira - 255 Anos

por João Távora, em 13.01.14

Belém, 13 de Janeiro de 1759

 

Chegou então a vez de Francisco de Assis de Távora, Marquês que fora de Távora. Apesar de ter evidenciado, ele também, grande coragem ao subir ao patíbulo, arrastado por dois soldados pois que ainda não tinha força nas pernas, de tão feridas que tinham ficado ao receber os tratos a que o tinham sujeito, e de se entregar nas mãos dos carrascos, não conseguiu conter grandes brados de dor e angústia enquanto estes lhe quebravam a golpes de maça os ossos das pernas e braços, até que por fim, o laço do garrote lhe abafou a voz e tirou a vida.

 

D. Leonor de Távora, por Luiz de Lancastre e Távora – Quetzal 2010 pp 180

Deus o tenha na sua infinita misericórdia

por João Távora, em 09.12.13

Tenho um amigo que vivendo e trabalhando no meio dos livros, chegado à maturidade (um prodígio que infelizmente não acontece a todos e aos outros surge quase sempre tarde de mais), às tantas confrontado com uma incomensurável lista de obras-primas ainda por ler, decidiu numa sábia atitude de economia de recursos, só se dedicar àquelas que tivessem resistido mais de cem anos no escaparate da erudição humana. É também por amor à verdade que o estudo da História, ciência que tem como objecto o homem no tempo (e não a propaganda política) obriga o historiador a um considerável distanciamento temporal face ao acontecimento em análise. 

Não sendo historiador nem tendo a ambição do meu amigo, mesmo assim também eu venho tentando escapar à gigantesca vaga de panegíricos dedicados à sublimação de Nelson Mandela em intermináveis suplementos de jornal, com beatíficos editoriais, encomiásticos artigos, rubricas e programas. Toda esta ensurdecedora campanha ecoa em tudo o que é jornais, revistas, televisões e redes sociais, surge num tão ingénuo quanto inquietante unanimismo, que no mínimo deveria remeter qualquer mente emancipada para uma atitude de profunda desconfiança. Mas não. Não haverá muitas por estes dias, facto que reforça a pertinência da citação de Chesterton por Henrique Raposo “quando não acredita em Deus, o homem tende a acreditar em tudo”.
Depois, no que respeita ao racismo, uma enfermidade social que me incomoda de sobremaneira, deixem-me que partilhe aqui uma impressão minha muito pouco científica, a de que no Ocidente do século XX, para as mentes mais tacanhas, o mais decisivo papel na desconstrução do anátema contra os negros, terá sido afinal o do Jazz, no Rock n' Roll e Hollywood. O capitalismo, portanto. Devagar, demasiado devagarinho, bem sei. 

 

Memória

por João Távora, em 22.11.13

 

"O principal para que o Governo tenha êxito é saber persistir. Ter a coragem de não mudar de rumo, independentemente dos acidentes de percurso. Recomeçar, pacientemente, quantas vezes forem necessárias. Não se deixar perturbar por agressões verbais, por incompreensões ou por injustiças. Para os homens de convicção e de recta consciência, o que conta é sempre, e só, o futuro'.

 

Primeiro Ministro, Maio de 84

 

(Perspectivas & Realidade, 1984)

50 anos (só)

por João Távora, em 11.08.13

 

"Eu tenho um sonho de que um dia esta nação se irá erguer e viver o significado autêntico do seu credo – temos por verdades evidentes que todos os homens foram criados iguais."

 

Martin Luther King, Washington 28 de Agosto 1963  

Os direitos da Mulher

por João Távora, em 09.08.13

"O génio da liberdade alimenta-se mais dos nossos costumes que do vigor das nossas leis"

(José Joaquim Lopes Praça 1844 - 1920).

 

 

A propósito de um trabalho sobre a história do feminismo que tenho de momento em mãos, aqui vos deixo um pedaço da nossa história menos conhecida, talvez porque não serve os propósitos de propaganda que como se sabe tem de corresponder a uma narrativa estereotipada e linear.  

A história das causas feministas em Portugal só por falta de “massa critica” não recua para muito antes do Portugal constitucional, e a parte mais conhecida cinge-se aos escritos e intervenções das (desiludidas) militantes republicanas do inicio de Século XX, Carolina Beatriz Angelo, Ana de Castro Osório e Maria Veleda. Mas acontece que pedido de concessão do direito de voto às mulhe­res foi oficialmente feito pela primeira vez em Portugal, no dia 22 de abril de 1822 por Domingos Borges de Barros (na imagem), na sessão das Cortes Gerais, Extraordinárias e Constituintes da Nação Portuguesa, quando o deputado representante da Baía, propôs que as mães de seis filhos legítimos (!) pudessem votar nas eleições.

Aqui partilho um pequeno excerto do discurso do tribuno mais tarde “nacionalizado” brasileiro: “Ninguém tem mais in­teresses e apego a um país do que aquele que possui nele mais caros objectos, e ninguém mais atendido deve ser de uma Nação do que aquele que mais lhe presta: a mãe que tem seus filhos em um país, é sem dúvida, quem mais interesse, e apego por ele tem; e ninguém dá mais a uma Nação do que quem lhe dá os cidadãos: sendo como são estes princípios de suma verdade, temos que à mãe de família se não deve negar o direito de votar naqueles que devem representar a Nação. Não têm as mulheres defeito algum que as prive daquele direito, e apesar do criminoso desleixo que muito de propósito tem havido em educá-las, por isso que o homem mui cioso de mandar, e temendo a superioridade das mulheres as tem conservado na ignorância, todavia não há talentos, ou virtudes em que elas não tenham rivalizado, e muitas vezes excedido aos homens;” (…) “A Nação portuguesa que tanto se tem distinguido, eu quisera que em si fizes­se sobressair o amor filial, e que nós não negássemos a nossas mães, o que concedemos aos nossos assalariados; nem levados de prejuízos, o duvidemos fazer pela novida­de que a preposição parece encerrar. No estado de New Jersey, nos sete primeiros anos da sua independência, as mulheres votaram nas eleições, e confessam os America­nos que votaram sempre muito bem, confessam que torna ainda mais pecaminosa a cabala, e o partido que fez alterar, sem razão mais que o repreensível ciúme e amor de mandar nos homens, aquele tão louvável arbítrio que tinham tomado homens justos, e conhecedores do cora­ção humano. Por todas estas razões concluo, que quando a todas as mulheres que tiverem os requisitos que a lei exigir não for concedido votar nas eleições, ao menos te­nham esse direito as mães de seis filhos legítimos.”

 

In A Concessão do Voto às Portuguesas - Breve Apontamento de Maria Reynolds de Souza, Colecção Fio de Ariana – CIG, Comissão para a Igualdade de Género 2006

António Costa o magnânimo

por João Távora, em 04.06.13

É sabido como na toponímia de Lisboa abundam canalhas e tiranetes. Eu era incapaz de morar numa avenida Álvaro Cunhal e seria um suplício viver numa avenida Afonso Costa. O facto é que com tanta magnanimidade, falta só a edilidade devolver a fluidez à Avenida da Liberdade e o nome original à ponte sobre o Tejo.

 


O Século de Fátima

por João Távora, em 02.06.13

(…) Fátima tornou-se com o tempo um espaço agregador da expressão do religioso, dos seus itinerários e da sua diversidade. Fátima sedimentou, por um lado, a sua identidade no espaço do catolicismo oficial, repropondo uma espiritualidade ao alcance não já apenas das elites religiosas mas acessível a todos (ao facto não será indiferente o facto dos videntes serem crianças e provirem de uma cultura campesina), mas ao mesmo tempo tornou-se um polo de atracção de uma religiosidade em bruto e heterogénea, um porto  para peregrinos em diferentes estágios de crer. (…)

O século XX em Portugal foi o século de Fátima, mas ele ainda não sabe. 

 

Excerto da crónica de José Tolentino Mendonça - Expresso Revista 1 de Junho 2013

 

 

 

Livingstone

por Luísa Correia, em 23.03.13
A imagem de Livingstone, o destinatário da lendária pergunta de Stanley, "Doctor Livingstone, I presume?", passa, actualmente, por uma redefinição em terras de Sua Majestade. O missionário e médico escocês foi, nos anos que seguiram a sua morte, em 1873, e ao longo do século XX, praticamente idolatrado pelos britânicos, pelo seu pendor aventureiro aliado ao combate contra a escravatura e a violência colonizadora. Os méritos de Livingstone são inegáveis.
Mas não fossem os britânicos uma das guardas avançadas da "correcção política", aí temos a imagem de Livingstone ensombrada por uns quantos pecadilhos, que desencadearam forte especulação sobre a genuinidade do seu humanitarismo. Livingstone, dizem, ter-se-á servido de trabalho escravo na logística das suas deslocações. Sucede que, no tempo do velho explorador, o transporte de bagagens por terras centro-africanas não era feito por máquinas ou animais, mas por homens, dada a qualidade dos trilhos e a presença dos predadores. E nem sempre essa mão de obra era livre. Livingstone recorreu, portanto, ao que tinha ao dispor, não deixando que um excesso de escrúpulos empecilhasse a sua missão. Mas lamentava - e escreveu-o - que as coisas fossem o que eram.
Dizem também que, pontualmente, perante a rebelião de um ou outro carregador, terá usado ou ameaçado usar de violência. Mas esta é a abordagem paternalista característica da mentalidade colonial da época, mesmo nas suas expressões mais benevolentes. E palpita-me que um motim em plena selva dificilmente se sanaria pela via negocial.
O anacronismo é o vício da leitura "historicamente correcta". Filtre-se um acontecimento do passado pela peneira dos valores do presente e aposto que só sobra areia, areia seca e muita para a "camionete" de cada um .

Romanov

por Luísa Correia, em 20.03.13
O Figaro Histoire dedica um dos seus números recentes aos Romanov e aos trezentos anos em que comandaram os destinos da Rússia. O "cahier" não acrescenta novidades ao que se sabe, mas advoga, explicitamente, a perspectiva de que teriam sido as cerca de sete décadas consecutivas de poder feminino, com Isabel I e Catarina a Grande, as responsáveis pela preponderância cultural russa na Europa oitocentista, na literatura, no teatro, na música, na ópera e no ballet. De resto, parece que já antes, Pedro o Grande incentivara uma certa emancipação (leia-se educação) das mulheres, ciente de que da sua maior curiosidade e sensibilidade às exigências da moda dependia o refinamento dos costumes de maridos e filhos, à época ainda dados a usar barbas anacrónicas, a arrotar às mesas e a assoar os narizes às toalhas.
Impressionam naturalmente as páginas dedicadas aos últimos Romanov. As viragens da História revelam-se, muitas vezes, demasiado injustas para com os governantes em exercício, sacrificando, numa corrente de autocratas ou déspotas, aqueles que o são menos. O "povo" tem esse agudo sentido de oportunidade...
Recomendo, a propósito, a biografia "Nicholas & Alexandra", de Robert K. Massie. Tanto quanto julgo saber, Massie é pai de uma criança hemofílica, o que lhe proporciona uma visão interior do drama de Alexandra, na sua somatização de todas as angústias, na sua devoção desesperada e fatal a Raspoutine, na sua indiferença ao resto do mundo.

Educar para a liberdade

por João Távora, em 15.03.13
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No âmbito do "Projecto Educar" da Causa Real e com o apoio da Real Associação de Coimbra estive esta manhã na Escola EB 2 e 3º Ciclos Dr. João de Barros na Figueira da Foz a fazer uma exposição aos alunos do 9º ano intitulada "Da Monarquia à República". Acolhida com visível entusiasmo pelos cerca de 50 alunos presentes, tratou-se duma perspectiva monárquica à luz dos acontecimentos ignorados pelos manuais escolares sobre aquele conturbado período da nossa história concebida numa formula simples e com o suporte de vários elementos audiovisuais. Isto, claro está, a par de uma abordagem ao sucesso das monarquias contemporâneas.

Tulipomania

por Luísa Correia, em 10.02.13
O caso da "Tulipomania" foi o que provocou o primeiro "crash" dos tempos modernos, e o que me ajudou a compreender as causas da crise actual, tão em linha com aquilo que os holandeses do século XVII apodaram de "comércio do vento".
Reza a História que a tulipa, originária da Ásia e trazida para a Europa pelos turcos, se instalou bem instalada na Holanda, na qualidade de artigo de grande luxo. Mas porque só floria no Verão, os agentes económicos, sempre insatisfeiros, decidiram convertê-la num "mercado de futuros", promovendo a transacção, antecipada e certificada por um título de venda, dos bolbos simples e ainda debaixo da terra. Esta mudança de um mercado sazonal de bens concretos para um mercado de valores em títulos, activo todo o ano, teve como consequência que a especulação disparasse e o preço das tulipas decuplicasse de um dia para o outro, atingindo, nas primeiras semanas de 1637, o extraordinário patamar dos 10.000 guilders (quase 100.000 euros) por bolbo. E em Fevereiro desse ano, a "bolha" floral rebentava, felizmente com efeitos mais traumáticos do que económicos para a rica Holanda seiscentista.
Jan Breughel, o jovem, satiriza expressivamente este episódio na sua "Alegoria sobre a Tulipomania" - veja-se como, no fim do ciclo (ou no canto inferior direito), há um macaquinho que "rega" sem decoro as próprias tulipas. Mas as "finanças" têm esse condão: fazem-nos esquecer das coisas reais e lançam-nos a todos, alegremente, aos papéis.

Os postes são como as cerejas...

por Luísa Correia, em 28.01.13
Muito interessante, o documentário que o canal História ontem apresentou sobre o papel precursor da companhia italiana Olivetti no desenvolvimento do mundo informático: a sua criação do Programa 101, o primeiro computador pessoal do tamanho de uma máquina de escrever, passando pelas bem sucedidas investigações no campo das linguagens de programação e pela invenção do cartão magnético, avô dos actuais CD's de "software". O curioso é que todo este trabalho é contemporâneo das investigações e experiências preliminares que culminariam com a chegada do homem à Lua. Tudo se passa numa época em que o comum dos mortais desconhecia que pudessem existir outros auxiliares das suas matemáticas escolares ou domésticas que não fossem o ábaco e os dedos das mãos.
Mas o melhor do documentário é o final, quando um dos intervenientes, um dos velhinhos "revelhos" que, nos idos de sessenta, conceberam o Programa 101, nos olha do seu lado da objectiva e declara com risonha bonomia: "Não se esqueçam de que não estariam aqui se nós não tivéssemos estado cinquenta anos antes". E é isto! É esta linha breve, em que julgo ver a síntese do sentido da vida - se o há -, que demarca a fronteira entre a cultura dos livros e das viagens e a sabedoria íntima e conciliadora que só o tempo traz. Como os índios, veneremos os nossos anciãos.

Não percam...

por Luísa Correia, em 14.01.13
... aqui, uma magnífica exposição virtual dedicada aos portulanos. Portugal em destaque, claro!

O "French System"

por Luísa Correia, em 14.01.13
(Olympia, de Manet)

Quando li "Pantaleão e as visitadoras", de Vargas Llosa, julguei estar perante a mais delirante sátira ao que dizem ser a força natural e naturalmente irreprimível das pulsões masculinas. Acabo de perceber que não: que o enredo, de que se vê protagonista o escrupulosíssimo Pantaleão, é uma sátira sem delírio, uma expressiva caricatura da realidade.
Comecei a desconfiar disso há uns tempos, ao deparar-me, na descrição de um cenário de operações da nossa guerra em África, com uma alusão a um certo, inexplicado, "French System". Tirei do contexto que era sistema apimentado. Mas só há pouco o penúltimo número da revista "l'Histoire", cujo tema central é "Prostitution, de la tolérance à la prohibition", me desvendou o mistério.
Rendido à tese agostiniana de que as paixões insatisfeitas perturbam a ordem do mundo, o "French System" afinou pelo princípio de que, "do mal, o menos". Tratou, portanto, de regular o "mal" a que a satisfação das paixões obriga, de modo a, assegurando a ordem do mundo, prevenir comportamentos "torpes" e riscos sanitários. Isto é, consagrou as chamadas "casas de tolerância" - ou, no quadro de guerra, os "bordéis de campanha", ao jeito do corpo móvel de visitadoras de Pantaleão - com regras de funcionamento bem definidas e atento policiamento de costumes.
Curiosas são as circunstâncias em que, em boa hora, cessa o "French System"... pelo menos em França. Tendo obtido, durante a guerra de 39-45, a entusiástica adesão dos ocupantes alemães, muito ciosos da sua integridade física, o sistema propiciou o colaboracionismo entre lençóis. A situação veio a ser denunciada e, logo em 46, encerram (formalmente) as ditas "casas de tolerância", sendo extinto um regime - e exprobrada uma visão do homem e da mulher - então prestes a completar século e meio de existência.

Coisas do passado

por Luísa Correia, em 12.01.13
Perpassado de saudade, o documentário hoje apresentado na RTP 2 sobre a história do velho complexo industrial CUF, desde a sua criação por Alfredo da Silva, em 1908, até aos actuais investimentos Mello para recuperação de algumas das suas produções ou instalações.
O documentário regista, num tom de indisfarçável apreço, as preocupações "paternalistas" do fundador do grupo, expressas na criação de bairros de habitação para os seus operários, de creches, escolas e campos de férias para a respectiva prole, de hospitais e grupos desportivos para todos. E põe a ridículo, sem grandes subtilezas, as comissões de trabalhadores formadas na altura do PREC, provando como elas, interpeladas sobre os objectivos do socialismo que as inspirava, não sabiam - para além de papaguear os chavões do momento - esclarecer o que era que se pretendia que fizessem; e como a sua intervenção, avaliada em retrospectiva por ex-empregados da casa, perturbou a disciplina do trabalho e lhe(s) foi fatal.
Já tinha dado pela mudança de direcção dos ventos da História. Mas não me tinha ainda apercebido - por culpa do esquerdismo que tinge a corrente mediática - de que a mudança também chegou ao miolo da nossa consciência colectiva (... se a temos ...), e de que os dogmas das últimas quatro décadas estão mesmo a ruir.

Cantinho de escárnio e maldizer

por Luísa Correia, em 19.12.12
Já li algumas biografias de Churchill e todas elas me souberam a pouco; ou seja, o percurso do biografado nem sempre terá correspondido às expectativas que o seu nome, a sua reputação e algumas das suas palavras ditas e escritas tinham criado em mim. O programa televisivo que vi ontem sobre o seu comportamento para com uma Polónia aliada e agredida é a gota que me leva a esvaziar aqui o copo da latente decepção.
Churchill foi, tanto quanto posso ajuizar, um homem corajoso, um excelente soldado, e um homem perspicaz, bom analista de personalidades. Mas, à semelhança do que tenho visto suceder a gestores e estadistas britânicos, di-lo-ia estratega medíocre, fraco planeador, e intransigente, implacável mesmo, no que considerava, de forma mais impulsiva do que racional, ser a melhor defesa dos interesses do seu país, com prejuízo, se necessário, dos sentidos de equilíbrio, de honra e de humanidade. O fracasso dos Dardanelos, a traição dos polacos e o bombardeamento de Dresden ensombram-lhe o retrato, não havendo sucessos pessoais estrondosos que o iluminem - a guerra, convenhamos, foi ganha pelos americanos! É certo que lá vejo - e é um gentil retoque fotográfico - um casamento feliz de seis ou sete décadas. Defendido, este sim, com a apuradíssima visão estratégica que lhe faltou na política, à custa de longas ausências e férias separadas: é que cônjuges que mal se encontram, podem esquecer que existem... mas lá cansar, não cansam.

25 de Novembro, dia da Liberdade!

por João Távora, em 25.11.12

 

Nos dezoito meses subsequentes ao 25 de Abril o poder da esquerda revolucionária apoiada por sectores radicais das Forças Armadas, com a cumplicidade dos comunistas e dos seus satélites (então como hoje com representação eleitoral muito semelhante, de cerca de 18% na Assembleia Constituinte) controlando os sindicatos e os Órgãos de Comunicação Social, nomeadamente a rádio e a omnipresente televisão, vai tomando conta do País que a 25 de Novembro se encontra à beira da guerra civil.
Nesse dia, como acontece a muito boa gente, a minha família é aconselhada a deixar Lisboa, e partimos todos para umas imprevistas “férias” em local recôndito, que a caça às bruxas há muito que se prenunciava (era normal o pivot do telejornal adjectivar um partido à direita do PS como “fascista” ou “da vergonha”). Mas foi pela emissão televisiva que assistimos à reviravolta do golpe, quando é cortado o piu ao major Duran Clemente para a emissão prosseguir dos estúdios do porto com uma comédia de Danny Kaye. Dois dias depois, estávamos de volta às aulas e o "processo revolucionário em curso" estava definitivamente comprometido. A democracia prevalecera ao "poder popular", ou seja "da rua", discricionário, tirânico. Quem como eu viveu esses emocionantes dias (com catorze anos era um precoce activista) tem a perfeita noção do valor precioso da liberdade. Que é o que hoje se devia celebrar.

Amnésia colectiva

por João Távora, em 22.11.12

 

A “memória colectiva” é um peculiar conceito alimentado pelas oligarquias do regime com a tralha politicamente correcta e a espuma dos dias que anima os vencedores na sua mesquinha luta pelo poder. Curiosamente nessa “memória selectiva” os heróis e os símbolos são escolhidos criteriosamente de um cardápio ideológico com o horizonte máximo de três ou quatro gerações. Acontece que, para grande contrariedade dos “nossos senhores” não existe uma coisa dessas de “memória colectiva”; resultando os seus porfiados esforços num fenómeno de “amnésia colectiva”, um assunto afinal com que ninguém se preocupa porque, mesmo atreitos ao entretenimento e à fancaria o mais das vezes se vive apoquentado com o pão e o vinho à mesa.

No próximo dia 1 de Dezembro o calendário assinala pela última vez como Feriado Nacional o Dia da Restauração Independência, assunto que na verdade a poucos comove e cuja exumação acontecerá com o recato que inevitavelmente um Sábado impõe a uma data festiva há muitos anos ameaçada pela indiferença dum regime apátrida e sem memória. Uma terrível parábola que nos deveria afligir a todos se é que, sem darmos conta não estaremos já em profundo estertor como Nação.

 

Foto Instagram

 

O auditório da Biblioteca Nacional encheu-se para a conferência organizada pela Real Associação de Lisboa sobre o rei Dom Manuel II homem de cultura com Prof. Dr. Artur Anselmo. Um fim de tarde de grande elevação cívica e patriótica, quase fazendo esquecer a decadência do Portugal de hoje. Se o país tivesse seguido o exemplo daquele bom, honesto, inteligente e sensato jovem monarca, hoje estaríamos certamente mais cultos, mais serenos, prósperos e civilizados.


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