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Chegou então a vez de Francisco de Assis de Távora, Marquês que fora de Távora. Apesar de ter evidenciado, ele também, grande coragem ao subir ao patíbulo, arrastado por dois soldados pois que ainda não tinha força nas pernas, de tão feridas que tinham ficado ao receber os tratos a que o tinham sujeito, e de se entregar nas mãos dos carrascos, não conseguiu conter grandes brados de dor e angústia enquanto estes lhe quebravam a golpes de maça os ossos das pernas e braços, até que por fim, o laço do garrote lhe abafou a voz e tirou a vida.
D. Leonor de Távora, por Luiz de Lancastre e Távora – Quetzal 2010 pp 180
Tenho um amigo que vivendo e trabalhando no meio dos livros, chegado à maturidade (um prodígio que infelizmente não acontece a todos e aos outros surge quase sempre tarde de mais), às tantas confrontado com uma incomensurável lista de obras-primas ainda por ler, decidiu numa sábia atitude de economia de recursos, só se dedicar àquelas que tivessem resistido mais de cem anos no escaparate da erudição humana. É também por amor à verdade que o estudo da História, ciência que tem como objecto o homem no tempo (e não a propaganda política) obriga o historiador a um considerável distanciamento temporal face ao acontecimento em análise.
Não sendo historiador nem tendo a ambição do meu amigo, mesmo assim também eu venho tentando escapar à gigantesca vaga de panegíricos dedicados à sublimação de Nelson Mandela em intermináveis suplementos de jornal, com beatíficos editoriais, encomiásticos artigos, rubricas e programas. Toda esta ensurdecedora campanha ecoa em tudo o que é jornais, revistas, televisões e redes sociais, surge num tão ingénuo quanto inquietante unanimismo, que no mínimo deveria remeter qualquer mente emancipada para uma atitude de profunda desconfiança. Mas não. Não haverá muitas por estes dias, facto que reforça a pertinência da citação de Chesterton por Henrique Raposo “quando não acredita em Deus, o homem tende a acreditar em tudo”.
Depois, no que respeita ao racismo, uma enfermidade social que me incomoda de sobremaneira, deixem-me que partilhe aqui uma impressão minha muito pouco científica, a de que no Ocidente do século XX, para as mentes mais tacanhas, o mais decisivo papel na desconstrução do anátema contra os negros, terá sido afinal o do Jazz, no Rock n' Roll e Hollywood. O capitalismo, portanto. Devagar, demasiado devagarinho, bem sei.
"O principal para que o Governo tenha êxito é saber persistir. Ter a coragem de não mudar de rumo, independentemente dos acidentes de percurso. Recomeçar, pacientemente, quantas vezes forem necessárias. Não se deixar perturbar por agressões verbais, por incompreensões ou por injustiças. Para os homens de convicção e de recta consciência, o que conta é sempre, e só, o futuro'.
Primeiro Ministro, Maio de 84
(Perspectivas & Realidade, 1984)
Martin Luther King, Washington 28 de Agosto 1963
"O génio da liberdade alimenta-se mais dos nossos costumes que do vigor das nossas leis"
(José Joaquim Lopes Praça 1844 - 1920).
A propósito de um trabalho sobre a história do feminismo que tenho de momento em mãos, aqui vos deixo um pedaço da nossa história menos conhecida, talvez porque não serve os propósitos de propaganda que como se sabe tem de corresponder a uma narrativa estereotipada e linear.
A história das causas feministas em Portugal só por falta de “massa critica” não recua para muito antes do Portugal constitucional, e a parte mais conhecida cinge-se aos escritos e intervenções das (desiludidas) militantes republicanas do inicio de Século XX, Carolina Beatriz Angelo, Ana de Castro Osório e Maria Veleda. Mas acontece que pedido de concessão do direito de voto às mulheres foi oficialmente feito pela primeira vez em Portugal, no dia 22 de abril de 1822 por Domingos Borges de Barros (na imagem), na sessão das Cortes Gerais, Extraordinárias e Constituintes da Nação Portuguesa, quando o deputado representante da Baía, propôs que as mães de seis filhos legítimos (!) pudessem votar nas eleições.
Aqui partilho um pequeno excerto do discurso do tribuno mais tarde “nacionalizado” brasileiro: “Ninguém tem mais interesses e apego a um país do que aquele que possui nele mais caros objectos, e ninguém mais atendido deve ser de uma Nação do que aquele que mais lhe presta: a mãe que tem seus filhos em um país, é sem dúvida, quem mais interesse, e apego por ele tem; e ninguém dá mais a uma Nação do que quem lhe dá os cidadãos: sendo como são estes princípios de suma verdade, temos que à mãe de família se não deve negar o direito de votar naqueles que devem representar a Nação. Não têm as mulheres defeito algum que as prive daquele direito, e apesar do criminoso desleixo que muito de propósito tem havido em educá-las, por isso que o homem mui cioso de mandar, e temendo a superioridade das mulheres as tem conservado na ignorância, todavia não há talentos, ou virtudes em que elas não tenham rivalizado, e muitas vezes excedido aos homens;” (…) “A Nação portuguesa que tanto se tem distinguido, eu quisera que em si fizesse sobressair o amor filial, e que nós não negássemos a nossas mães, o que concedemos aos nossos assalariados; nem levados de prejuízos, o duvidemos fazer pela novidade que a preposição parece encerrar. No estado de New Jersey, nos sete primeiros anos da sua independência, as mulheres votaram nas eleições, e confessam os Americanos que votaram sempre muito bem, confessam que torna ainda mais pecaminosa a cabala, e o partido que fez alterar, sem razão mais que o repreensível ciúme e amor de mandar nos homens, aquele tão louvável arbítrio que tinham tomado homens justos, e conhecedores do coração humano. Por todas estas razões concluo, que quando a todas as mulheres que tiverem os requisitos que a lei exigir não for concedido votar nas eleições, ao menos tenham esse direito as mães de seis filhos legítimos.”
In A Concessão do Voto às Portuguesas - Breve Apontamento de Maria Reynolds de Souza, Colecção Fio de Ariana – CIG, Comissão para a Igualdade de Género 2006
É sabido como na toponímia de Lisboa abundam canalhas e tiranetes. Eu era incapaz de morar numa avenida Álvaro Cunhal e seria um suplício viver numa avenida Afonso Costa. O facto é que com tanta magnanimidade, falta só a edilidade devolver a fluidez à Avenida da Liberdade e o nome original à ponte sobre o Tejo.
(…) Fátima tornou-se com o tempo um espaço agregador da expressão do religioso, dos seus itinerários e da sua diversidade. Fátima sedimentou, por um lado, a sua identidade no espaço do catolicismo oficial, repropondo uma espiritualidade ao alcance não já apenas das elites religiosas mas acessível a todos (ao facto não será indiferente o facto dos videntes serem crianças e provirem de uma cultura campesina), mas ao mesmo tempo tornou-se um polo de atracção de uma religiosidade em bruto e heterogénea, um porto para peregrinos em diferentes estágios de crer. (…)
O século XX em Portugal foi o século de Fátima, mas ele ainda não sabe.
Excerto da crónica de José Tolentino Mendonça - Expresso Revista 1 de Junho 2013
No âmbito do "Projecto Educar" da Causa Real e com o apoio da Real Associação de Coimbra estive esta manhã na Escola EB 2 e 3º Ciclos Dr. João de Barros na Figueira da Foz a fazer uma exposição aos alunos do 9º ano intitulada "Da Monarquia à República". Acolhida com visível entusiasmo pelos cerca de 50 alunos presentes, tratou-se duma perspectiva monárquica à luz dos acontecimentos ignorados pelos manuais escolares sobre aquele conturbado período da nossa história concebida numa formula simples e com o suporte de vários elementos audiovisuais. Isto, claro está, a par de uma abordagem ao sucesso das monarquias contemporâneas.
Nos dezoito meses subsequentes ao 25 de Abril o poder da esquerda revolucionária apoiada por sectores radicais das Forças Armadas, com a cumplicidade dos comunistas e dos seus satélites (então como hoje com representação eleitoral muito semelhante, de cerca de 18% na Assembleia Constituinte) controlando os sindicatos e os Órgãos de Comunicação Social, nomeadamente a rádio e a omnipresente televisão, vai tomando conta do País que a 25 de Novembro se encontra à beira da guerra civil.
Nesse dia, como acontece a muito boa gente, a minha família é aconselhada a deixar Lisboa, e partimos todos para umas imprevistas “férias” em local recôndito, que a caça às bruxas há muito que se prenunciava (era normal o pivot do telejornal adjectivar um partido à direita do PS como “fascista” ou “da vergonha”). Mas foi pela emissão televisiva que assistimos à reviravolta do golpe, quando é cortado o piu ao major Duran Clemente para a emissão prosseguir dos estúdios do porto com uma comédia de Danny Kaye. Dois dias depois, estávamos de volta às aulas e o "processo revolucionário em curso" estava definitivamente comprometido. A democracia prevalecera ao "poder popular", ou seja "da rua", discricionário, tirânico. Quem como eu viveu esses emocionantes dias (com catorze anos era um precoce activista) tem a perfeita noção do valor precioso da liberdade. Que é o que hoje se devia celebrar.
A “memória colectiva” é um peculiar conceito alimentado pelas oligarquias do regime com a tralha politicamente correcta e a espuma dos dias que anima os vencedores na sua mesquinha luta pelo poder. Curiosamente nessa “memória selectiva” os heróis e os símbolos são escolhidos criteriosamente de um cardápio ideológico com o horizonte máximo de três ou quatro gerações. Acontece que, para grande contrariedade dos “nossos senhores” não existe uma coisa dessas de “memória colectiva”; resultando os seus porfiados esforços num fenómeno de “amnésia colectiva”, um assunto afinal com que ninguém se preocupa porque, mesmo atreitos ao entretenimento e à fancaria o mais das vezes se vive apoquentado com o pão e o vinho à mesa.
No próximo dia 1 de Dezembro o calendário assinala pela última vez como Feriado Nacional o Dia da Restauração Independência, assunto que na verdade a poucos comove e cuja exumação acontecerá com o recato que inevitavelmente um Sábado impõe a uma data festiva há muitos anos ameaçada pela indiferença dum regime apátrida e sem memória. Uma terrível parábola que nos deveria afligir a todos se é que, sem darmos conta não estaremos já em profundo estertor como Nação.
Foto Instagram
O auditório da Biblioteca Nacional encheu-se para a conferência organizada pela Real Associação de Lisboa sobre o rei Dom Manuel II homem de cultura com Prof. Dr. Artur Anselmo. Um fim de tarde de grande elevação cívica e patriótica, quase fazendo esquecer a decadência do Portugal de hoje. Se o país tivesse seguido o exemplo daquele bom, honesto, inteligente e sensato jovem monarca, hoje estaríamos certamente mais cultos, mais serenos, prósperos e civilizados.
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