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O Estado paternal

por henrique pereira dos santos, em 30.06.25

Como me convidaram, com alguma antecedência, para ir à CNN falar, por causa dos avisos da protecção civil sobre fogos, tive tempo para pensar sobre o que queria dizer e falar com quem sabe.

Devo dizer que, a meio da semana, num jantar de família, uma das minhas sobrinhas me perguntou se era arriscado ir para onde ela ia no dia seguinte, porque tinha ouvido dizer que havia risco máximo de incêndio.

Lá lhe expliquei que não tinha estado a olhar para as previsões com atenção suficiente, mas do que tinha visto não me parecia que houvesse um risco por aí além (em qualquer caso, lá expliquei, pela enésima vez, que nunca se foge de um incêndio sem ter a certeza absoluta do caminho a fazer e do estado em que se vai encontrar o percurso, à mínima dúvida, mais vale ficar onde se está e escolher a situação mais favorável possível no caso de arder tudo à volta, o que frequentemente corresponde à casa onde se está, ou um edifício com boas características, como igrejas e capelas).

Mas fiquei com o assunto na cabeça o que, juntando ao convite da CNN, me fez tentar perceber se eu estava a pensar mal na matéria.

Aparentemente, todas as pessoas que ouvi foram unânimes: "não ligues muito ao risco de incêndio rural, que atinge rapidamente o valor máximo e não tem capacidade para avaliar o risco meteorológico, olha antes para o FWI que, esse sim, te permite avaliar melhor esse risco".

A questão prende-se com uma noção de risco estrutural, que está muito ligada ao histórico dos incêndios e que, erradamente, o Estado português adopta como instrumento legal, de tal forma que proíbe uma série de actividades para tentar evitar ignições.

Mas toda a gente sabe que o indicador usado não é grande charuto.

O que acontece é que o seu uso representa um risco muito menor para o IPMA e para o ICNF (se as coisas não correrem mal, ninguém se vai lembrar do aviso, se correrem mal, o aviso ficou feito e as responsabilidades passadas para terceiros) e permite à GNR e Protecção Civil apresentar trabalho.

Não tenho nada contra o facto de este indicador, o do risco de incêndio no Continente, ser usado para desencadear um conjunto de alertas dirigidos às pessoas e comunidades mais relevantes, com um conjunto de conselhos técnicos para evitar ignições, mas deixando às pessoas a opção de fazer isto e não fazer aquilo.

Só que o Estado português tem uma dificuldade muito grande em admitir que um agricultor em Alcaravelas tenha bom senso e experiência suficiente para tomar decisões autonomamente, e acha que são os técnicos do IPMA e do ICNF, através da Protecção Civil e da GNR, que são capazes de impor a ordem no país, dizendo ao agricultor de Alcaravelas se vai ou não vai fazer esta ou aquela actividade.

Claro que o Estado, em primeiro lugar, não tem capacidade nenhuma para verificar o cumprimento das regras coercivas que pretende impor (o meu comandante na tropa insistia que nunca se deve dar uma ordem que não pode ser verificada, obrigado capitão (hoje general) Viana).

Segundo, com este massacre de avisos por tudo e por nada, o Estado se comporta como o pastor que, de tanto gritar "vem lobo", acabou a ter de se defender sozinho quando o lobo veio mesmo.

Não era mais razoável reservar os avisos para quando eles fazem mesmo falta, em vez de andar a dizer que há um risco máximo de incêndio em dias que, manifestamente, estão muito, muito longe do risco máximo de incêndio real?

"As casas não são uma mercadoria"

por henrique pereira dos santos, em 29.06.25

A frase que uso como título do post não é minha, é de André Escoval.

De acordo com o que ontem foi sendo repetido pelos vários orgãos sociais que reproduzem, acriticamente, o que a LUSA escreve, André Escoval é "um dos porta-vozes da organização e membro do movimento Porta a Porta", noutros casos aparece como membro da "Casa para viver", mas isso é irrelevante porque, na verdade, é (ou era, que no PCP essas coisas raramene são a preto e branco) mais um militante do PC a cumprir uma tarefa atribuída pelo partido.

Não admira por isso que quem seja do PC diga frases como esta (versão mais extensa) "As casas não são uma mercadoria, as casas têm uma função social que é as pessoas viverem nelas".

Esta ideia de que as coisas e os serviços se dividem entre mercadorias ou funções sociais é uma ideia que persiste há muito tempo e vai para lá dos limites dos partidos, sendo partilhada por gente com opções ideológicas muito diferentes, apesar do resultado prático dessa tontice que se pode observar largamente em todo o século XX.

Os alimentos não são mercadoria, têm uma função social, ou o trabalho não é uma mercadoria, tem uma função social, que seguem exactamente a mesma lógica, são menos usadas porque a ideia de que os trabalhadores não têm nada que reivindicar o justo pagamento do seu salário, porque não são mercadoria, é uma ideia um bocado incómoda.

As casas (ou a saúde, ou a educação) conseguem facilmente passar em frases deste tipo, desde que ninguém se entretenha a perguntar se os trabalhadores da construção civil devem ser pagos, como vulgares vendedores de trabalho, ou devem ser dignificados como produtores de funções sociais, isentos das questões de mercearia.

Se os fornecedores de materiais se devem alimentar da glória de servirem funções sociais, ou ser justamente pagos pelo serviço que prestam.

Se os produtores de cimento, de madeiras, de metais, etc, usados nas casas, se devem contentar com diplomas de cidadão exemplar no exercício de funções sociais, ou deixar-se corromper pela ideia de receber a justa remuneração do seu trabalho e capacidade de produção.

É a partir desta ideia de que a propriedade, o seu uso e a livre troca de bens e serviços entre compradores e vendedores são coisas intrinsecamente más, porque resultam em negócios, que uma grande parte da sociedade acaba a defender que a casa onde vive não é sua (como acontece com 70% dos portugueses) mas de quem precisa dela e enquanto precisa dela.

É muito fácil ler barbaridades económicas de pessoas cultas e com mundo sobre habitação, em qualquer lado, tendo eu escolhido dois exemplos ao acaso usados por pessoas manifestamente pertencentes às elites intelectuais do país:

"É importante regular o mercado da habitação, que é menos regulado que o parque automóvel [a ideia de que o mercado da habitação não é regulado é tão longe da realidade, que eu nunca deixo de me espantar com estas afirmações delirantes, apesar da sua frequência]. Os bens essenciais não deveriam ser produtos de investimento e especulação [igualmente para esta ideia de que o que é essencial, como os alimentos, deve ser gerido sem ser numa base de mercado, que é uma ideia testada incessantemente durante o século XX, sempre, sempre, sempre, com o mesmo resultado de escassez e fome, que não chega para matar a ideia] ... Um automóvel não pode circular sem estar aprovado pela inspecção, e bem. Mas um edifício de habitação pode estar degradado, dezenas de anos a servir de ninho para pragas de pombos e baratas, ao serviço da inflação sem qualquer agravamento fiscal ou responsabilidade social [se o carro não estiver a ser usado, acontece-lhe exactamente o mesmo processo de degradação, e para que volte a ser útil, precisa de investimento para a sua reabilitação, exactamente como as casas. O que é diferente é a quantidade de gente que acha socialmente justo obrigar alguém a ter prejuízo numa casa, ao contrário do que se passa nos carros, para garantir que a casa é usada, mesmo que em más condições]. E não é drama nenhum regular os preços das rendas [como é possível que alguém, culto, informado, qualificado, não faça a mínima ideia de que as rendas, em Portugal, são fortíssimamente reguladas, ao ponto do Estado definir o seu aumento anual, mesmo contra a lei, como aconteceu no governo de Costa?]".

"a não regulação do mercado da habitação (óbvia e comprovadamente incapaz de se autoregular, algo que - de resto - não lhe é exigido) [o mercado auto regula-se sempre, neste caso, com a restrição artifical da oferta, quer por via das restrições de licenciamento, quer por via da kafkiana regulamentação aplicável à construção, os preços sobem e os mais pobres são expulsos dos mercados formais, resolvendo os seus problemas em mercados informais, esses sim, por definição, completamente desregulamentados, como está a acontecer na habitação] há de ser dos maiores erros dos últimos governos do ps e do psd, incapazes de perceber que não interferir num sector fulcral para a vida das pessoas é o mais rápido e aflitivo gerador de miséria [mas qual gerador de miséria? 70% dos portugueses são donos da sua casa, portanto, de cada vez que os preços sobem, ficam mais ricos, dos outros 30%, há uma larga percentagem que ou está em casas do Estado, com rendas baixíssimas e frequentemente não pagas, ou com contratos antigos em que os senhorios são obrigados pelo Estado a desempenhar a função social de apoio aos mais velhos e aos mais pobres]".

E é nisto que estamos, em manifestações promovidas por gente que acha que as casas não são mercadoria e com a presença e apoio de responsáveis pela lei de bases da habitação, como Helena Roseta.

Ter pessoas com ideias deste tipo a desenhar leis de bases do que quer que seja, isso sim, é o caminho para a servidão e a miséria.

Domingo

por João Távora, em 29.06.25

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus

Naquele tempo, Jesus foi para os lados de Cesareia de Filipe e perguntou aos seus discípulos:
«Quem dizem os homens que é o Filho do homem?». Eles responderam: «Uns dizem que é João Baptista, outros que é Elias, outros que é Jeremias ou algum dos profetas». Jesus perguntou: «E vós, quem dizeis que Eu sou?». Então, Simão Pedro tomou a palavra e disse: «Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo». Jesus respondeu-lhe: «Feliz de ti, Simão, filho de Jonas, porque não foram a carne e o sangue que to revelaram, mas sim meu Pai que está nos Céus. Também Eu te digo: Tu és Pedro; sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Dar-te-ei as chaves do reino dos Céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos Céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos Céus».

Palavra da Salvação

Um vulgar panfleto publicitário

por henrique pereira dos santos, em 28.06.25

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Esta é a grande manchete do Público de hoje.

Porque há novidades ou algum trabalho de fundo do Público sobre a evolução do mercado da habitação em Portugal?

Não, é apenas porque é preciso mobilizar pessoas para uma manifestação que vai ocorrer hoje.

Dependendo dos jornalistas, há matérias em que o Público se comporta como um vulgar panfleto publicitário, a habitação, conduzida por Rafaela Burd Relvas, ou a migração, conduzida por Joana Gorjão Henriques, são exemplos exemplares da diferença entre um panfleto publicitário e um jornal.

Fazer a principal manchete do jornal com base na necessidade política de apoiar uma manifestação sobre a política de habitação, é isso um jornal?

Toda a peça em que se baseia a manchete é igualmente absurda, e posso dar um exemplo.

"a receita para resolver a crise habitacional tem sido repetida pelos sucessivos governos. ... as medidas assentam na tese de que o aumento da oferta fará com que o mercado se auto-regule e que os preços baixem. Os resultados [aumento de 97% no aumento do valor de venda e aumento de 80% no valor das rendas, contra um mero aumento de 36% no ordenado médio, números que não me apetece ir verificar em fontes independentes, acrescento eu], contudo, estão longe daquilo que tem sido prometido", escreve Rafaela Burd Relvas.

O normal, num jornal, seria a demonstração de que as políticas de habitação de todos os governos se baseiam no aumento da oferta da construção e, mesmo assim, os preços sobem.

Independentemente de ser mentira, escrito com todas as letras, mentira, que as políticas dos diferentes governos sejam iguais e se baseiem essencialmente no aumento da oferta, um jornal, mesmo politicamente orientado, traria para a peça a demonstração de que tem havido um aumento de oferta de habitação muito relevante, para sustentar a tese da autora do artigo, e do jornal, e que o aumento da oferta não está a funcionar para baixar os preços.

Azar da jornalista, e do Público, fui verificar os dados ao INE e enquanto em 2007 se produziam umas quatro mil novas casas por mês, em 2018, que a jornalista toma como base de comparação, eram cerca de metade por mês e desde 2018 até agora, continuamos nas tais duas mil casas novas por mês, mais coisa, menos coisa, ou seja, a jornalista está a tentar intrujar os leitores dizendo que todos os governos têm baseado as suas políticas no aumento de construção nova mas que isso não se reflecte no preço das casas porque é mentira que o mercado se auto-regule.

E é isto que pretende ser um jornal de referência.

Faz lembrar a troika

por henrique pereira dos santos, em 27.06.25

Com o tremendismo habitual nos partidos que vivem em realidades paralelas, como o LIVRE, um deputado não achou melhor que dizer que um programa de governo que prevê diminuir impostos e aumentar despesa fazia lembrar a troica, na sequência, aliás, da afirmação de que o programa do governo cheirava a troica, feita pelo campeão das realidades paralelas, o PCP.

Há já algum tempo, mesmo muito tempo, eu tinha feito uma coisa com este boneco:

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Na altura em que usei este boneco, fiz uma resposta ao argumento, delirante, de que teria sido o tribunal constitucional a evitar a espiral recessiva, ao ter impedido Passos Coelho de fazer cortes de ordenados nos funcionários públicos.

O que o boneco demonstra é que há uma diminuição muito grande nas despesa com pessoal, que é revertida em função da decisão do tribunal constitucional, que obriga à substituição dessa diminuição na despesa por um aumento de receita, através do aumento brutal dos impostos.

Ou seja, a decisão do tribunal constitucional não alterava o efeito recessivo do ajustamento financeiro a que o Estado foi obrigado a recorrer depois da loucura socrática (isto é, do PS), apenas lhe alterava a natureza, protegendo os funcionários públicos, com prejuízo da generalidade da sociedade.

Claro que nada disto entra na conversa da esquerda sobre a troica, esquerda essa que insiste que o programa de ajustamento foi uma coisa decidida por Passos Coelho e pela direita, que terá um prazer sádico em chatear os votantes, e um prazer masoquista em perder eleições (tudo coisas muito lógicas), da qual fomos todos salvos pela genialidade da dupla Costa/ Centeno, que tratou de aumentar a despesa corrente, diminuir o investimento público e transferir, aumentando, carga fiscal de impostos directos para impostos indirectos, onde se nota menos.

Ou seja, quem deu continuidade ao programa da troica (embora de uma forma estúpida), foi Costa, não a direita que insiste em baixar impostos e reduzir despesa.

Por que razão uma tolice destas continua a ser papagueada com à vontade pelo PC, pelo LIVRE e outros lunáticos, incluindo as suas extensões nas redacções dos jornais?

Porque, como diz aqui o filho do camarada Pimentel, a propósito de outro assunto, "trata-se também de uma militância, falsária".

Eu diria mais, retiraria a vírgula e diria que a esquerda está viciada na militância falsária.

Enviesado E estúpido

por José Mendonça da Cruz, em 25.06.25

Então, a esquerda e os media (como o Henrique, digo: passe a tautologia) descobriram que o Irão ia pedir satisfações a Portugal pela utilização da base dos Açores. E, no entanto, o embaixador iraniano em Lisboa não tem qualquer notícia disso.

Não contentes, a esquerda e os media põem em dúvida, hoje, em todos os noticiários televisivos, a eficácia do ataque americano às instalações nucleares iranianas. Esquerda e media acham que o presidente Trump, o vice-presidente Vance, e o ministro da defesa Hegeseth só dizem balelas. Ao contrário, esquerda e media bebem e reproduzem embevecidos «as palavras fortes» de quem no Irão diga que não aconteceu nada. Embora um ministro diga que acontreceu, e que foi grave.

Muitas vezes me pergunto se este tipo de jornalismo é fraudulento ou só estúpido. Concluo agora que é as duas coisas. Fraudulento, ao torpedear os factos; estúpido, ao julgar que sobrevive.

Fontes primárias

por henrique pereira dos santos, em 24.06.25

Comecei a ler notícias sobre um relatório do INE sobre habitação.

O essencial das ideias que vão passando, quando se lê apenas a imprensa, é de que existe uma grande crise de habitação e as medidas que o anterior governo tomou agravam essa crise porque fizeram aumentar a procura, com as garantias e isenções de impostos para jovens.

"O indicador foi revelado nesta segunda-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). “No primeiro trimestre de 2025, o Índice de Preços da Habitação (IPHab) cresceu 16,3% em termos homólogos, mais 4,7 pontos percentuais (p.p.) que no trimestre anterior”, afirma o organismo oficial de estatísticas, acrescentando que “no trimestre de referência, a taxa de variação dos preços das habitações existentes [usadas] foi 17,0%, acima da observada nas habitações novas (14,5%)”.", por exemplo, é o que escreve o Observador, a partir de um relatório cujo destaque, em título, é o seguinte: "PREÇOS DA HABITAÇÃO ACELERARAM PARA 16,3% E O NÚMERO DE TRANSAÇÕES AUMENTOU 25,0%".

Claro que os artigos (pelo menos alguns) acabam, lá pelo meio, por falar do segundo aspecto destacado pelo INE, mas numa posição completamente diferente. E estabelecem uma relação de causa e efeito onde há coincidência entre subida de preços e medidas do governo (os mais sérios lembram que a descida do crédito também poderá ter aumentado a procura).

O que não vi nenhuma dos artigos fazer é o que faz o INE, falar do aumento de preço ao mesmo nível de um aumento, ainda maior, de transações (está aqui o gráfico, para quem gosta de informação, em vez de propaganda).

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Se as transações aumentam mais que o preço, não me parece razoável dizer que há uma crise no sector, mas sim um desequilíbrio entre procura e oferta, que deixa de fora do mercado a procura com menos capacidade económica.

Isso é um problema, mas se as transações aumentam, é porque mais gente conseguiu comprar casa (poupem-me à propaganda dos estrangeiros, fundos imobiliários e etc, o sector das famílias é responsável por 87% das transações e essa percentagem tem aumentado).

As alterações de preços são informação essencial nos mercados, mas dizem relativamente pouco sobre se o sector está em crise ou não.

Neste caso, o sector da habitação parece-me muito longe de estar em crise, já o acesso a habitação por parte dos sectores com menor poder económico parece-me um problema sério, que só o aumento de oferta de casas poderá ir minimizando.

O que parece que vai acontecendo, felizmente, a uma velocidade mais baixa do que seria possível com um bocadinho menos de demagogia, infelizmente.

Para o que ajuda mais ler as fontes de informação primária que o jornalismo que insiste em me querer convencer de como eu devo ver o mundo.

A reforma e os reformadores

por henrique pereira dos santos, em 23.06.25

Oito e meia da tarde de um Domingo, 22 de Junho, à porta da conservatória dos registos civis e começa a formar-se uma bicha já com cinco ou seis pessoas que pretendem ser atendidas quando o serviço público abrir portas ao público, mais de doze horas depois, pelas nove da manhã de Segunda feira, 23 de Junho (escusado será dizer que, pelas sete da manhã do dia 23, duas horas antes da abertura do atendimento, a bicha já deveria ter umas cem pessoas).

Este é o ponto de partida da reforma de um Estado incapaz de ter um atendimento suficientemente eficiente para quem precisa de se relacionar com os serviços públicos.

Mas não é o único ponto de partida, a outra parte diz respeito ao contexto em que é preciso ir mudando alguma coisa (como tem mudado e melhorado em pontos específicos) para que a situação descrita deixe de ser o retrato de um Estado caro e ineficiente.

Comecemos por utilizar uma peça do Público de ontem, que é um bom retrato da forma como a imprensa trata este assunto, sempre na oposição e fazendo o que se pode chamar "jornalismo de especialistas" que consiste em escrever quilómetros de prosa sobre um assunto, pedindo opiniões a este e aquele, sem grande preocupação com a realidade concreta.

"Olhando para o que foram as reestruturações feitas em 2005 e em 2011, o resultado de fusões e reduções de organismos foi a diminuição drástica do número de trabalhadores do Estado e a criação do quadro de excedentários (mobilidade especial)".

A quantidade de erros factuais neste simples parágrafo escrito por Raquel Martins é assombrosa (desde confusão entre quadro de excedentes, mobilidade especial e afins, até ao enorme erro de se dizer que houve reduções drásticas do número de funcionários públicos, coisa sem qualquer base factual).

Enfim, pode acontecer a qualquer um que acredita no senso comum e acha desnecessário o bom senso, no jornalismo.

O mais extraordinário é a escolha dos especialistas escolhidos pelo Público que justifica a chamada de primeira página, título e etc. "Reforma do Estado é "menu de medidas avulsas"/ Especialistas consideram medidas positivas, mas criticam falta de modelo de Estado "sólido" e consensual".

Não vou discutir a ideia de fazer reformas a sério de forma consensual e não conheço um dos especialistas, o que diz coisas essenciais para responder às cinco ou seis pessoas que ontem, às oito e meia da noite, se preparavam para passar uma noite ao relento, com o único objectivo de serem atendidos por um serviço público: "a reforma implica uma reflexão sobre as bases fundacionais do Estado e uma mudança de paradigma, embora as alterações dos procedimentos sejam importantes e muitas vezes se revelem uma reforma", diz o senhor que, com estes tipo de proclamações, qualquer funcionário público com experiência qualifica imediatamente (talvez injustamente) como um empata bem falante e deixa de ligar ao que diz.

A mim interessa-me o outro especialista, João Bilhim, com quem me cruzei profissionalmente quando era presidente da CRESAP, onde teve praticamente carta branca e fez um trabalho tão bom, que é bem provável que a CRESAP ou venha a ser extinta, ou sofra profundas alterações (um erro frequente, este de fazer alterações profundas em vez de ir fazendo pequenas alterações contínuas e incrementais, visando corrigir o que vai sendo indentificado como negativo).

Como já várias vezes escrevi sobre Bilhim, e a sua ilusão de ser o king maker do regime (ilusão relativa, se é certo que não conseguiu impor os métodos que defendia para escolher as pessoas que se pretendia, foi muito eficiente a usar um poder que, na administração pública, é muito maior de o poder de escolher: o poder de excluir), limito-me a remeter para este post, mais este, não vou perder muito tempo a analisar o trabalho de uma pessoa que inventou umas regras de tal maneira geniais, que tive de reclamar do presidente de um júri (João Bilhim), para o presidente da CRESAP (João Bilhim).

O facto é que o especialista que o Público acha adequado ouvir sobre a reforma do Estado é um funcionário a quem atribuem a tarefa de escolher de forma independente os dirigentes da administração pública, e que o próprio só aceita depois da concordância do secretário geral do seu partido (António José Seguro), a quem dão carta branca para definir as regras do seu trabalho, que a Provedoria de Justiça avalia assim, e a Comissão de Acesso aos Documentos administrativos assim, ou seja, faz tudo ao contrário do que é uma reforma do Estado séria, convencido de que o único critério verdadeiramente relevante é a sua opinião, circunstância que só foi alterada quando alguém mais teimoso que eu resolveu continuar pelos tribunais administrativos e obrigaram João Bilhim a alterar as regras que eram manifestamente ilegais, como estava toda a gente fartinha de saber.

É por coisas destas que não gostei nada, mesmo nada, da intervenção de Gonçalo Matias na apresentação do programa do Governo, com uma intervenção messiânica (muito mau sinal), centrada na ideia de que sabe o que quer e para onde vai, quer o ministro, quer o Governo (muito mau sinal), apresentando meia dúzia de ideias "consensuais", mas bastante etéreas.

O mais grave, para mim, é Gonçalo Matias ter apresentado como ideia fantástica o princípio de "só uma vez" (as pessoas entregam informação ao Estado só uma vez, e o Estado que ande à procura da informação dentro do Estado, quando ela existe) e Carlos Guimarães Pinto, muito bem, ter-lhe feito notar que esse princípio estava na lei desde 2014, mas o problema é o Estado não cumprir a lei e Gonçalo Matias ter respondido sobre o seu conhecimento profundo do problema e do princípio citado, em vez de fazer o que me parecia sensato:

1) reconhecer que realmente o problema não são os grandes princípios (estão todos no Código do Procedimento Administrativo, acrescento eu) mas a sua aplicação real;

2) que se essa aplicação real não se verifica, deve haver problemas mais fundos e menos evidentes que precisam de estudo e atenção;

3) o que implica que o seu ministério, mais que inventar novidades, se iria focar em compreender e resolver os bloqueios reais à aplicação de princípios que são largamente "consensuais", quase tão consensuais como a sua falta de aplicação concreta em toda a administração.

Temo que seja mais fácil reformarem-se os reformadores que o Estado, porque quando chegar o momento de responsabilizar um dirigente tão diligente, venerando e obrigado por haver bichas inaceitáveis à porta dos serviços públicos, nos jornais, na oposição e nas concelhias partidárias, levantar-se-ão dezenas de razões sensatas para compreender a situação e concluir que ninguém é responsável pela chuva ou pela seca.

Elevar o debate público não é fácil

por henrique pereira dos santos, em 22.06.25

Depois de grandes fogos nas Serras da Freita, Arada e Montemuro, em 2016, a Montis organizou um ciclo de passeios do fogo, com alguns melhores especialistas em gestão relacionada com o fogo, como Paulo Fernandes, António Salgueiro, Henk Feith (da Altri), Elisabete e Hélia Marchante, Manuel Rainha, penso que Carlos Aguiar (não tenho a certeza e é possível que me falte alguém, mas o nível dos participantes fica claro, alguns dos melhores só não participaram porque não calhou, não houve coincidências de datas, enfim, pormenores).

A ideia era elevar o debate público sobre a gestão do fogo (que inclui a gestão do pós-fogo e de antes do fogo), com base na discussão de aspectos concretos em cada passeio, com percursos escolhidos para que as pessoas pudessem tirar as suas conclusões e discutir as suas dúvidas e, sobretudo, as suas certezas.

Os passeios correram bem, eu aprendi muito (não sei se fui a todos, mas terei ido à maioria, seguramente) mas jornalistas, opinadores e certezistas sobre gestão do fogo, pouco, se algum, resolveram aproveitar a oportunidade para falar de fogos fora do Verão, com base na realidade verificável e com apoio de pessoas muito qualificadas e com muita informação.

Pois bem, depois dos fogos de 2024, a Montis faz de novo um passeio a uma área ardida, depois de passada uma Primavera, em articulação com a Navigator, portanto, se depois de quase dez anos perceberam que foi uma asneira ter deixado passar a oportunidade de aprender sobre fogos, é no próximo Sábado a oportunidade seguinte para, inclusivamente, confrontarem a Navigator com as suas opções de gestão e efeitos sobre o fogo.

Melancolicamente, não tenho a menor esperança de que apareçam muitos, o espaço público é tão mais simples quando é usado para explicar aos outros as nossas certezas, em vez de ser usado para as confrontar com a realidade complexa e as pessoas que pensam de maneira diferente.

Domingo

por João Távora, em 22.06.25

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas

Um dia, Jesus orava sozinho, estando com Ele apenas os discípulos. Então perguntou-lhes: «Quem dizem as multidões que Eu sou?». Eles responderam: «Uns, dizem que és João Batista; outros, que és Elias; e outros, que és um dos antigos profetas que ressuscitou». Disse-lhes Jesus: «E vós, quem dizeis que Eu sou?». Pedro tomou a palavra e respondeu: «És o Messias de Deus». Ele, porém, proibiu-lhes severamente de o dizerem fosse a quem fosse e acrescentou: «O Filho do homem tem de sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos príncipes dos sacerdotes e pelos escribas; tem de ser morto e ressuscitar ao terceiro dia». Depois, dirigindo-Se a todos, disse: «Se alguém quiser vir comigo, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz todos os dias e siga-Me. Pois quem quiser salvar a sua vida, há de perdê-la; mas quem perder a sua vida por minha causa, salvá-la-á».

Palavra da salvação.

Somos nós, somos nós, não é o Público

por henrique pereira dos santos, em 21.06.25

Através de Margarida Bentes Penedo descobri esta coisa espantosa (no texto que a acompanha, parece que o Público, por fim, lá acrescentou extrema-esquerda, ao fim de algumas horas):

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Note-se que isto não é um lapso, é, muito provavelmente, mesmo ignorância misturada com confusão ideológica, coisas frequentes e misturadas em grande parte das redacções de jornais.

Um dia destes o próprio director do Público, em editorial, dizia para os leitores lerem as notícias por inteiro e não confiarem nos leads e títulos que as acompanhavam, a propósito de uma peça de Rafaela Burd Relvas sobre uma suposta indicação de um relatório da Comissão Europeia sobre habitação.

Depois de pessoas como Luís Aguiar-Conraria ou Vera Gouveia Barros demonstrarem que o título e o lead da notícia eram leituras criativas (para dizer o mínimo) do dito relatório, embora acrescentando que no corpo da notícia as coisas eram mais contextualizadas (são os dois um queridos que não quiseram dizer da jornalista o que realmente se deve dizer depois das dezenas de peças sobre habitação que tem escrito), o próprio director do Público, em vez de assumir que tem ao serviço do jornal militantes políticos que torcem a informação para levar os seus leitores a pensar como deve ser, faz um editorial a explicar que é preciso ler tudo, os leitores não podem ficar-se pelos títulos e leads, que esses podem ser enganadores.

Somos nós que somos assim, o Público é apenas um parente do esquerda.net, pago pela generosidade da família Azevedo, que eu compro todos os dias em papel e nós somos incapazes de fazer um jornal em papel ligeiramente melhor (no on-line o Observador é melhor, embora a sua redacção esteja, há muito tempo, numa rampa deslizante para se aproximar da redacção de jornais padrão em Portugal, no que toca a rigor, o que me parece inevitável desde o desaparecimento do papel do editor como filtro real e responsabilizável pela credibilidade do que é escrito nas redacções, em especial recusando a mistura entre opinião e notícia e recusando fontes anónimas sem ser em casos excepcionais).

Somos uma sociedade extraordinária.

A glória e o prestígio das instituições

por João Távora, em 20.06.25

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A motivação para a disputa política (em termos latos) na assunção de cargos de relevo público é um tema que me vem merecendo reflexão. O que atrai um individuo a ir à luta dentro de um partido ou organização cívica? É possível a criação de incentivos para envolver “os melhores” da nossa comunidade para as maçadas e sacrifícios que implicam as causas públicas?

Sou daqueles que considera ser importante uma justa remuneração dos altos cargos políticos, algo que não acontece nos nossos dias. Actualmente a assunção de um cargo de responsabilidade num governo ou autarquia implica, para uma pessoa habilitada e perfil para as funções, um sacrifício pessoal em matéria de vencimento. Mal comparado, como no séc. XIX em que só aqueles que tinham fortuna familiar podiam ambicionar a uma carreira política. Esse facto provavelmente afastava muita gente com muito mérito e apetência.

Mas confesso que não acredito que o dinheiro tenha assim tanto peso na discriminação dos “melhores”. A vida tem-me demonstrado que a grande maioria das pessoas que alcançaram cargos de relevância pública o fizeram movidas por um instinto de combatividade, um “bichinho” indomável, acompanhado por mais ou menos idealismo. Algo que nasce com as pessoas. Ou seja, parece-me que a principal motivação, para diferentes funções e graus de responsabilidade e escala de relevância pública, quem na sociedade civil se envolve neles o faz por inconformismo. Por causa duma inquietação existencial inata, que na maior parte das vezes vai conduzir o individuo a funções de liderança ou de relevância social. Não me parece de todo que a motivação material seja o factor preponderante na escolha dum percurso desses.

Naquilo em que eu acredito é no peso do prestígio das instituições para a atracção dos melhores. A escolha de despender energias, de devotar e sacrificar a vida num determinado cargo público, tem principalmente a ver com a autoridade que emana dessa função. Definitivamente a atracção da glória, do reconhecimento social, é um factor muito mais determinante que o material.

Daí que, antes de tudo o mais, o mais importante, e, no entanto, o mais difícil para a atracção dos melhores, seja o prestígio das instituições a que se concorre. Sei bem como é difícil inverter a lógica da “má moeda que afasta a boa moeda”, da rampa deslizante em que se vêm desgastando o prestígio das mais importantes funções do Estado.

E como bem sabem V. Exas., quanto a mim devíamos salvaguardar desta lógica mesquinha e imponderável o mais alto magistrado da Nação.

Corar de vergonha

por henrique pereira dos santos, em 20.06.25

Sobre a fase aguda do conflito entre o Irão e Israel que ocorre por estes dias, Pedro Gomes Sanches faz uma pequena e lúcida crónica no Expresso, que acaba assim: "Sobre isto, o Presidente da República Portuguesa disse que, na ausência de posição oficial do Governo, ia dar uma "opinião pessoal": o ataque ao Irão foi para "desviar a atenção da Palestina". Corei de vergonha. Espero que o próximo presidente não diga estas barbaridades".

Eu também coro de vergonha.

Por um presidente que dá opiniões pessoais sobre assuntos complexos em que não há posição institucional do Governo e por essa opinião só ter uma classificação: é completamente estúpida.

Eu sei que há um mito forte sobre a prodigiosa inteligência de Marcelo Rebelo de Sousa, matéria sobre a qual não tenho a menor opinião, quer porque o meu pai sempre me disse que não há máquina nenhuma para medir a inteligência, quer porque, a ser verdade, a minha inteligência nunca me permitiu ver a de Marcelo em nada de concreto.

Quem defende esta ideia da prodigiosa inteligência de Marcelo Rebelo de Sousa deveria estar preocupadíssimo com esta "opinião pessoal" que, num homem inteligente, só pode ser sinal de profunda degradação intelectual, ao nível da que diziam que não existia com Joe Biden.

O que verdadeiramente me faz corar de vergonha não é tanto este episódio em si (as demências são uma epidemia que vai crescendo à medida que vamos tendo uma sociedade progressivamente mais envelhecida, portanto essa possibilidade não pode ser descartada), mas a apatia (que me inclui) com que uma profunda estupidez como esta é recebida pela sociedade e, dentro desta, pelo jornalismo que tem a obrigação de escrutinar os poderes públicos.

Imprevisível? Esperem por 2030 (mais ano, menos ano)

por henrique pereira dos santos, em 19.06.25

Fez ontem oito anos que o Público publicou um artigo, que foi dos poucos que escrevi a pedido de uma jornalista do Público (estava desesperada porque toda a gente que sabia de fogos se escusava a escrever ou comentar o que quer que seja em cima das mortes ocorridas nesses dias, em consequência dos incêndios de Pedrógão).

O artigo foi escrito num estado de irritação muito grande, em especial com Marcelo Rebelo de Sousa, então um Presidente da República com níveis de popularidade estratosféricos, exactamente por dizer qualquer estupidez que as pessoas quisessem ouvir, como foi o caso  nos seus primeiros comentários sobre a tragédia de Pedrógão.

Eu tinha escrito uns meses antes, ainda em 2016, que haver situações como as de 2003 e 2005 era uma questão de tempo, e entretanto tinha passado tempo suficiente para que estivesse à beira de acontecer (esse artigo de 2016, no Observador, tenho ideia que resultava do aviso sério dos fogos de 2016, um aviso semelhante ao que ocorreu no ano passado, mais ou menos na mesma região, isto é, o outro foi na Freita e Montemuro, o do ano passado coincide em parte, mas é genericamente um bocadinho mais deslocado para o litoral).

"Há anos que esta é a doutrina dominante, mas dois dias de vento Leste fraco deram uma pálida imagem do que será a catástrofe a que nos conduzirá esta opção quando voltar a haver, com em 2003, dez a quinze dias de vento Leste forte a muito forte".

Depois disto tenho escrito, frequentemente, que por volta de 2030, mais anos menos ano, estamos em ponto de rebuçado para uma situação catastrófica em matéria de fogos, visto que as políticas de gestão de combustíveis não se alteraram substancialmente (o resto sim, tem tido melhorias, mas não vou explicar outra vez o paradoxo do fogo para dizer que com excepção das melhorias na evacuação de pessoas, tudo o resto contribui para agravar a dimensão do desastre, não para o resolver).

Assim sendo, e como não consigo ter acesso ao que escrevi no Público (compro todos os dias o jornal em papel, mas não sou assinante), aqui fica o que escrevi há oito anos e um dia, que ainda hoje subscrevo, não digo linha por linha porque algumas coisas melhoraram, com certeza, e porque repito várias vezes o erro de usar "antecipar" em vez de "prever" (uma modernice importada do inglês), mas no essencial continua válido.

"Imprevisível?
Pedem-me que escreva em cima de incêndios trágicos quando me sinto dividido entre calar-me agora, por respeito para com as vítimas, ou falar agora, por respeito para com as vítimas, as de agora, mas sobretudo as do futuro.
O que mais que custa a ouvir nestas horas é a ladainha da imprevisibilidade, a ideia de que aconteceu qualquer coisa de extraordinário que seria imprevisível.
E, no entanto, depois de um sismo, bem mais imprevisível que o fogo, raramente se ouve a mesma ladainha da imprevisibilidade.
A diferença fundamental é que ninguém se lembra de pôr os paramédicos especializados no resgate às vítimas dos sismos a moldar as políticas de prevenção contra sismos, porque não é o contacto directo com os sismos e as suas consequências que qualifica alguém para antecipar o risco sísmico e para desenhar as soluções que nos permitem conviver com esse risco.
Em Portugal, aparentemente, admite-se que o contacto prolongado com os fogos e as suas consequências qualifica as pessoas para a gestão do problema, que está muito a montante desse combate.
Deveria bastar a quantidade de vezes em que os comandos operacionais dos fogos têm de mudar precipitadamente do sítio onde estão instalados, para se perceber que existe um claro problema de leitura do fogo e de antecipação da sua evolução por parte de muitos comandos operacionais.
Não é estranho que assim seja, a verdade é que grande parte dos comandos operacionais não têm preparação sólida em ecologia do fogo, são excelentes profissionais de logística, são homens determinados, muitos deles com uma inexcedível coragem física e dedicação ao bem comum mas, infelizmente, conhecem mal o fogo.
Quando um governante diz que o fogo é imprevisível, o que há é uns académicos que têm umas teorias sobre isso, está claramente a fazer uma opção obscurantista de desprezo pelo conhecimento, apoiando um suposto conhecimento prático sem muito suporte teórico.
Esta opção obscurantista é especialmente grave num país em que o Presidente da República declara, antes de qualquer investigação, que foi feito tudo o que era possível.
Esta opção é especialmente grave quando o representante patronal dos bombeiros (a Liga dos Bombeiros Portugueses não representa os bombeiros, mas sim as corporações de bombeiros) pode dizer impunemente "98% dos incêndios em Portugal têm origem humana e desses, 75% são de origem criminosa, não tenhamos dúvidas, e eu desafio as pessoas a que ponham em causa aquilo que eu digo, eu não tenho que provar nada, eles é que têm que provar que eu não tenho razão”, contrariando toda a informação existente, disponível e facilmente acessível sobre o assunto, sem que isso afecte minimamente a sua credibilidade.
Esta opção é especialmente grave num país em que, apesar dos recursos públicos afectos à protecção civil, não existe qualquer avaliação séria e independente do seu desempenho.
E é este desprezo pelo conhecimento que existe, e existe mesmo, aliado a uma fobia à avaliação independente de desempenho, que faz com que se possa invocar sempre a imprevisibilidade, como se não houvesse dezenas de textos a dizer que tragédias como a deste fim-de-semana são apenas uma questão de tempo, se a gestão do fogo se mantiver como tem sido.
O que é imprevisível é apenas o dia em que ocorrem estas tragédias, mas tudo o que nos leva a esta situação é absolutamente previsível.
Há projectos de grande dimensão científica, como o Fire Paradox, assentes exactamente na ideia, mais que comprovada, que quanto mais eficaz for a política de supressão do fogo, mais dramático será o primeiro fogo que fugir do controlo, exactamente porque impedir o fogo em territórios de acumulação de matos e folhada é encher barris de pólvora, à espera de uma das milhares de origens que pode ter uma ignição.
O que não nos impede de continuar a ter como doutrina base a ideia de que todos os fogos devem ser suprimidos à nascença e que, na suposta reforma das florestas, o plano nacional de fogo controlado o exclua exactamente dos sítios onde faz mais falta: os povoamentos florestais.
E isso não nos impede de ter o Ministro da Agricultura a usar os dinheiros do mundo rural para “domesticar os mercados”, isto é, através de subsídios à produção em sectores que estão livremente no mercado, como o leite e a carne de porco, em vez de os usar para resolver as falhas de mercado em sectores que produzem serviços de ecossistema que nos são úteis, como gerir os matos. As propostas para pagamento de serviços, como a gestão de matos, quer na pastorícia, quer na resinagem, quer mesmo na gestão da biodiversidade, têm sido sistematicamente recusadas.
É mais que previsível que a ausência de competitividade de grande parte do sector florestal, a ausência de pagamento de serviços de ecossistema no mundo rural e o desprezo pelo conhecimento de ecologia do fogo, nos levem onde estamos agora.
Tal como é previsível que, em alguns dias de alguns anos, haja condições meteorológicas extremas para as quais os territórios devem ser preparados com tempo e inteligência: ninguém tem soluções miraculosas para problemas tão complexos, é mesmo preciso seguir Camões “honesto estudo com longa experiência misturado”.
O que implica a integração entre prevenção e combate, isto é, a presença de profissionais de gestão do território que trabalhem todo o ano para criar condições de contenção do fogo, isto é, zonas de diminuição da carga combustível, e que depois, em situação de combate, as conheçam como as palmas das suas mãos e as utilizem para parar os fogos.
Pretender que problemas desta magnitude e complexidade se resolvem com voluntários é retomar a velha discussão do princípio do século XX que Pedro Almeida Vieira lembrou, um destes dias, da profissionalização ou não das enfermeiras.
O absurdo que hoje reconhecemos em pretender que a dedicação inegável das enfermeiras voluntárias poderia ser mais eficaz que a sua profissionalização, é o absurdo que um dia reconheceremos na ideia peregrina de que o combate aos fogos deve ser primordialmente feito por voluntários que desconhecem os terrenos que pisam e não fazem a menor ideia de onde andaram os pastores, ou os resineiros ou se fez um fogo controlado.
Aquilo a que na maior parte das vezes se chama imprevisibilidade em matéria de fogos é na verdade ignorância.
Uma das armais mais letais que existem."

Isabel Moreira e o cigano da Amareleja

por henrique pereira dos santos, em 18.06.25

Como não confio, nem um bocadinho, nas interpretações que os jornalistas fazem dos debates parlamentares, frequentemente ouço os originais no canal parlamento (ou na televisão, ou na net).

Nesse meu exercício, em que salto grande parte do que não me interessa, ouvi Isabel Moreira insurgir-se contra a importância que estava a ser dada à questão das migrações, afirmando taxativamente que a verdadeira ameaça à segurança era a extrema-direita, e não os migrantes.

Para fundamentar o que disse, falou de duas ou três agressões que nos últimos dias têm sido notícia e, aparentemente, terão alguma ligação com pessoas que são conotadas com a extrema direita.

Dizia Isabel Moreira que não é admissível que um actor seja agredido, que voluntárias que distribuem comida a pessoas sem abrigo sejam agredidas, no que, aliás, estou inteiramente de acordo com Isabel Moreira.

Estranhei, no entanto, a ligação que estabeleceu entre esses episódios e entidades colectivas, assacando-lhes uma culpa colectiva por esses actos que, a serem como descritos, são crimes.

É que menos de uma semana antes, uma pessoa comum, foi morta a tiro pelo seu pai, por se opôr ao casamento da irmã de 14 anos (ler aqui, Nuno Gonçalo Poças, sobre este desfasamento entre as elites e a realidade das pessoas comuns).

Usando o critério de definição de ameaça à segurança que Isabel Moreira resolveu usar (há actos de violência cometidos por pessoas que têm alguma coisa em comum com outras, logos todas as pessoas que possuem essas coisas em comuns são uma ameaça), o que se pode concluir é que Isabel Moreira resolveu aderir às teses do Chega de que, porque algumas famílias ciganas agridem professores, auxiliares de educação, médicos, enfermeiros, outros técnicos de saúde (e só estou a citar as vítimas que mais facilmente chegam aos jornais), a maior ameaça de segurança são os ciganos, que são incomparavelmente mais que as pessoas de extrema direita em Portugal, e que muito mais frequentemente estão ligados a episódios de violência (não é uma questão de percepção, é um facto estatisticamente verificável).

Pessoalmente, não estou nada de acordo com isto, acho que quem tem culpas são as pessoas concretas que cometem crimes e sou radicalmente contra a existência do crime de ódio (mesmo que isso exista, é irrelevante, é a acção que é crime, as suas atenuantes e agravantes devem ser objecto de ponderação pelo juiz, nada mais).

Na verdade, tenho a certeza de que Isabel Moreira não queria dizer o que disse, a dissonância com a realidade resulta da sua incapacidade de olhar para o mundo sem ser pelos seus fortíssimos preconceitos que, neste caso, resultam numa coisa simples: um actor agredido  por um grunho de extrema direita, umas voluntárias agredidas por um grunho anti-imigração, têm importância para Isabel Moreira.

Um cigano da Amareleja, não.

Meu caro Tino - então não "avanças"?

por João-Afonso Machado, em 18.06.25

TINO (EM RANS).jpg

Tenho estranhado esse silêncio, Tino! Já lá estão, na rampa de lançamento, três figurões (figurinha?) e de Rans não se vê meio de chegar a boa nova...

Hei de escrever sobre os candidatos à Presidência. Mas antes não poderia deixar de vincar porque sou um incondicional apoiante do grande Tino.

É a coerência, a essencial coerência com que devemos medir a vida. A I República foi presidida por um rapidamente desiludido e esquecido - Manuel de Arriaga - e depois pelos foliões que sabemos, excepção feita ao messiânico Sidónio. A II pelos sisudos e assumidos autocratas, dos quais também Craveiro Lopes caiu em desgraça. E esta III pelo que é do nosso tempo e experiência. No fundo, políticos enfarinhados nos partidos, criadores de partidos até.

Com Tino de Rans tinhamos um presidente vindo directamente do povo e com todos os seus tiques, bons ou maus. O mais eram uns retoquezinhos protocolares, uma leiturazita da Constituição (uma seca, meu caro!) e uns conselheiros seguros e desparasitados da jiga-joga dos bastidores partidários. Um Presidente capaz de - como já fizeste - vir cá em baixo dormir com os sem-abrigo.

E que não ganhasses a eleição! Era uma campanha proveitosa para dizer umas verdades que todos gostam de ouvir. Na primeira, ficaste a meio ponto percentual do candidato apoiado pelo PCP...

Era bom pensares nisso. Urge dar uma volta nesta rusga. Correr com esta malta que comemora o centenário da República mas salta por cima de 48 anos dela, os tais de ditadura, que lhe estragam o discurso. Já tu vês a honestidade intelectual dos que somos obrigados a aturar!

Um pequeno comentário, cara Lídia Jorge

por henrique pereira dos santos, em 17.06.25

20250617_073312.jpg

De Segunda a Sexta, pelas sete e picos da manhã, este é o cenário à porta de um serviço público que deve abrir pelas nove.

Tem variações, há alturas de menor afluência (como actualmente), há alturas de maior afluência, havendo quem, uma vez por outra, ali fique do dia anterior, para ser atendido.

Lembrei-me de si e dos seus nobres sentimentos de solidariedade com as vítimas da história de há mais 100 anos e calculei que fosse por mero esquecimento que a solidariedade para com as vítimas da história de há cinquenta anos tenham estado ausentes do seu discurso de 10 de Junho.

Estes são vítimas da nossa responsabilidade, da Lídia, minha, e de todos os que compraram a nossa tranquilidade com uma lei na nacionalidade racista que retirou a possibilidade das pessoas optarem pela nacionalidade que entendiam, quando foram criados novos países.

Mais que isso, para conservar a nossa tranquilidade (não, não estou a julgar a história nem a dizer que poderia ter sido diferente, as coisas são o que são, no seu contexto, e não o que poderiam ter sido, noutro contexto), não deixámos, sequer, essas pessoas escolher o seu destino, que entregámos a grupos armados não democráticos.

Hoje, precisamente hoje, mantemos os descendentes destas vítimas à porta dos nossos serviços, porque somos incapazes de gerir um Estado funcional, capaz de dar resposta às pessoas (por coincidência, ontem um amigo mandava-me um mail a dizer que um organismo público, ao fim de onze meses de insistência, finalmente lhe tinha respondido sobre se tinham ou não tinham uma coisa concreta que tinham obrigação de ter, resposta essa, aliás, que não dizia nada de relevante).

Era só isto que lhe queria dizer, que para além de maior rigor histórico (cuja discussão deixo para terceiros), teria sido bom não se ter esquecido das vítimas concretas que ainda hoje sofrem as consequências concretas de decisões concretas tomadas na nossa vida.

É pena.

Não há esperança (quase)

por henrique pereira dos santos, em 15.06.25

Há muito tempo que defendo um programa simples de apoio à gestão activa de combustíveis finos florestais, a principal questão relacionada com a gestão do fogo.

Há muito tempo que falo de uma associação que ajudei a fundar, a Montis (sou sócio, acho dos 25 euros por ano mais bem empregados dos muitos que gasto anualmente), e vou dizendo que é uma associação que vai fazendo gestão activa de terrenos com objectivos de biodiversidade que, por acaso, em alguns casos, até têm efeitos positivos na gestão de combustíveis finos.

O governo, todos os governos, vão fazendo uns programas complicados de apoio à gestão florestal, reconhecendo que é na gestão de combustíveis finos que se ganha, ou perde, o controlo sobre o fogo.

Agora inventaram mais um programa, este cujas candidaturas estão abertas.

Sabem que mais?

A Montis não se pode candidatar porque as entidades colectivas não são elegíveis.

Ou se é proprietário singular, ou, sendo uma empresa (que é o que qualquer pessoa com dois dedos de testa faz se quiser gerir meia dúzia de metros quadrados de terrenos com um mínimo de seriedade), ou uma associação de interesse público, como a Montis, não há apoio para ninguém.

A coisa é tão evidentemente estúpida, que todos os potenciais intervenientes no processo decisório (e conheço muitos) me respondem que tenho toda a razão, que defenderam exactamente o mesmo que eu quando foram consultados, mas que o vizinho do lado (é sempre o vizinho do lado) se opôs a que as entidades colectivas fossem beneficiárias.

Só me resta uma esperança, mas muito, muito ténue: que o Ministro da Reforma do Estado leve a carta da Garcia e obrigue ao registo total, com total abertura do processo uma vez tomada a decisão, de todas as alterações que ocorrem durante um processo legislativo, desde a primeira proposta, até ao diploma final, com identificação do responsável por casa alteração, como acontece na Assembleia da República.

Seria uma maneira elegante de limitar o efeito da estupidez na burocracia, uma das mais notáveis e úteis invenções humanas, quando é inteligente.

É que sem responsabilização a sério, não há maneira de distinguir o estúpido que impede que as entidades colectivas sejam beneficiárias de um programa que se dirige a actividades que maioritariamente são executadas por entidades colectivas.

Domingo

por João Távora, em 15.06.25

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Tenho ainda muitas coisas para vos dizer, mas não as podeis compreender agora. Quando vier o Espírito da verdade, Ele vos guiará para a verdade plena; porque não falará de Si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará o que está para vir. Ele Me glorificará, porque receberá do que é meu e vo-lo anunciará. Tudo o que o Pai tem é meu. Por isso vos disse que Ele receberá do que é meu e vo-lo anunciará».

Palavra da salvação.

Mamadou Ba e o ar do tempo

por henrique pereira dos santos, em 14.06.25

No dia 10 de Junho, Lídia Jorge discursou.

Só ouvi até aos cinco minutos e tal porque estava à procura de confirmar a citação que fazia de um sobrinho meu e respectivo contexto, de resto, discursos deste tipo não são, de maneira geral, coisa a que dedique a minha atenção.

o que escreve João Pedro Marques interessa-me e foi por ele que fiquei a saber que Lídia Jorge terá feito umas afirmações alinhadas com o ar do tempo, sem grande rigor histórico, como resulta do ar do tempo, mas também sem importância excessiva (embora eu perceba perfeitamente a insistência de João Pedro Marques em corrigir estas coisas que se dizem porque está na moda dizer).

Este ar do tempo é o que faz uma activista como Joana Gorjão Henriques escrever o que escreve no Público, escolhendo quem quer para dizer o que ela quer, como faz a propósito de uma agressão a um actor que terá sido feita por neo-nazis (como se uma agressão feita por neo-nazis fosse diferente de outra agressão qualquer, especialmente para o agredido, nunca percebi esta coisa de procurar adoçar o comportamente de arruaceiros ligando as suas arruaças a justificações gerais, sejam elas quais forem).

Há sempre alguém que vem explicar aos pobres de espírito que somos todos nós que o Chega ter 60 deputados veio legitimar o discurso de ódio e normalizar o racismo, de maneira que deixou de haver vergonha em ser racista e outras estupidezes do mesmo tipo que uma parte da academia insiste em repetir.

É aqui que, neste post, entram as declarações racistas de Mamadou Ba.

"Mamadou Ba escreveu nas redes sociais que “é conhecida a história de linchamentos, torturas e assassinatos de pessoas negras na indústria carcerária, a nível global”.

“Tenho sempre muitas dificuldades em acreditar em ‘mortes naturais’ e, muito menos, em ‘suicídios’ de pessoas negras nas prisões. A minha convicção é que a probabilidade de serem mortas pela violência dos guardas prisionais é mais alta do que qualquer outra possibilidade de morte natural ou suicídio”".

Mamadou Ba há muitos anos, muito antes do Chega existir, não tem vergonha nenhuma de ser manifestamente racista, fazendo afirmações completamente tontas do género das que citei.

O sindicato dos guardas prisionais não gostou de generalização que Mamadou Ba, que o faz chamar assassinos aos guardas prisionais, e pôs uma acção em que pede quatro milhões de euros de indemnização (mil euros por cada um dos cerca de quatro mil guardas prisionais, que tenciona entregar às alas pediátricas dos Instituto Português de Oncologia, se ganhar a causa).

Eu acho que o sindicato fez uma grande asneira, não se processam racistas por fazerem afirmações racistas, Mamadou Ba, enquanto não passar aos actos (e não há nada no seu comportamento que sugira que tenciona fazer mais que declarações estupidamente racistas), tem todo o direito a fazer afirmações idiotas, que inclusivamente são contraproducentes em relação ao que supostamente defende (que não consigo perceber bem o que seja, parece que defende a discriminação positiva de algumas pessoas em função da sua cor, embora eu nunca tenha reparado que estenda a defesa desse ponto de vista explicitamente aos chineses e paquistaneses, mas posso estar enganado, não ligo assim tanto ao que diz e faz Mamadou Ba).

O direito à asneira é sagrado e a liberdade de dizer coisas tem uma amplitude e extensão que não deve ser limitada por decisões judiciais, a não ser em casos muito, muito específicos.

Para além disso, nem percebo a ideia de que qualquer um dos quatro mil guardas prisionais possa ter ficado ofendido, convenhamos que é preciso ser muito sensível para se ofender com as parvoíces de Mamadou Ba e não acredito que seja o caso da generalidade das pessoas.

Isto é apenas o ar do tempo, um manifesto racista como Mamadou Ba é tratado como activista anti-racista, a generalidade dos portugueses comuns são tratados como esclavagistas, apesar de no país não haver escravatura há mais de cem anos e não haver hoje um único português que tenha conhecido escravatura legal no país.

Na verdade, nem um discurso do dez de Junho, nem uma declaração de Mamadou Ba têm grande importância e, no entanto, cá estou a escrever sobre isso: é o ar do tempo.


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