por João Távora, em 30.12.07
Com mais um calendário em fim de vida útil, cheio de apontamentos, reuniões e lembretes, aniversários e recados, marcamos a passagem por mais uma etapa da nossa existência. Sem que eu seja grande devoto destas celebrações, também sou levado na onda dos balanços e balancetes. E constato que o ano que termina me foi particularmente pródigo. Assunto que assim deixa de o ser, já que como nos rezava David Mourão Ferreira n’ um “Amor Feliz” a felicidade não tem história. Mas tem, todos nós sabemos que tem. Mesmo que uma história dessas possa soar a pirraça.
E a inveja é uma coisa muito feia. E chega a ser perigosa quando vem daqueles que “não padecem” desse mal. Porque quem não sente não é filho de boa gente. Ou é esquizofrénico.
Pois então fica escrito que eu sou “em geral” muito sensível a toda a sorte de sentimentos, humanas inseguranças e desejos, dos mais luminosos aos mais obscuros.
Duvido sempre de quem se proclama democrata, justo, ou sincero. Eu, por mim sei o que custam tais atributos. Depois, com tantas emoções, aprendi à minha custa que o inferno não são os outros, ele quando arde é dentro de nós. Corrosivo e demolidor se não for bem tratado pela razão.
Mas acreditem que sobrevivo relativamente em paz, apesar de tudo. Aprendi a viver com a efervescência de tantas e contraditórias energias. Que esse é o preço de viver uma vida inteira. Até conviver com o terrível medo, ameaça constante ao livre arbítrio, mas que finalmente nos pode salvar, à beira de um precipício ou a atravessar a avenida da Liberdade.
A vida ensinou-me a temer quem se embandeira ao mundo todo puro de coração. Pior do que ser imperfeito é desconhecermos o quanto o somos. Sem nunca perscrutar as nossas motivações. E depois, só não tem ciúmes quem não ama. Quem nunca dá o peito à conquista. E afinal, para essas inegáveis maleitas da vida, basta aplicar um pouco de juízo.
O meu 2007 fervilhou de histórias e emoções. Com gente a palpitar lá dentro e com tudo o que isso implica. E foi um bom ano, graças a Deus.