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Alemanha
Austria
Portugal
Estes três bonecos são produzidos automaticamente pelo Our World in Data e contrariam o essencial do discurso mediático sobre a epidemia.
Sim, é verdade que na Alemanha a incidência é mais do dobro da que existiu no pior pico anterior, sim, é verdade que a incidência na Austria é quase o dobro do pior pico passado e sim, é verdade que a incidência em Portugal está a subir (aparentemente está já a dar sinais de abrandar, mas até ao lavar dos cestos é vindima).
Também é verdade que as hospitalizações, doentes em cuidados intensivos e mortes, não acompanham a incidência como anteriormente, de tal maneira que se torna difícil aceitar a conversa da sobrecarga dos hospitais alemães, já que as hospitalizações estão bastante abaixo dos anteriores picos.
Essencialmente, o que se pode dizer é que a vacina tem cumprido bem a sua função de protecção individual (há quem argumente que as variantes que se tornam dominantes são as que são mais infecciosas, mas menos letais, não vou entrar nessa discussão, de uma maneira ou de outra há um claro desfasamento entre a evolução do número de casos e a evolução de hospitalizações, cuidados intensivos e mortes) mas, aparentemente, não é uma grande ajuda no bloqueio do contágio.
Dizer isto não significa que a vacina não possa ter algum efeito de contenção do contágio, significa é que há outros factores mais importantes a determinar a evolução do contágio - sejam as tais variantes mais contagiosas, sejam os factores ambientais, também não entro nessa discussão - e a variação de contágio comunitário que a vacina possa induzir é absorvida pelos outros factores que duplicam, triplicam, e mais, os contágios, numa ou duas semanas.
Resumindo, para quem adoptou o contágio como o critério central de evolução da epidemia, a situação é hoje muito complicada na Europa, para quem adoptar os efeitos reais da doença nas pessoas, medido em hospitalizações, cuidados intensivos e mortes, a situação actual é tranquila na Europa quase toda.
Note-se que o padrão de hospitalizações, cuidados intensivos e mortes não é exactamente igual, não há uma sequência de evolução da doença que seja hospital, cuidados intensivos e morte.
Há muitas hospitalizações que não evoluem para cuidados intensivos e, sobretudo, as pessoas que estão a morrer correspondem a grupos sociais muito diferentes dos que estão nos cuidados intensivos.
Os que estão a morrer são pessoas muito velhas e doentes, vacinadas ou não. São, de maneira geral, pessoas cuja vida pode desaparecer com covid ou com outra coisa qualquer, à mínima perturbação correm riscos de vida elevadíssimos, não sendo de esperar, na esmagadora maioria, que na ausência de covid vivessem muito mais tempo.
Os que estão a ser hospitalizados e levados para cuidados intensivos, de maneira geral são mais novos, às vezes sem histórico de doenças prévio, e não morrem, em grande parte, são tratados e voltam para casa.
Ou seja, com a vacina, ou com as variantes mais transmissiveis mas menos letais ou com uma combinação das duas coisas, a verdade é que a covid deixou de ser uma doença que crie mais risco social que a gripe.
Aqui chegados, é mais que legítimo perguntarmo-nos por que razão há crianças que desde o ano lectivo já estiveram isoladas em casa três vezes, catorze dias de cada vez.
E a resposta é desarmantemente simples: porque as pessoas que tomam decisões sobre o assunto acham muito importante diminuir o contágio de uma doença - medido laboratorialmente é bom lembrar - e não atribuem grande importância à frequência da escola.
Luís Aguiar-Conraria rendeu-se ao pragmatismo e no seu último artigo do Expresso (aliás, muito bom, embora eu tenha dúvidas sobre a parte final, que é a que estou aqui a comentar) defende que como será sempre assim, o melhor mesmo é vacinar as crianças para que as deixem em paz na escola.
Em compreendo esse pragmatismo, também dou tanta importância à frequência presencial da escola que acho que mais vale garantir a sua frequência que discutir se as políticas públicas estão certas ou erradas, mas não consigo ir tão longe.
Não porque veja grande risco na vacinação de crianças, que acho essencialmente um gasto ineficiente de recursos e energia (para além de uma injustição evidente face aos países que nem a sua população de risco têm vacinada), independentemente de reconhecer as questões éticas que se levantam.
O problema é que se mantivermos o foco no contágio medido laboratorialmente, não são só as escolas que vão ser destinatárias de medidas de gestão da epidemia que, além de estúpidas, são na verdade contraproducentes (os efeitos de longo prazo na confiança dos processos vacinais, que é elevadíssima em Portugal, talvez não seja dispicienda), é toda a sociedade.
E eu continuo a achar que é preciso perguntar por que raio continuamos a discutir isto com base em incidências de casos, visando um bloqueio de contágio irrealista, em vez de nos concentrarmos no essencial: hospitalizações, mortes e protecção dos mais susceptíveis.
Se há coisa que, mais uma vez, como nas outras epidemias, parece ficar demonstrado, é que tentar fazer bloqueios de transmissão de doenças deste tipo, sem que existam instrumentos farmacêuticos adequados - medicamentos e vacinas - é uma rematada idiotice, com custos sociais brutais e completamente desproporcionados face aos benefícios que se obtêm.
Uma coisa é usar medidas não farmacêuticas na protecção individual, outra coisa é confiar nelas para evitar surtos, tal como uma coisa é gerir os efeitos de um incêndio em concreto recorrendo a meios de combate, outra coisa é confiar na diminuição das ignições e nos meios de combate para obter o padrão de fogo que se pretende.
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Olá.Obrigada pela partilha.Boa semanaMaria
Não deixa de ser irónico que uma organização de ho...
Muito obrigado Henrique.
Não me surpreendeu tanto como ao JT em virtude do ...
Realmente, fazia falta aqueles regimes da foice e...