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Um efeito dominó

por Maria Teixeira Alves, em 11.07.14

O processo de desmantelamento do Grupo Espírito Santo parece uma doença em fase terminal. A ES Internacional devia no final do ano passado, mais de 7.300 milhões de euros. No final de 2013, a ESI e suas subsidiárias tinham 6.039 milhões de euros de papel comercial emitido, dos quais 2.256 estava colocado junto de investidores institucionais. A principal fatia do papel comercial, 3.783 milhões foi vendida aos clientes de retalho das diversas instituições financeiras do ESFG, incluindo o BES. Mas só este tem garantias de reembolso. Porque a dívida que foi colocada em clientes dos outros bancos da ESFG, que era a holding sob escrutínio da EBA - autoridade bancária europeia, por esse mundo fora, não tem qualquer protecção. Espanha, EUA, Panamá, França, Suíça, Dubai, etc, nessas sucursais ou filiais, os clientes, alguns portugueses, o pânico generalizou-se e houve uma corrida aos depósitos. Os clientes foram obviamente fazer queixa aos reguladores locais, que passaram a ficar alerta com os bancos Espírito Santo. A corrida aos depósitos fez com que nem se consiga neste momento ter acesso às contas à ordem e depósitos a prazo. Há um pânico generalizado. Há processos crime em preparação. Isto parece não ter muito interesse porque é longe, por que é private banking (banco de fortunas), porque é pequeno. Desenganem-se. A situação dos clientes nos Estados Unidos, na Suíça, etc, foi responsável pela divulgação da notícia pelos jornais estrangeiros, pelos canais de televisão como a CNN. 

A imagem dos Espírito Santo foi hoje manchada de uma forma irremediável, lá fora. Isso é inédito para uma família como a Espírito Santo. Uma reputação internacional destruída num piscar de olhos. Esses incumprimentos dos pequenos bancos Espírito Santo nesses países têm um efeito multiplicador que não pode ser descurado.

A imagem do BES fora de Portugal pode afectar até a capacidade de financiamento do banco no mercado monetário internacional. Daí que o problema seja também nacional, porque se o mercado se fecha para o BES, quem paga é o país. Porque alguém terá de financiar o BES.

 

Há muitas coisas ainda por revelar que estão a perturbar a cotação do BES. A CMVM suspendeu a cotação e bem. O banco perdeu 600 milhões de euros em bolsa em apenas 4 horas. Porque fez bem a CMVM? Porque o valor do banco é importante não só porque está dado como colateral de empréstimos, muitos deles foram contraídos na altura do aumento de capital do BES, contraídos pelas empresas que compõem o GES, mas também porque o buraco das empresas do GES é agravado de cada vez que o seu melhor activo, o BES, desvaloriza.

O problema do GES ainda vai no adro. Porque o papel comercial da ESI e da Rioforte está a intoxicar muitas das empresas do universo financeiro do GES, para além de intoxicar outras empresas de fora, como a PT e a Inapa, e para além de intoxicar as carteiras de clientes particulares. A ESFG está numa situação muito complicada devido à exposição à Rioforte e à ES International. Para estas empresas-holdings pagarem o papel comercial a alguns clientes na data do vencimento, a ESFG financiou-as. Por isso a exposição do Espírito Santo Financial Group (ESFG) ao Grupo Espírito Santo (GES) subiu para 2,35 mil milhões de euros a 30 de Junho de 2014, mais 980 milhões do que no final de 2013. Hoje a ESFG está numa situação de quase ruptura. Próxima do patamar de falência.  A ESFG pediu para ser suspensa na bolsa. A suspensão decidida pela ESFG abrange igualmente as obrigações emitidas pela Espírito Santo Financière (ESFIL).

Com a queda do GES, caem uma série de empresas ligadas por laços de dependência com o Grupo e com o BES.

Se o Estado entrar no capital do BES, através dos famosos Coco´s, as regras são hoje mais rígidas, por exemplo os detentores de obrigações convertíveis são chamados em primeiro lugar a converter as obrigações em acções. Depois, por exigência da troika haverá remédios a aplicar para atenuar um vantagem de concorrência, e haverá um rigor maior com os créditos incobráveis de algumas empresas, que se antevê que serão imediatamente executados. Enfim, vai haver um efeito de dominó.

 

A comunicação do plano de reestruturação da ESI vai clarificar o mercado, mas nem por isso deixará sossegados os investidores em papel comercial da holding do GES. 

 

 

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6 comentários

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De Cfe a 11.07.2014 às 08:31

Ontem eu via o jornal num canal da tv cabo (no Brasil) e falavam, do caso. Admirei-me porque achei que a dimensão do banco não seria compatível com a queda das bolsas ao redor do mundo.


Mas se calhar justamente por isso é que irão procurar uma saída a nível europeu para o problema. Quantos BES há pela Europa fora?


Portugal irá sofrer com a mancha dessa contabilidade criativa porque se a família Espirito Santo fez isso alguem o permitiu.
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De José Seabra a 11.07.2014 às 10:42

O post está muito bom, mas é "efeito dominó" e não "efeito de dominó".
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De Maria Teixeira Alves a 16.07.2014 às 03:22

Obrigada, já corrigi. 
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De anónimo a 11.07.2014 às 15:36


Não obstante, ainda há pouco tempo RESS era apresentado - também aqui - como um exemplo de aristocrata.
Está o povoléu bem tramado com aristocratas destes. 
Se desta vez o dinheiro não foi para os terrenos do Duarte Lima nem para tapar os tóxicos da CGD  oportunamente transitados para disfarçar a gestão socialista da Caixa, deve ter deixado algum rasto. Digo eu.
 Que só estou assustado na medida em que os meus impostos vão ser outra vez aumentados para pagar - na melhor das hipóteses -   os juros da capitalização que os fundos públicos vão fazer ao BES, ou - na pior das hipóteses - para pagar o custo da nacionalização do BES para evitar a crise sistémica. 
É  que, pelo andar da carruagem, já não me chega ser anti-socialista e lutar por uma sociedade livre, de mercado e capitalista, para depois  estes gajos fazerem borradas destas e ficarem mpunes...  O capitalismo só é inteiramente livre quando os prevaricadores são castigados. Pois que é esse o único auto-controlo do mercado.
É que a reacção dos mercados internacionais já não deixa dúvidas quanto á dimensão do problema e quanto ào nível de reacção governamental necessário.
Vou pagar o buraco destra família, sem nunca me terem convidado para almoçar, sequer.  Nem sabem que eu existo.  É parecido com  o caso do Dr. Bagão Felix. Ando  há anos a pagar-lhe as diferentes pensões e ele nem um almocito no monte dele oferece â malta.
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De OI a 12.07.2014 às 13:38

Maria,

Como é possível o grupo ter chegado a esta situação? Para onde foi tanto dinheiro? Ainda será consequência da crise de 2008 (se a resposta for afirmativa isso significa que brevemente teremos outros BES a "arrebentar" por esse mundo fora).

Abraço,
OI
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De Maria Teixeira Alves a 16.07.2014 às 03:25

Foi possível porque o banco dava crédito sempre à família e amigos até que o Banco Portugal proibiu de dar.

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