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E não pode mesmo passar, que eu tenho aguentado calado mas chegou-me agora a mostarda ao nariz (ou “as especiarias”, como actualmente é traduzido em “Astérix e Cleópatra”). Catherine Labey e Maria José Magalhães Pereira são as tradutoras escolhidas pelas Edições ASA para traduzirem para português o Astérix, de Goscinny e Uderzo, e assim se poder oferecer aos portugueses (pagando estes o preço de capa) o génio humorístico daqueles autores. Que pena!... De princípio pensei que eram apenas péssimas tradutoras. Depois pensei que não percebiam nada do que estavam a ler nem tinham qualquer ponta de sentido de humor. Agora percebi que aquilo que lhes falta é mundo, bagagem, e um mínimo de cultura, e que é por isso que são incapazes de traduzir o génio dos geniais.
Demonstrando, com exemplos acrescentados aos da mostarda. Não bastavam os péssimos novos nomes dos personagens, de que adiante darei inequívoco exemplo. Recordo agora o episódio em que que, em Astérix, gladiador, Obélix implora ao bardo que não vá ensaiar para a floresta porque a sua voz assusta os javalis. Este, furioso, riposta dizendo que os javalis apreciam melhor a sua música do que ele. Ao que Astériz responde: “é natural, pareces um leitão a cantar!” O diálogo foi agora traduzido por “Não admira! Cantas como um suíno!!!” Cantas como um suíno?!? Mas isto é coisa que se diga?? Isto tem alguma graça?? Isto sai naturalmente numa conversa de amigos?? Fará algum sentido? Porquê adulterar a naturalidade? Era o que vinha no dicionário? No tradutor google? Antes “como um singularis porcus”..., sempre faria mais sentido. Foi aqui que pensei que eram apenas péssimas tradutoras.
O tema das ‘comidas’ nem sempre é bem compreendido pelas tradutoras. Gaspacho y Migas, o célebre chefe da aldeia espanhola (em Astérix na Hispânia), chama-se agora Caldoverdon y Chouriçon. As delicadas tradutoras devem ter pensado que era uma excelente piada (que não percebiam) sobre sopas e resolveram atribuir ao chefe espanhol o caldo verde com chouriço português, que, como todos sabem, tem tudo a ver com Espanha.... E ainda devem ter julga doque faziam grande feito. A piada perdeu-se, diluiu-se, ficou sem sabor e sem se perceber. Sem se perceber a culinária, os costumes e a geografia. Destruiu-se a obra. Foi aqui que pensei que não percebiam nada do que estavam a ler nem tinham qualquer ponta de sentido de humor.
Mas agora foram fundo demais, ainda em Astérix na Hispânia. É célebre (menos de entre elas) o quadradinho em que Pepe, o filho do chefe espanhol (que por mera sorte não se chama na ASA “cozidus à lusitanius” ou “bacalhaus assadus”...), sustém o avanço de Júlio César e da sua guarda com o inequívoco “no passarán!”, de Dolores Ibárrui Gómez, La Pasinaria, às portas de Madrid, durante a guerra civil de Espanha. É um dos momentos mais conseguidos do livro, uma manifestação do génio dos autores e do seu excelente sentido de humor, revelador do conhecimento da realidade que tratam mas que não atinge as tradutoras. Pois estas senhoras traduziram o “no passarán!” (não sequer por “não passarão!”, mas) por “Daqui não passam!” Daqui não passam?!?... Daqui não passam?!?...?!?... Foi então que percebi que aquilo que lhes falta não é só qualidade na técnica da tradução nem apenas o facto de não perceberem patavina do que traduziam nem possuirem uma extraordinária falta de sentido de humor, mas sim falta de mundo, de bagagem, e de um mínimo de cultura, e que é por isso que são totalmente incapazes de traduzir o génio dos geniais.
Rasguei o livro, deitei-o fora, suspendi na banca a reserva dos livros da ASA distribuídos pelo Público e fui procurar nos alfarrabistas de BD uma versão com tradução decente para ter na modesta biblioteca. Mas ainda estou por perceber como é que na ASA ninguém se deu conta do disparate. Ninguém se apercebeu?!?... Ninguém disse “oh pá, não podemos comercializar esta porcaria....” E no Público?? – Que falta anda a fazer José Manuel Fernandes....
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