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Este país, se não existisse, teria de ser inventado. A questão é saber se seria possível inventar semelhante país.
A história conta-se em duas ou três linhas. No domingo passado, a TSF divulgou uma notícia falsa. Ou uma não notícia. Se preferirem, um conjunto de coisas que veio a demonstrar-se não serem verdade. Vai daí, a comunidade da comunicação social passou a semana toda a discutir a coisa. Jornalistas, comentadores, comentadores-jornalistas e jornalistas-comentadores, todos discutiram e opinaram sobre a não notícia ou sobre a notícia falsa. Como é habitual, a confusão desceu à Assembleia da República, onde pulula aquela gente a quem pagamos para discutir banalidades e textos de jornais. Os líderes dos partidos da oposição manifestaram-se raivosamente. Os líderes sindicalistas rasgaram as vestes. A TSF gozou o prato. O DN rapou-o sofregamente com miolo de pão. E ninguém se incomodou sequer em fazer as contas aos valores adiantados para constatar que a “notícia” não podia ser como estava a ser divulgada.
Este domingo demonstrou-se que era tudo balelas. A suposta notícia era falsa. Era mentirosa. Era uma invenção. Bastava ter feito as contas. Aguardava-se da TSF um pedido de desculpas aos seus ouvintes. Do DN e de todos os que andaram por aí a vociferar contra esperava-se um acto de contrição. Passou-se uma semana a discutir o sexo dos anjos. Pior: o sexo dos anjos inventado. A vergonha para a comunicação, o descrédito para os comentadores, o habitual para os líderes partidários da oposição.
Mas não. Não aconteceu nada. A TSF bebeu da fonte sem sequer analisar a qualidade do que bebia. E vomitou para todo o lado sem sequer pedir desculpas. E o resto da malta, políticos e comunicação social, passou a semana a ruminar o vomitado sem qualquer sentido crítico, sem sequer fazer as contas. Pensarão que alguém se envergonha? Que alguém se lamenta? Se penitencia? Não. A culpa, dizem, é do Ministro que não desmentiu a notícia falsa. A TSF inventou um método novo de fazer jornalismo, pena que nada tenha a ver com verdadeiro jornalismo mas isso nem interessa: alguém que venha negar.
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