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Eu defendo que os Estados Unidos e o mundo não podem deixar que a Síria seja dizimada com armas químicas por Bashar al-Assad. Defendo que todos os líderes que fazem isso aos seus povos não podem ser defendidos publicamente ou os seus crimes 'branqueados ' em nome de um ódio a uma suposta superioridade americana, como cheguei a assistir com Saddam Hussein, e foi isso que escrevi no Corta-Fitas.
Mas também defendo que nenhum ataque pode ser feito sem ser calculado e todas as consequências admitidas. Isto porque os Estados Unidos preparam-se para uma ofensiva contra a Síria.
Vi hoje um comentário de Luís Goldshmidt que me parece pertinente e que vou reproduzir aqui:
"Confesso que ao fim de anos a ver atentamente e a participar no que se passa no mundo, tenho dificuldade de compreender o mérito dos Estados Unidos (sozinhos?) lançarem do mar dez mísseis cruzeiro contra a Síria no próximo domingo à noite por causa do uso de químicos na quarta feira contra a população civil. Esta acção, feita assim, não tem densidade moral nem mérito militar. Tem todos os ingredientes de dar errado. Se for de menos, os árabes e os persas ficam a rir dos Estado Unidos. Se for demais, abre uma guerra em larga escala no Médio Oriente.
Só se compreende caso seja o início de um plano para envolver o Irão para, enfim, levar a cabo o ataque às suas capacidades nucleares".
Nos EUA, o presidente precisa pedir autorização ao Congresso para entrar em guerra com outro país. Foi o que fez, o odiado Bush antes de atacar o Iraque. Ao contrário do que se disse, a ONU não vetou a acção americana, apenas não a autorizou, o que é diferente, essa votação sequer existiu.
Mais uma vez, Obama não pedirá autorização, agora para atacar a Síria. Mais uma vez porque Obama já ignorou o Congresso no ataque à Líbia. Para todos os efeitos, não entrou em guerra com aquele país. Assim, os EUA combateram numa NÃO-GUERRA.
Obama repete também o dito naquela ocasião. Que o objectivo não era derrubar Kadafi, mas “libertar” a Líbia. Com essa justificativa, Obama pode atacar quem quiser e não precisa de prestar contas a ninguém — mas, diabólico era mesmo o Bush.
Assim como na Líbia, só bombardeariam alvos militares. A depender da intensidade, a consequência é óbvia: as forças oficiais ficam debilitadas, e os rebeldes avançam. Para a semelhança ser perfeita, só falta decretar uma zona de exclusão, mas apenas para as forças de Assad… Mais uma vez, parece, os EUA vão atirar bombas numa NÃO-GUERRA.
Assim como Sadam, não há dúvidas que Assad tem armas químicas. Embora o objectivo não seja derrubar o governo sírio, a probabilidade de que este caia é enorme. Nesse caso, o arsenal químico, que não tem como ser destruído sem o risco de um desastre de proporções inimagináveis, pode cair nas mãos dos jihadistas da Al Qaeda. Tudo ali, bem ao lado de Israel e bem perto dos inimigos xiitas do Hezbollah, no sul do Líbano.
Mas ao contrário do odiado Bush, o amado Obama tem tido uma habilidade imensa no Médio Oriente. Por que erraria agora?
Os EUA, e os seus aliados europeus estão prestes a fazer mais um enorme erro - agora na Síria — decorrente da incapacidade de Obama em entender o mundo como ele é!
Um ataque à Síria juntará, mais uma vez, numa aberrante aliança, as forças ocidentais e os terroristas da Al Qaeda, com a agravante de atirar gasolina sobre o conflito entre sunitas e xiitas.
A realidade é que a oposição síria não é formada por democratas e manifestantes pacíficos que lutam contra um regime sanguinário apoiado pelo Irão e pelo Hezbollah. A oposição síria é apoiada pelo Qatar e Arábia Saudita e as principais facções armadas são ligadas à Al Qaeda e salafistas ultrarradicais, anticristãos e antixiitas e anti-alauítas. O regime sanguinário de Assad, é aliado do Irão e do Hezbollah.
A decisão de atacar a Síria e depor o facínora parece iminente. Não é a primeira vez que se tem a impressão de que se vai cruzar a linha. Desta vez, no entanto, pela sua envolvência, a questão é muito mais grave.
Em intervenções militares, é importante ter uma estratégia de saída. Obama passou dois anos pedindo o fim da ditadura Assad, mas nada fez para que isso acontecesse. Insiste na sua saída, mas as alternativas, decorrentes de desfechos da guerra civil são um país fragmentado ou a ascensão de grupos islâmicos radicais.
A melhor opção seria o não envolvimento do Ocidente.
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