por Luísa Correia, em 22.03.13
A contratação de José Sócrates pela RTP parece-me, sobretudo, uma enorme falta de senso e de gosto. Numa altura que é de amesquinhamento, senão de dificuldade, para tanta gente, assume contornos quase insultuosos que aquela estação pública imponha, como serviço público, a presença e as opiniões "ex cathedra" do primeiro responsável objectivo pela situação.
É, portanto, legítimo supor que existam agendas escondidas sob a iniciativa, cada interveniente ou interessado tendo a sua. Recordo, por exemplo, que o PS é useiro e vezeiro em lavar as imagens chamuscadas dos seus militantes com um "estagiozinho" de três anos no estrangeiro, seguido de reentrada de viés na política interna; e que Sócrates ascendeu à governação depois de cumprir uns tempos de comentário televisivo com jeitos de escrupuloso analista de dossiês (jeitos que a aparente leviandade de Santana ainda realçou).
Não excluo, naturalmente, a hipótese - que é quase certa - de que também a RTP, o PSD, o CDS, os restantes partidos, o Governo, o Presidente da República, o Presidente da Câmara, o Procurador-Geral, o Marinho Pinto, o Mexia, o Salgado, o Belmiro, o Figo e até o Raul da leitaria e o Sr. Manel do lugar da fruta tenham definidas estratégias claras para o aproveitamento deste retorno socrático. O que não consola e antes agudiza a vergonha que sinto pela fraqueza de carácter de alguns de nós, que, se calhar, são muitos mais do que imaginava...