por Luísa Correia, em 01.03.13
É verdade que "água mole em pedra dura tanto dá até que fura". Mas pode acontecer - e geralmente acontece - que o furo não danifique a essência da pedra e apenas sirva para pôr termo à persistência da água, fazendo que se escoe para outras paragens.
Nós, por cá, convivemos com muitas águas moles. Mas pior do que moles, sujas. Já tínhamos a comunicação social. Temos agora umas movimentações peregrinas, que se entretêm a imolar animais na ara das ideias ocas. No meu tempo de estudante, sempre se lutava por coisas mais substanciais, elevadas, exequíveis. E nunca vi que se sacrificassem os mais fracos. Por estes dias, confesso, sinto vergonha de pertencer à corporação dos que trabalham com leis.
Não há, felizmente, nada que a pedra dura - a gente, e a portuguesa como todas - tanto abomine como o descarado facciosismo e a descarada manipulação. É que tentem, sem a menor subtileza, lavar-lhe o cérebro; é que desdenhem da sua inteligência ou da sua capacidade de entrever a realidade que está para além dos punhados de areia grossa que lhe lançam aos olhos.
A pedra vai furar, sim, mas o furo servir-lhe-á de cano de esgoto.