por Luísa Correia, em 27.02.13
Tive, há uns anos, oportunidade de participar, com italianos e outros dos países que integravam a então CEE, numa espécie de grupo de trabalho com a missão de avaliar um pacote legislativo aplicável em vários domínios do mundo laboral. A experiência valeu, não tanto pela matéria em análise, como pela teia de cumplicidades que logo se estabeleceram no grupo. Eram três as posições defendidas: a maioritária, alinhada com um forte intervencionismo europeu, politicamente correcta, e liderada pela representação espanhola; a portuguesa, contrastante com a anterior por razões de desconfiança na eficácia das regulamentações "exaustivas"; e a italiana, igualmente contrastante por razões de enérgico repúdio das regulamentações "invasivas".
É talvez por estas mesmas razões que os indígenas da bota, reunidos há pouco mais de século e meio num único Estado/nação, preferem delegar o poder executivo em gente tão sobrecarregada com os seus próprios, problemáticos, "affairs", que não tenha como ocupar-se dos alheios; ou seja, gente sem muito tempo, nem jeito para o exercício da política "profunda" e inerentes operações de rapina. Gente, enfim, que possam não levar a sério, rindo ou olhando simplesmente para o lado. "And the show may go on", se e enquanto os actores se confinarem ao palco e não cederem à modernice de interagir e perturbar o sossego da plateia.