por Luísa Correia, em 12.02.13
(Edouard Manet, "La Parisienne")
Vi recentemente, via net, a série "Paradise", adaptação televisiva do romance de Zola, "Au Bonheur des Dames". Não gostei. É um trabalho decepcionante, sem o apuro que se esperaria de uma produção da BBC.
A série não ignora, é certo, a questão nuclear do livro, o drama da agonia do pequeno comércio tradicional às mãos dos "grands magasins" de finais do século XIX - drama que volta a representar-se cem anos mais tarde, nos nossos dias, com os actores conhecidos que são as mercearias de bairro e as grandes superfícies. Mas a sua atenção recai sobretudo na intriga amorosa, que desenvolve de um modo confuso, inconsistente, por vezes ridículo.
Parece-me também que a transferência da história para território inglês é uma má opção. O mundo da moda feminina tem, nessa época, o seu epicentro em França e o papel da mulher parisiense no romance de Zola, que a coloca ao nível de uma Torre Eiffel e de um Arco do Triunfo na qualidade de atracção turística, reflecte aquela preponderância social e cultural no Ocidente.
Esta elegante seduz também os impressionistas, especialmente Manet, que não deixa de pôr em destaque, nos seus retratos, os elementos fautores do seu charme frívolo: o recorte e a qualidade dos tecidos, as fitas, as luvas, os chapéus, os guarda-sóis... Manet chega a ser acusado de privilegiar a representação da farpela em detrimento da expressão das suas personagens. Mas por que não? Afinal, o que nos distingue ao longo dos tempos é bem mais a forma do que o conteúdo.