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Ao contrário da maioria dos comentadores políticos, não me parece que o governação PSD - CDS “do ajustamento” condene fatalmente os resultados eleitorais de Outubro das autarquias, que afinal se regem por lógicas próprias de proximidade, a meros plebiscitos aos candidatos da esquerda. Suspeito sim que alguns dos desastres que se prenunciam à direita, aconteçam por outras causas, antes de mais ligadas com a ética e que aqui exponho em três pequenas notas.
1) Se não bastasse a questão simbólica, as eleições autárquicas na capital interessam-me de sobremaneira pois nasci e morei em Lisboa mais de meia vida. É por isso que me entristece a aposta da coligação PSD – CDS numa candidatura ferida de morte, como é a do mercenário autárquico Fernando Seara. Não posso concordar mais com Henrique Monteiro quando salienta na sua coluna do Expresso o espírito da lei do limite de mandatos: precaver que “alguém se possa perpetuar no poder, num cargo que não deve ser encarado como uma profissão, mas como um serviço, (…) limitado no tempo para que o empossado jamais se esqueça de que está numa função que não deve ser confundida com a sua própria pessoa.” Com este terrível pecado a somar-se à dificuldade intrínseca de desapear um presidente de câmara em transição de mandato, suspeito que não haverá charme ou truques de propaganda que salvem Fernando Seara. O mais grave ainda é aquilo que fica para lá das eleições: mais um violento pontapé na credibilidade do sistema político, ao que os eleitores corresponderão com acrescido desinteresse na participação cívica e desprezo pelas instituições.
2) A mesma chico-espertice engendrada na capital leva o PSD a apoiar Meneses na travessia do Douro para a substituir Rui Rio. Mas acontece que no Porto há uma boa notícia e o eleitorado poderá ser redimido com a candidatura independente de Rui Moreira, personagem respeitada, cujo reconhecimento do curriculum e méritos extravasam amplamente o âmbito local. Uma oportunidade dada de bandeja ao CDS, que assim poderá sair vitorioso numa grande autarquia nacional, caso o partido tenha a coragem de apoiar este abrangente projecto.
3) Finalmente uma nota sobre o concelho de Cascais, autarquia onde estou condenado a escolher entre os socialistas e o presidente cooptado Carlos Carreiras, personagem pardo do aparelho social-democrata, disposto a todos os assanhados malabarismos para convencer os eleitores da sua virtual equidistância à coligação partidária no governo que o patrocina. E como a decência é uma coisa a que dou valor, receio ter de me resguardar em casa nas próximas eleições.
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