
Não sei se já aqui o disse, mas as minhas simpatias políticas orientam-se pela personalidade e pelo carácter dos actores - que vou deduzindo dos seus actos - muito mais do que pelas ideologias. É por isso que não deixo de lastimar o ex-ministro Mendonça, tão cruelmente surpreendido e tão vivamente inconformado com o cenário de chocas lazarentas em que teve de se mover. E a Sócrates, consigo reconhecer qualidades de liderança, com a mesma "objectividade" com que afirmo que o seu entendimento e capacidade de gestão são pouco elásticos, no sentido de se ajustarem - talvez... - às dimensões de um lugar ou mercearia de bairro, mas não às de um país que, embora pequeno, sempre teve e vai tendo uns orçamentos e alguns vestígios de economia.
Do actual Governo evito falar - fica mal falar bem de políticos... Sendo certo que também nele detecto umas quantas personagens bastante indigestas. Mas gosto - confesso a heresia - do ministro Gaspar. Gosto das bolsinhas de cansaço que carrega sob os olhos; gosto do balanço lento do seu discurso, próprio de quem o filtra para reter a asneira; e gosto do seu ar sereno, meio ingénuo, modesto, mas "cuidado" - sexy, ao seu jeito - que não abjura o direito à falaciazinha de circunstância, mas que, no essencial, preserva a autenticidade. E não discordo, sequer, da tal austeridade que me propõe, ou impõe. É que, sobre o forrobodó da última década, já me tinham criado expectativas de ter de o pagar muito, mas muitíssimo, mais caro!