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O Estado que também rapta menores

por José Mendonça da Cruz, em 24.01.13

O caso de Liliana Melo, a mãe que o Estado português quis esterilizar, a mãe a que o Estado português raptou 7 filhos menores, a mãe de 7 filhos menores que o Estado português quis privar de mãe, não é um caso excêntrico, raro ou improvável. É, sim, uma mera manifestação do carácter e métodos do Estado português.  É, sim, a mera normalidade para um Estado omnipresente, conformador, abusivo, sufocante, que se habituou a impôr a sua presença onde não é útil nem desejada (como nas empresas públicas deficitárias e nos entraves às empresas privadas), a desconfiar dos cidadãos (a burocracia é isso: criar entraves para taxar soluções; e as exigências de cédulas, cartões, certidões, certificações, requerimentos, licenças e provas não são outra coisa), a tomá-los em geral como aldrabões salvo extenuante e onerosa prova em contrário (é o modus operandi do fisco), a vigiá-los incansavelmente (coisa que as facturas identificadas tanto facilitam), a meter-se na nossa vida privada (decidindo até quanto sal tem o nosso pão).

Liliana Melo é apenas mais uma vítima.

De que a acusa o Estado português através de um seu orgão de soberania, um tribunal?

De que acusa o Estado português a mãe Liliana Melo para lhe raptar 7 filhos e impedir a comunicação entre filhos e mãe?  

O Estado português acusa-a de estar desempregada, de ter problemas graves de habitação, de haver vacinas em atraso, de falta de higiene, das faltas das crianças mais novas ao infantário, de carências económicas e desorganização.

Em resumo, o Estado português acusa Liliana Melo de ser desempregada e pobre.

E mais: acusa-a de revoltosa. É que o Estado português mandou que Liliana Melo laqueasse as trompas, se esterilizasse, e ela não se esterilizou. E o Estado português acha que quando manda uma pessoa esterilizar-se ela tem que se esterilizar. E se não esteriliza, fica sem 7 dos 11 filhos. Porque é desobediente, e pobre, e tem filhos a mais, e é porca, desempregada, e vive mal num tugúrio qualquer.

Mas não será, ainda assim, excessivo rasgar os vínculos entre 7 filhos e uma mãe? Não, não é, responde o Estado Português. Mesmo sabendo, como soube, que a relação entre Liliana, o marido e os filhos era boa e próxima, o Estado português defende que «a família biológica» está muito sobrevalorizada (defende, afinal, o mesmo que o Estado de Hitler ou Estaline, que os Estados cujo desejo supremo é controlar).

Os reaccionários que exigem que o Estado português fique como está, os que recusam aos gritos qualquer corte na despesa, funções e dimensão do Estado, querem, ao mesmo tempo, convencer-nos de que casos como o de Liliane de Melo nada têm a ver com esse seu adorado Estado dos gastos insustentáveis e das revoltantes intrusões. Mas têm tudo a ver. São exactamente farinha do mesmo saco.  


10 comentários

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De O Falso Rei das Pampas a 24.01.2013 às 18:11

Porque é que não dizes, como o Gaspar: Não há dinheiro. Qual das três palavras não percebeu?
Ou queres continuar a ter "esse seu adorado Estado dos gastos insustentáveis e das revoltantes intrusões"?
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De José Mendonça da Cruz a 24.01.2013 às 18:15

Esse comentário é sobre este post?
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De O Falso Rei das Pampas a 24.01.2013 às 22:18

Talvez não tenhas percebido que assistência Social em vez de tentar criar condições para que a mãe pudesse ficar com os filhos preferiu poupar nos "gastos insustentáveis" do Estado enviando as crianças para um orfanato.
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De José Mendonça da Cruz a 25.01.2013 às 02:17

Segundo o seu raciocínio, foi, portanto, uma questão de poupança, e, ainda na sua preclara visão, a forma de a assistência social poupar consistiu em tomar à sua guarda 7 crianças...
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De Bruno Cristóvão a 08.03.2013 às 22:54

Não se trata de uma questão de poupança porque a SS paga €978/mês por cada criança a uma IPSS quando à mãe pagava €170 de abono de família. A isto chama-se de tráfico humano.
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De IsabelPS a 25.01.2013 às 22:20

A mim parece-me uma história muitííííssimo mal contada.
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De vasco silveira a 28.01.2013 às 12:36

O "Estado" , que cuida tão bem das crianças. Como na Casa Pia.

E se fizéssemos alguma coisa?

Não se trata apenas de um estado gastador e omnipresaente: é uma burocracia prepotente, que se sente apoiado por aquele estado, e que pretende mutilar por imposição de chefe de serviços, retirar os filhos aos pais contra vontade destes ( não há pais biológicos- há apenas Pais!), por uma birra de serviços, caprichos de regulamentos que constantemente mudam, e arrogãncia  pretensamente clarividente dos serviços de que sabem o que é melhor para as pessoas desprotegidas pelas circunstãncias da vida.

E se fizéssemos alguma coisa?!!!
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De Paulo Monteiro a 08.03.2013 às 11:46

Subscrevo cada linha, cada palavra, cada sinal de pontuação. Este país está entregue a uma associação de malfeitores chamada Estado.
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De Vasco (da) Gama a 08.03.2013 às 15:41

Creio que este estado (do qual fazemos parte) considera que os pobres estão proibidos de ter filhos.

É triste e revoltante

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