por Luísa Correia, em 22.01.13
Para mim, o cinema, sendo uma arte - a sétima -, tem de ter qualidade artística (perdoem o uso do definido na definição). Ou seja, tem de me emocionar esteticamente. Uma tal qualidade, procuro-a na conjugação dos quatro elementos essenciais da obra, o som, a imagem, o argumento e a representação, e considero tê-la encontrado se não conseguir desviar os olhos da tela.
Sucede que, com Argo, a coisa falhou. Com Argo, não suportei o peso das pálpebras e dormi pontualmente durante a exibição. Ora, se Argo recebeu os Globos de Ouro de melhor drama e de melhor realizador, a falha tem de ser minha, na condição de espectadora. Argo, por outro lado, desenrola-se em torno do ataque à embaixada norte-americana no Irão de 79 - ataque que segui, na altura, com a atenção muito solidária de quem, no rescaldo de Abril de 74, aprendera a descrer da independência, da lucidez e do auto-controle das grandes movimentações populares. O tema é empolgantíssimo, e a falha, repito, tem de ser minha.
Mas sei que não foi o acumular de sonos perdidos. Não foi, tão pouco, o aconchego da casa em noite de temporal. Desconfio de que foi a minha resistência ao estilo de Argo, um estilo que parece estar na moda, mas que tem mais de trabalho jornalístico do que de arte, de reportagem do que de cinema; um estilo um tanto "intelectual", seco e despojado, que não me estimula a deslocar-me a uma sala de projecção em grande ecrã, menos ainda a suportar o respectivo custo. Afinal, no mesmo género, tenho a oferta domiciliária e gratuita do canal História...