por Luísa Correia, em 19.12.12
Já li algumas biografias de Churchill e todas elas me souberam a pouco; ou seja, o percurso do biografado nem sempre terá correspondido às expectativas que o seu nome, a sua reputação e algumas das suas palavras ditas e escritas tinham criado em mim. O programa televisivo que vi ontem sobre o seu comportamento para com uma Polónia aliada e agredida é a gota que me leva a esvaziar aqui o copo da latente decepção.
Churchill foi, tanto quanto posso ajuizar, um homem corajoso, um excelente soldado, e um homem perspicaz, bom analista de personalidades. Mas, à semelhança do que tenho visto suceder a gestores e estadistas britânicos, di-lo-ia estratega medíocre, fraco planeador, e intransigente, implacável mesmo, no que considerava, de forma mais impulsiva do que racional, ser a melhor defesa dos interesses do seu país, com prejuízo, se necessário, dos sentidos de equilíbrio, de honra e de humanidade. O fracasso dos Dardanelos, a traição dos polacos e o bombardeamento de Dresden ensombram-lhe o retrato, não havendo sucessos pessoais estrondosos que o iluminem - a guerra, convenhamos, foi ganha pelos americanos! É certo que lá vejo - e é um gentil retoque fotográfico - um casamento feliz de seis ou sete décadas. Defendido, este sim, com a apuradíssima visão estratégica que lhe faltou na política, à custa de longas ausências e férias separadas: é que cônjuges que mal se encontram, podem esquecer que existem... mas lá cansar, não cansam.