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Informação apática e comentário informativo

por José Mendonça da Cruz, em 29.10.12

Quanto mais os jornalistas insistirem em desempenhar o seu papel como o estão a desempenhar, mais redundante será o seu papel e menos necessidade teremos deles. E, do mesmo passo, mais ilustrarão e tornarão indispensáveis comentadores e colunas de opinião.

Veja-se o que se passou com a expressão «refundação do acordo de entendimento». A ela, os jornalistas não dedicaram um neurónio, sobre ela não tentaram uma interpretação, não tentaram investigar nela um significado. Em vez disso, mal o primeiro-ministro a pronunciou, pegaram apenas na forma e correram numa agitação frenética (que imita o movimento mas retrata a medular apatia), a colocá-la perante outros protagonistas da vida política para dispararem coisas sobre ela. É isto ser pé de microfone: suscitar uns dichotes, umas opiniões pitorescas, em geral coladas com cuspo e apressadas. Dar-se por muito contente. E, de informação, nada.

Chegam, então, pela própria mão dos jornalistas, os comentadores. E, com natural facilidade, visto que ainda por cima lho pedem, envergonham os jornalistas: uns, mais atentos ao tacticismo da política, explicam: deitar fora o acordo de entendimento e dispor-se a negociar outro é dar um brinde ao PS, é suicídio político; outros, olhando mais o fundo e menos a circunstância, informam com mais brutalidade: o Estado social está falido, o que há tem que deixar de haver, foi isso que ele disse.

Os jornalistas cultivam a perplexidade e vestem a pele de estafetas de sound-bytes. Os comentadores informam e explicam. A este ponto se deixaram chegar os orgãos de informação. Depois, como se fossem estranhos ao processo, clamam que estão em risco de vida e que a sua morte seria um atentado à democracia. Sugerem o quê como remédio? Assumirem um papel mais útil ou transformarem-se em mais uma rubrica na despesa do Estado?


3 comentários

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De LMTV a 01.11.2012 às 17:01

Ora bem..nem todas as palavras que começam com o prefixo "re" significam o mesmo e portanto para tristeza de muitos, refundar ou reformular nao significa renegociar. Se os jornalistas estao num patamar tao desprezivel, a eles proprios o devem. Eu ainda me lembro de parar para ouvir o Carlos Fino e as suas reportagens de Moscovo, ou as entrevistas acutilantes de Margarida Marante. Nesse tempo nao eram pagos a peso de ouro mas sabiam o que era a liberdade de imprensa, respeitavam-na e ao cidadao. Hoje em dia, a privatizaçao dos media que deveria ter trazido a com. social para um patamar de excelencia pois as pessoas deviam ter um grau para exercer a profissao e os canais os meios para a levar à pratica de forma excelente, preocupam-se com shares e em defender os seus interesses pessoais. E foi essa bandalheira, aliada à falta de criterio dos cidadaos e ao seu desinteresse que nos trouxe ate este estado lastimoso. Nao ha um meio de informaçao de referencia em Portugal neste momento, os media trazem erros de portugues de palmatoria, as noticias sao muitas vezes inperceptiveis e espalham a confusao. Tudo porquê? Primeiro porque jornais, revistas e radios estao nas maos dos mesmos e depois porque o tal "povo" gosta de ser enganado e acha que se papaguear os erros que ouve nas noticias so porque sao proferidos pelo comentador A ou B entao é uma verdade absoluta e pode vir para a rua armado em politólogo ou economista. A nossa falta de exigencia abriu espaço à incompetencia por isso em ultima analise, a culpa é nossa. Entao porque continuar a gastar dinheiro a forma-los? Acabe-se com o curso e canalize-se a verba para areas mais necessarias. Ainda vamos a tempo de mudar as coisas mas para isso os nossos criterios têm que mudar. Ja que exigimos tanta coisa desnecessaria, exijamos isto tambem, porque tal representa uma mudança de paradigma, uma evoluçao civica e social urgente nos tempos que correm.

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