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Tem algo de visceralmente religioso e infantilmente devoto esta profusão de balanços que todos os anos os média dedicam aos acontecimentos do ano que termina. Não há blog, noticiário televisivo ou radiofónico, jornal de mais ou menos "referência" que por estes dias não provisione os seus crentes com toneladas de crónicas, sínteses, fotografias e notícias requentadas, numa fanática revisão e fecho de contas de tragédias, frases bombásticas, escândalos de vária ordem, como se, entre o dia 31 de Dezembro e o 1º de Janeiro existisse uma barreira física, um restart, para a ilusão duma ressurreição colectiva. Felizmente no próximo Domingo todos seremos os mesmos de Sábado, na continuidade do tempo e no espaço um dia mais velhos... uns quantos talvez com a boca a saber a papel de música, mais ressacados e confusos que habitualmente. O fim-do-ano não é mais do que uma estação tola com pretensões. É que afinal, a não ser que a natureza nos surpreenda com a sua indómita fúria em qualquer quadrante do globo, se há data em que nenhuma ruptura social ou política acontece, se há tempos mais conservadores e inócuos, esses são os da passagem de ano.
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Muito bem! É sempre um gosto lê-lo/ouvi-lo.Cumprim...
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