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A notícia, assinada por Nuno Simas, saiu ontem no Público e dava conta do início da discussão na comissão parlamentar para a revisão constitucional que começou pelo famoso preâmbulo que prevê o nosso “caminho para uma sociedade socialista”. O mais elementar bom senso faria prever que a expressão datada dos tempos exaltados de 1976 deveria ser retirada. Pois bem, parece que só o CDS o defendeu, bem como, a título pessoal, o deputado laranja Bacelar Gouveia. Os restantes deputados do PSD citados, como Mota Amaral, Guilherme Silva e Marques Guedes, acham que não faz mal nenhum e têm-lhe até um certa ternura, um “legado” como dizem, como se fossem loucuras da juventude da época, como as calças à boca de sino ou a bigodaça com patilhas.
O PS, para variar, é “socialista” mas não muito e Vitalino Canas acha que a expressão “tem apenas um significado histórico", enquanto Ricardo Rodrigues, com a elegância que o caracteriza, faz saber ao centrista Telmo Correia que só quando o CDS tiver dois terços dos deputados deixaremos de “caminhar para o socialismo”... Já o Bloco de Esquerda e o PCP mantêm-se obviamente defensores do preâmbulo achando bem impor constitucionalmente à sociedade portuguesa (embora, como diz Guilherme Silva, ele não tenha “alcance normativo”) um “caminho” que os portugueses têm rejeitado absolutamente nas dezenas de eleições dos últimos 35 anos.
E assim, à oitava vez que revemos a Constituição, que deveria ser o texto político mais importante do país, vamos manter um preâmbulo ridículo, pelo qual, pasme-se, há uma espécie de carinho por parte de políticos adultos, que sabem perfeitamente que o tal “caminho” nunca se concretizará nem eles gostariam que se concretizasse. Se isto não é surrealista, não sei o que será.
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