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Já há uns tempos a QUERCUS tinha feito uns comunicados sobre o facto de haver 40 milhões de eucaliptos a sair de viveiro para serem plantados (o comunicado é também assinado por uma associação fantasma cujos orgãos sociais não se sabe quem são e cuja escritura de constituição é feita por uma pessoa, a sua ex-mulher com quem na altura estava casado e a sua empresa, portanto se não cito essa associação não é por distracção mas por não me parecer útil perder tempo com números de ilusionismo).
Hoje é João Camargo a voltar a falar nesse número como sendo uma coisa inacreditável, demonstrador da política de expansão do eucalipto.
O rigor de João Camargo a falar destes assuntos é o mesmo que apresenta a falar das suas qualificações, apresentando-se como investigador em alterações climáticas.
Meia dúzia de minutos chegam para qualquer pessoa, incluindo os responsáveis pelos jornais que lhe dão guarida e o apresentam como investigador em alterações climáticas, verificarem que se trata de mais um caso como o de Barreiras Duarte e tantos outros: João Carmargo, de acordo com o site do ICS (Instituto de Ciências Sociais), é um estudante do programa doutoral em Alterações Climáticas e Políticas de Desenvolvimento Sustentável e está a fazer um tese sobre "Adaptação às Alterações Climáticas, nova metanarrativa para a Humanidade?",
Está na página dos estudantes do ICS, não está, evidentemente, na página dos seus investigadores.
A QUERCUS ainda tem o bom senso de transformar estes 40 milhões de árvores em hectares, apresentando o número razoável de 35 mil hectares de plantação possível com estes 40 milhões de árvores (vamos agora esquecer os vários factores que nos fazem ter a certeza de que na realidade o valor de área plantada é menor, e usemos este número como bom), mas João Camargo nem se dá ao trabalho de fazer isto, usa 40 milhões como evidência de "muito", muito esse que demonstra a forte política de expansão do eucalipto.
Admitamos o eucalipto representa 13% da área ardida, como indicam as séries estatísticas longas e apliquemos aos cerca de 600 mil hectares ardidos em 2016 e 2017. Só em área ardida de eucalipto temos mais do dobro dos tais 35 mil hectares, o que desde logo indicia que os 40 milhões de árvores, provavelmente, nem chegariam para repôr o que ardeu.
Acontece que em 2016 e 2017 a geografia dos fogos acompanha muito mais a distribuição do eucalipto, e portanto a área de eucalipto ardida nesses dois anos é muito mais que os habituais 13%.
Vamos admitir que todo o eucalipto recupera após fogo e não é preciso substituir nada (não é bem assim, mas serve, a parte em que é assim, apesar de tudo, é bastante razoável). Se tivermos 850 mil hectares de eucalipto em Portugal (não anda longe), se forem explorados em três cortes espaçados por doze anos (também não é bem assim, mas tem o rigor mínimo para explicar o que pretendo), isso significaria que, só para manter a área de ocupação, seria preciso plantar mais de vinte mil hectares, por ano, ou seja, bem mais que metade da tal área horrososamente exagerada que é possível plantar com 40 milhões de árvores a sair dos viveiros.
O que me interessa aqui é apenas fazer notar a facilidade com que se usa um espantalho como 40 milhões de árvores (ena tantas!) para contrabandear uma ideia que até merecia uma melhor discussão porque tem elementos relevantes que é bom não perder de vista: a ideia de que há eucalipto a mais e que isso resulta de políticas comandadas por interesses económicos escondidos.
Não espanta que pessoas como João Camargo, que escrevem livros a explicar que Portugal arde mais que os outros países porque tem muito eucalipto, usando como argumento que os pinhais do Sudoeste de França não ardem tanto e que a área de pinhal tem diminuído ao mesmo tempo que cresce a área ardida (o argumento é tão surrealista que, para não ser acusado de estar a fazer leituras criativas do livro, cito: "A grande presença de pinheiro-bravo no território, apesar de ter características de elevada inflamabildiade, não é particularmente explicativa para a evolução histórica das últimas décadas, já que o declínio da sua área tem sido acompanhado do aumento da área ardida"), usem espantalhos destes para fazer avançar a sua agenda política, o que é verdadeiramente estranha é a facilidade com que um espantalho evidente (saírem 40 milhões de árvores dos viveiros, para plantação de uma espécie que tem a presença que o eucalitpo tem na paisagem, não indicia nenhum aumento brutal da sua área de ocupação, mas antes uma preocupante incapacidade de ultrapassarmos os 150 a 200 mil hectares geridos racionalmente de povoamentos da mesma espécie) se espalha e é acolhido pela imprensa como sendo um grande problema e um problema que ajuda a explicar a morte de pessoas em incêndios.
Custa muito perguntar: 40 milhões? E daí? Qual é exactamente a questão? E porquê?
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