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O "Cedro Grande"

por João-Afonso Machado, em 30.10.10

É o nome por que sempre conhecemos esta pseudotsuga, com mais de trinta metros de alto, classificada de interesse público.

Um gigante e um espaço desde a infância indissociável das nossas brindadeiras e dos nossos sonhos. Dos nossos esquemas...

Teria os meus 17 anos. Lembro-me desse misterioso telefonema, uma voz lindíssima, queria encontrar-se comigo, só podiaser alguma beldade cá da terra!

Expliquei-lhe as rotas que conduziam ao Cedro Grande e marcámos a hora. Mas, ainda assim, tão inusitada proposta deixou-me a pensar. Cautelarmente, fui mais cedo e, com a ajuda de umas cavilhas que habilidosamente colocára-mos no tronco, subi (outra agilidade, outro peso, outras décadas...), subi aos ramos cimeiros. E pus-me à coca.

Ela foi pontual. Chegou assobiando e... enorme! Um verdadeiro bombardeiro, já sem aquele mavioso trinado, roncando de todos os motores. Nem mais do que a..., o monstrengo da minha turma!

Dizem que o medo dá asas. A mim deu-me ventosas. Sim, entrei em pânico. Se vissem  aquele carão, a sua musculatura! E se eu espirrasse? Se fosse topado?. Ainda era ali esmurrado a beijos, triturado num ajiboiado abraço. Nem ousava respirar. E a matulona sentou-se num penedo vizinho, decidida a esperar. Primeiro a resmonear ditos imperceptiveis, por fim desbragando-se em impropérios de carroceiro.

E eu lá em cima, aflito como um passarinho. Pensando em Monteiro Lobato, nas aventuras no Sítio do Picapau Amarelo, a Cuca, horrenda, a Iára (a pentear-se ao luar, fulminante para quem a mirasse) e, sobretudo, a mula-sem-cabeça-que-deita-fogo-pelas-ventas.

Até que a criatura se fartou e partiu. Deixando no ar uma nuvem de mil ameaças de morte. Vendo a costa livre, desci o Cedro Grande e só parei em casa. Onde o meu Pai, exigentíssimo com o horário das refeições, não parecia disposto a perdoar o atraso...

Por meias palavras (para deixar a Mãe à margem) sempre fui justificando o sucedido... uma senhora... aflita... queria falar comigo... mas só treta, afinal. O Pai percebeu - e deixou-me sentar à mesa.

- Pronto!... Mas assuntos desses só umas tantas freguesias adiante. Não quero maçadas aqui à porta.

E eu ataquei, esfomeado, a feijoada. Ainda hoje os meus irmãos gozam com esse casanovismo de cacarácá.



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