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Das 'vacas sagradas'

por Rui Crull Tabosa, em 21.10.10

Curiosa República esta, em que muito se perora sobre a humildade e o direito à diferença de opiniões, mas, sempre que se toca numa das vacas sagradas cá do burgo, temos de levar com os zelotas do sistema a rasgar as vestes e a gritar ‘sacrilégio, sacrilégio!’

Passe a boçal superioridade revelada pela enfatuada Isabel Moreira, vamos aos factos.

Com ironia – coisa que a dita senhora não parece perceber – escrevi que uma certa 'impressão' de Jorge Miranda me provocara outra 'impressão'.

É que acho deveras curioso que um constitucionalista tenha ‘impressões’ sobre projectos de revisão constitucional, assim como impressionado ficaria se um médico tivesse a ‘impressão’ de que uma pessoa tem certa doença. Não cumpre ao médico ter ‘impressões’, mas, isso sim, diagnosticar e, se possível, curar as doenças. Mutatis mutandis, competirá aos constitucionalistas estudar, apreciar, analisar, dar parecer sobre os ditos projectos de revisão da lei fundamental e não sobre os mesmos ter e partilhar meras ‘impressões’, por natureza pouco rigorosas, como é próprio do vulgo.

De resto, a associação que fiz entre as 'impressões' de Jorge Miranda e a sua pretérita indicação, pelo Partido Socialista, para o cargo de Provedor de Justiça, não é leviana ou caluniosa, como a sua infrene defensora pretende fazer crer.

Com efeito, Jorge Miranda não se limitou a ser indicado pelo PS para o referido cargo constitucional. Aceitou que esse partido anunciasse publicamente o seu nome, sem cuidar de o negociar previamente com outras formações políticas (que sempre seriam necessárias para concretizar a referida eleição), sabendo bem que, desse modo, estava a transformar-se numa mera arma de arremesso político do PS contra o PSD.

A isto chamo frete!

Como se não bastasse, recordo ainda, para quem tenha esquecido, o pouco reprimido mau perder democrático então evidenciado por Jorge Miranda, que parecia achar-se no direito de ser eleito Provedor de Justiça. Acaso não afirmou que "Lamento é que, havendo voto secreto, com o objectivo de garantir a liberdade dos deputados, funcione, afinal, a disciplina partidária”? E não se permitiu dizer que "confesso que nunca esperei e desagradou-me, sobretudo, uma série de atitudes do PSD. De uma rigidez e arrogância com que eu não contava”?

Como se a eleição de órgãos constitucionais pertencesse à esfera da consciência individual e não fosse, precisamente, uma das matérias em que plenamente se justifica a disciplina de voto…

Seja como for, nem eu, nem Jorge Miranda, nem mesmo a senhora Isabel Moreira estamos acima da crítica dos outros, as quais são sempre legítimas, diga-se, exceptuando, naturalmente, as de certos excrementos anónimos que gravitam na blogosfera.

Finalmente, tenho pena que a sua deselegância chegue ao pondo de não preservar, sequer, o nome deste seu interlocutor, o que lamento apenas pelo grande respeito que nutro pelo Senhor seu Pai.


29 comentários

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De Pedro Quartin Graça a 21.10.2010 às 19:31

É mas do que evidente, e só é pena que nem todos o percebam, que Jorge Miranda é um dos, senão o principal responsável pelos aspectos mais negativos constantes da versão original da Constituição, nomeadamente os famosos e anti-democráticos  limites materiais os quais, nem em países verdadeiramente terceiro-mundistas ou em ditaduras, têm lugar. Como também ficou bem claro à saciedade que a candidatura de Jorge Miranda a Provedor de Justiça foi um tremendo "erro de casting", que não o prestigiou, e que apenas se prolongou no tempo dada a casmurrice do partido proponente com a colaboração infeliz do indigitado. Bem esteve pois o Rui na sua apreciação. 
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De Rui Crull Tabosa a 21.10.2010 às 21:05

Obrigado, caro Pedro.
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De Nuno Castelo-Branco a 21.10.2010 às 23:14

Claro que o Rui disse o que tinha de ser dito! Quanto ao dr. Miranda, fica-se com aquela conversa do "C'est peut être une mauvaise femme, mais elle est ma fille!" (diz-se assim?)


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De Anónimo a 22.10.2010 às 00:35

No caso diz-se «méchante»....Pas mauvaise.
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De Marquesa de Carabás a 22.10.2010 às 07:21

Caro Nuno,

Acho muito bem que o Rui diga o que tem a dizer.
Sobre esse assunto,há variadissimos casos. O mais paradigmático, no meu entender, é o dos irmãos Portas. E, tanto qanto sei, lá também há natal :). O que é importante é que as ideias se debatam com liberdade e respeito pelas ideias alheias. Tivemos a oportunidade de falar nisso recentemente, o Rui e eu. Do que se passava antigamene na politica e áquilo a que estamos a assistir agora. Para mim é incompreensível que pessoas com responsabilidade governamental não se consigam entender. Além de ser uma falta de respeito para com os portugueses que os elegeram.




Marquesa de Carabás


 

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