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Sobre as boas maneiras

por João Távora, em 01.09.10

 

Faz-me alguma confusão a banalização duma  linguagem violenta e rasteira que prolifera  em cançonetas, filmes e programas de televisão, direccionados à juventude ou a uma certa classe social "alternativa". Basta ver um filme de acção americano para classe média, um qualquer standup rasco, bonecos animados para adolescentes, ou escutar as palavras dum irrelevante recitador de RAP, para sermos agredidos com a mais hostil gíria e descontextualizado insulto a tudo o que mexe.  Um dia destes vi na MTV, num reality show na moda entre os adolescentes, uma rechonchuda cachopa americana vilipendiando ao vivo a sua namorada traída; numa verborreia onde o epíteto “cabra” era o mais carinhoso dos adjectivos. Eram seis da tarde.

As boas maneiras não resolvem tudo, nem sempre contêm a semente de violência ou de auto-destruição que não raro brota na alma humana. Mas o pior é que as palavras e os símbolos nunca são só palavras ou símbolos; estão colados aos seus significados precisos que assim se exaltam. Estranho que a mesma adolescentocracia que tolera e trivializa estas aberrações “culturais”, vem a jusante chorar lágrimas de crocodilo e indignar-se com a violência doméstica, discriminação e outras enfermidades sociais que afinal alguma educação e valores teriam por certo resolvido ou atenuado.


19 comentários

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De jose-catarino a 01.09.2010 às 22:25

Não é preciso atravessar o Atlântico: basta ler alguns dos blogues da lista "outros blogs"; alguns, parece que muito apreciados, não vão além do rol de palavrões e chalaças pretensamente graciosas.
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De Anónimo a 02.09.2010 às 23:23


Sendo certo, porém, meu caro que podemos até falar palavrões com conhecimento e com cultura. Alguns dos grandes palavrões que todos condenamos, quando proferidos com sentido ordinário, têm na sua origem o que nunca nos passaria pela cabeça e que à data da sua origem estava legitimado.
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De jose-catarino a 03.09.2010 às 10:24

Estou de acordo. Os palavrões fazem muita falta, sobretudo quando bem empregues. O que acho confrangedor é ver gente que parece não conhecer outro léxico e os emprega como a criança que acabou de os aprender. Sou professor e passo o dia a ouvir um na boca das raparigas e outro na dos rapazes. Duas palavras, ainda por cima repartidas por sexos,  é muito fraco conhecimento lexical. Sem falar na (im)pertinência do seu emprego.
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De Apoiado! a 03.09.2010 às 12:06

Exactamente.

Falou quem sabe e não se recusa a constatar a realidade.

A rasquice a que se chegou é confrangedora.

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De Anónimo a 03.09.2010 às 12:46

Sim, concordo consigo. Naturalmente, que não me referia ao caso concreto que menciona, francamente desolador e preocupante. O que pretendi comunicar foi a origem de alguns «palavrões», que a muitos não passa pela cabeça e cujo uso adulterado levou ao sentido ordinário com que é grosso modo utilizado, minorizando, assim, o efeito que poderia alcançar-se num discurso - até escrito - de registo mais cuidado.

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