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Domingos e dias santos

por João Távora, em 23.07.10

O povo num assomo de consumismo numa feira em Boticas

 

Devo ressalvar que nada me obsta que as grandes superfícies comerciais passem a abrir ao Domingo. Não concordo com o proteccionismo ao comércio de proximidade que tem e teve ao longo do tempo todas as oportunidades para se adaptar. Se assim fosse, também se criavam barreiras para o comércio electrónico (de que sou fã) que prolifera de mansinho, 24,00hs por dia 365 dias por ano: do pão quente ao leite do dia, aos discos, livros e medicamentos, quase tudo podemos comprar com grande economia através do computador em lojas virtuais. Por exemplo, veja-se aqui como criar e comprar a sua camisa exactamente à sua medida. Quanto à questão religiosa que alguma Igreja levanta, considero irrelevante: sempre existiram feiras e mercados ao Domingo a atrair comunidades e famílias “ao consumo”. Se um cristão falta à missa para ir ao hipermercado o problema é outro, bem mais difícil de resolver.

De resto achei muita graça ao comentário da nossa Luísa Correia ao post do Duarte recordando-nos como a polémica se repete, e como encontramo-la no princípio do século XX relativamente aos Grandes Armazéns que então nasciam. Curioso é que, sabendo nós que o republicanismo em Portugal foi um movimento essencialmente burguês, foram personagens como Teófilo Braga, talvez sob os auspícios de outro eminente republicano, Francisco de Almeida Grandella, que em 1904 se opunha categoricamente e levantou a voz contra a instituição do descanso semanal dos trabalhadores, uma reivindicação popular na Europa desde o final do Séc. XIX: o descanço dominical, isto é, a morte de toda a actividade intellectual e fabril de um paiz, é o tédio ou a ruína. É o suicídio social para a gente fina que se diverte. Um domingo de Londres é, para os habitantes de Londres, o peor e o mais negro e húmido dos seus nevoeiros.


13 comentários

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De Pedro a 23.07.2010 às 14:45

Que é “alguma Igreja” J . E considero curioso que se retomem no corta-fitas argumentos do republicanismo. ;)

 

A questão nem é religiosa, nem é laboral. A primeira é uma falsa questão. Bem visto, o caso das feiras. A segunda, a laboral, deve ser regulamentada. A questão é de facto a sobreviência do pequeno comércio tradicional. Por mais voltas que se dê, a grande maioria não tem grande capacidade económica para se manter e muito menos para se modernizar. Os preços são necessariamente mais baixos no comércio tradicional do que nas grandes superfícies, toda a gente sabe porquê, nem vale a pena elaborar. Apenas restarão as mercearias finas, tipo loja gourmet do Corte Inglês. Para quem pode. Os outros, vão sobrevivendo como podem. Dá para repor o magro stock e ir vivendo, sem despesas com empregados, na sua maior parte. O Grandela era só um e nem a sua dimensão tem nada a ver com os jumbos e hipers do continente.

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De Apoiado a 23.07.2010 às 14:45

Na minha opinião, as lojas deviam estar abertas 24 horas por dia, ou mesmo mais.

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De Luísa Correia a 23.07.2010 às 14:46

Rui, quando fiz a comparação, foi considerando dois factores: o primeiro, os princípios comerciais que inspiram os hipers e que já inspiravam os grandes armazéns (alta rotação de produtos proporcionando o esmagamento dos preços) «versus» os que subjazem ao pequeno comércio tradicional (mais baixa rotação de produtos e preços consequentemente mais altos); e o segundo, os movimentos e as consequências que geraram a abertura e a proliferação dos hipers (há vinte anos) e dos grandes armazéns (há cento e vinte anos). Note-se que o «fenómeno» dos grandes armazéns não se deu só em Portugal, nem só com o Grandela (tem dois «eles»?) Então, como agora, temeu-se pela sobrevivência do pequeno comércio tradicional, mas ele – ou algum dele - resistiu, por via de outras apostas, como a qualidade, a proximidade e a originalidade. Tal como hoje.

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De Pedro a 23.07.2010 às 14:54

Com todo o respsito, não me parece relevante o exemplo do Grandela. A questão não é a existência de grandes superfícies, mas sim a dimensão do fenómeno. O Grandela era praticamente o único, e numa zona central de Lisboa. Ao contrário do que acontece agora, não me parece que o grosso da população lisboeta (quanto mais do país…) fosse aos fins de semana com as suas charretes e carros de bois encher carrinhos de compras ao Grandela.

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De Luísa Correia a 23.07.2010 às 14:46

Nota: onde se lê «Rui», deverá ler-se «meu caríssimo colega corta-fiteiro». ;-D

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De João Távora a 23.07.2010 às 14:49

Peço desculpa pelo equivoco aos leitores e á Luísa: tive a usar o log administração e por conta disso foi a assinatura saiu sem querer. 
Restaurei o post e os comentários na integra. :-) 
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De jj.amarante a 23.07.2010 às 15:01

"É o suicídio social para a gente fina que se diverte", eu julgava que a nobreza se entretinha entre os seus, nos seus palácios, servida pressurosamente pela criadagem atenta. Quer na Londres de outros tempos quer agora aqui em Portugal. Abrir os hipermercados ao domingo contribui apenas para o laxismo das governantas ou dos mordomos, que a partir de agora podem descurar a logística dos abastecimentos, pois haverá sempre a possibilidade de repor a despensa mesmo aos domingos.
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De ruy a 23.07.2010 às 15:48

A evolução "natural" do capitalismo é a concentração do capital, quer na industria, quer no comercia, quer mesmo no financeiro. Um tal desenvolvimento acarreta naturalmente consequências a nível económico e social. A nível económico com o desaparecimento de muitas empresas, a nível comercial com o desaparecimento de muitas lojas. Nos dois casos haverá sempre uma diminuição do emprego. Está por provar que a nível global a sociedade fica mais favorecida com tal concentração e muitos responsabilizal esta concentração sem regulação como a causa da crise financeira, económica e social que o mundo hoje vive e das crises futuras.
Sobre as grandes superfícies paraece não existir regulação alguma. Importam bens de qualquer parte do mundo, a preços reduzidíssimos que esmagam os produtos nacionias. Não existe qualquer travão a isto e instalam-se onde querem. Sou dos que consideram que a obsessão do lucro do capitalismo precisa de contenção. O deixar andar, pensando que "como mão invisível o mercado se regula a si próprio" arrastará o mundo para mais e mais gravosas crises. É neste contexto que devemos discutir a questão das grandes superfícies.
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De Pedro Serra a 23.07.2010 às 16:42

Vamos, então, fechar as fronteiras, proteger os nossos produtos, deixar de importar, ou seja, vamos ficar orgulhosamente sós ou, mais modernamente, tipo Albania...
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De Pedro a 23.07.2010 às 17:36

Pedro Serra, a Albânia? Pois, pois... ficaria surpreendido se eu contasse como são as restrições ao licenciamento de superfícies comerciais e o proteccionismo que há, em cidades tão cosmopolitas como Nova Iorque, por exemplo, em nome da protecção dos que lá estão. Tente, por exemplo, abrir uma pastelaria numa das grandes avenidas da cidade...
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De Passos Dias Aguiar a 23.07.2010 às 18:02

Alguma Igreja é por exemplo o Bispo Auxiliar de Lisboa...
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De Anónimo a 23.07.2010 às 21:21


Desculpe-me mas a questão do horário de abertura dos hipermercados não é essa. 

É que estando as grandes superfícies obrigadas a respeitar certas condicionantes pela dimensão do impacto que produzem em várias vertentes como o ambiente, transito, urbanismo etc., os grandes grupos económicos que os suportam fazem de tudo para ultrapassar esses empecilhos, seja legal ou ilegalmente.

Quer um exemplo: a construção do freeport. Quer outro: quem pagou a construção do viaduto de acesso ao Ikea em matosinhos? (foi o estado por via de renuncia fiscal através dum cruzar de interesses pelo investimento da fábrica em Paredes)

Agora eu quero ver qualquer pequeno investidor conseguir construir uma pequena exposição em área protegida...

É que o rolo compressor começa antes da abertura criando situações de fato: o horário de abertura é a menor de todas as preocupações. Na realidade este vigorou até agora como uma compensação pelo desequilíbrio  no acesso a boa vontade pública em relação ao investimento.

Ainda lembro-me nas dificuldades que tive numa obra de uma pequena loja minha que ocorreu durante a construção da siemens em Vila do conde. No concelho onde fiz a obra tive diversas dificuldades: no descarregar, no entulho e por aí fora.
Para construir a dita fábrica que já fugiu( e o capital ninguem viu) fecharam até parte da estrada nacional 13.

Recentemente o estado apoiou a construção de uma mega fábrica de móveis estrangeira duma maneira que nunca fez em nenhuma empresa nacional. Detalhe: o seor de móveis talvez seja o único alem da cortiça e do vinho onde Portugal pode ser realmente competitivo.

Há formas simples e eficiente de apoiar empresas pequenas: a cedência em comodato de espaços de funcionamento para pequenas fábricas elevaria os níveis de produtividade, cativando o investimento e assegurando a lisura do negócio. Alem disso a criação de emprego seria maior. 

Tem menos valor agregado? Se fizerem bem a conta de quanto fica cada emprego desses mega-investimentos  veriam que era mais barato mandar o triplo em férias vitalícias.
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De Dylan a 28.07.2010 às 11:54

Todos sabemos que as grandes superfícies comerciais foram os coveiros do pequeno e médio comércio a retalho, acho mesmo que o alargamento do horário dos hipermercados ao domingo vai dizimar o pouco que resta nos centros das grandes cidades e vilas. Com este apelo idiota ao consumismo, cospe-se no domingo e na vida familiar, aliás como já vinham fazendo algumas lojas com a complacência das autarquias. E se a desculpa for a criação de emprego, existem números que provam que o emprego no comércio estagnou, mesmo com a proliferação de centros comerciais onde todo o tipo de gente se pavoneia nos corredores mas pouco compra. Por isso, governo e câmaras deste país, para darem o exemplo, aguardo ansiosamente pela abertura dos serviços públicos aos domingos, flexibilizando os horários e turnos dos funcionários, claro...

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