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Ao voltar de um mês de férias fora de Portugal, pareceu-me que ninguém hoje percebe se o actual PSD é oposição, no sentido de apresentar alternativas às políticas do PS, ou se apenas espera a sua vez de chegar ao poder, para executar não se sabe que programa. A confusão é ajudada pelo apoio às medidas de austeridade com que o Governo tenta resolver os problemas que causou, pelo pouco que conseguiu em troca desse apoio (como é possível ainda se falar de terceira travessia do Tejo?), pelo pouco caso dado ao caso PT/TVI, por intervenções avulsas de dirigentes que depois não têm seguimento.
Bom exemplo deste último aspecto é o orçamento de base zero, anunciado por Passos Coelho. Uma boa ideia, mas que apareceu sem fundamentação nem continuidade. Numa sociedade inteligente (que nós não somos), uma crise com a gravidade da que vivemos seria aproveitada para medidas como essa, bem como para uma redefinição da presença do Estado na economia, empresa pública a empresa pública, instituto a instituto.
Mas nada disto interessa às pessoas ou a quem pensa política profissionalmente. O que interessa é que o PSD está à frente nas sondagens e que Passos Coelho já é visto como futuro primeiro-ministro. Nada portanto de desagradar ao futuro chefe, nem aos seus amigos, nada de perder oportunidades de obter favores junto a quem os poderá conceder a breve prazo.
E, na verdade, por muito mal que se pense do actual PSD, é quase impossível que sejam piores do que os socialistas que nos governam. Basta ver as últimas intervenções de Sócrates para perceber que ele não aprendeu nada com a crise, que irá teimar nos erros até à bancarrota e que esta só não virá porque felizmente em Bruxelas há quem lhe imponha as medidas necessárias. Aliás, teria sido nesse momento de confronto entre o que Sócrates prometeu na campanha eleitoral de Setembro passado e as medidas que tomou poucos meses depois, que o PSD deveria ter aproveitado o total descrédito dos socialistas para derrubar o Governo e provocar eleições antecipadas, não se deixando assustar por adamastores, estivessem eles nas agências de rating ou em Belém. Mas o PSD de hoje prefere deixar o País nesta eterna crise a poupar os portugueses de mais um ano ou dois de penúria sem saída. O que importa é que as sondagens estão bem, o partido “pacificado” perante a perspectiva do poder a breve prazo, que o líder tem boa imprensa e que as próximas eleições já estão no papo. Oxalá os portugueses, com a sua proverbial falta de memória política e vulnerabilidade às manipulações mediáticas, não se esqueçam então, na hora do voto, de quem é responsável pelo triste estado em que nos encontramos.
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