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A poucos metros da minha casa está uma mercearia que se estabeleceu no final dos anos sessenta no lugar onde deveria estar a garagem do prédio. Aberta por dois casais da província que até hoje se revezam mês a mês entre “a terra” e o negócio, esta obscura loja desde então jamais teve qualquer incremento ou renovação. À excepção do leite do dia e da fruta, da qual se aconselha desconfiar da condição, tudo lá dentro é sujo, caro e bafiento. A falta de alternativa a menos de um quilómetro de distância e principalmente a venda “a fiado” permitiu-lhes durante estes anos fidelizar uma freguesia certa mesmo com preços exorbitantes. Com o passar dos anos além doutras casas e prédios, mais comércio floresceu por ali e recentemente nasceu até um sofisticado Centro de Saúde da rede do ministério.
Acontece que por estes dias, do outro lado da praceta progridem imparáveis as obras dum moderno supermercado que comprometerá definitivamente as aspirações dos meus vizinhos merceeiros. Mas não se lhes nota qualquer apreensão ou ansiedade: as donas de casa e reformados continuam a ali parar, entre uma visita à tabacaria e ao café do lado, para dois dedos de conversa e um litro de azeite. E como ironia do destino estabeleceu-se uma cúmplice relação entre os donos do lugar e o pessoal das obras, quais condenados a conviver com os seus carrascos, que ao fim do dia ali se sentam nos caixotes da fruta a beber cervejas não sei se fiadas ou com algum desconto. Certo é que esta será uma das últimas cartadas destes modestos imigrantes de província: estagnados numa esquina da vida, trinta e tal anos chegaram conquistar uma velhice modesta e resignada. Desconfio que muito em breve voltarão para a terra cavar umas batatas e apanhar umas azeitonas a ver o sol poente.
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