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(No Jardim Lisboa Antiga...)
Lisboa não é, como realização urbanística, um obra merecedora de menção honrosa. Está, por isso, demasiado dependente dos «estados de alma» da natureza que a sustenta: o céu e a luz, as colinas, as árvores, o rio. Por isso, também, é volúvel como o tempo, produzindo tantos ou mais «extreme makeovers», quantas as estações do ano. No Verão, a sua face desidrata-se. Paira sobre ela uma poeira fina, que o calor arranca das calçadas, dos estaleiros das obras e das terras baldias para esbater as cores da vegetação, das casas e do panorama. É um Verão que sugere savanas e capins. Lisboa faz-se África - onde, aliás, lhe convém ir mantendo um pé. Mas no Outono, as brisas sacodem essa névoa de areias finas e de ondulações caniculares, e a atmosfera recupera a sua limpidez. Lisboa, contudo, entristece com o cair da folha: os verdes rarefazem-se e trazem para primeiro plano um casario envelhecido, sujo e sulcado de fendas, ou simplesmente desconexo. E nem a animação natalícia faz esquecer os riscos de que um dia a capital venha abaixo. Nalguns sítios, Alfama e Graça, já começou a vir. O Inverno é o Inverno: a minha estação favorita quando o sol brilha no ar lavado e frio. Mas o Inverno não favorece Lisboa, porque Lisboa não foi concebida para o Inverno. As imagens de desleixo e as incomodidades redobram, os dias, mesmo curtos, arrastam-se numa humidade pegajosa, que arrepia cabelos e nervos, e a própria tradição de temperança parece comprometida depois de um recente convívio com tornados. Felizmente, o Inverno traz consigo o anúncio da Primavera. E quando chega a Primavera, Lisboa renasce com tudo o que renasce nela. Os jardins, as flores nas sacadas das janelas e as áleas dos jacarandás, das tílias, dos plátanos, dos pinheiros, dos eucaliptos e dos lodãos escondem, num jogo de luzes e sombras, as fachadas carcomidas e as ruas esburacadas, emprestando-lhe um tom de saúde rija, uma frescura de alface realmente apetecível. Na Primavera, Lisboa apaixona-me. Razão por que em todas as Primaveras tenho a certeza – com uma força que me esquece de muitos desgostos… – de que Lisboa é a melhor cidade do mundo.
Cristina, porque a «beleza» de Lisboa está sobretudo no seu enquadramento paisagístico, de que as colinas são parte. Os grandes panoramas, obtidos dos seus pontos altos, são o que de melhor a cidade oferece. Como escreve Matos Sequeira, «aqui o grande arquitecto é a Natureza». :-)
Meu caro Não-sou-tão-optimista, faço notar que o meu optimismo se limita à Primavera – e ainda assim, quando não estou com a «febre dos fenos». ;-)
Cara Marquesa, a minha visão é parcial porque é a tal visão, de que alguém um dia aqui falou, do caçador de tesouros. Inicialmente, só via a parte horrível. Agora, procuro só ver a parte atractiva. Ainda assim, reconheço todas as dificuldades que refere e, por isso, só na Primavera sinto o verdadeiro encantamento. Não com a cidade – como atrás disse à Cristina – mas com a sua natureza. Ou talvez seja apenas o ambiente primaveril, a luz e a cor, que me contagiam.
P.S.: Este «post» foi alinhavado no Domingo em que não saí de casa e tinha presente uma longa e muito agradável caminhada na Sexta-Feira anterior. Mas não devia tê-lo publicado ontem, tem razão. Ontem, na rua, julguei que morria com o calor. Ontem, Lisboa estava na sua pior «fardeta» estival, seca, pulverulenta, asfixiante. :-)
Cara Marquesa, não pensei que se referisse à fotografia, mas antes a uma Lisboa que só é tolerável escondida atrás de um muro (como o da fotografia). ;-)
Mas o que o seu comentário sobretudo me sugeriu foi que chegava ligeiramente atrasada nos encómios à Lisboa primaveril, porque o dia esteve péssimo, com aquele calor assanhado que derrota a melhor das boas vontades. A coisa, felizmente, parece que não veio ainda para ficar… :-)
Ai, Pedro, que negativista! ;-)))))
Mas é verdade que às vezes também me sabe bem ter uma Portela por perto. Ontem, teria rumado à Antárctida em dois tempos, tivesse eu capitais e um iglu confortável à minha espera.A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.
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